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São Paulo, domingo, 20 de julho de 2003

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DESPORTOS AQUÁTICOS

País privilegia evento de nível técnico inferior e vê baixo rendimento dos atletas em Barcelona

Brasil esquece Mundial por frisson do Pan

GUILHERME ROSEGUINI
DA REPORTAGEM LOCAL

O resto do planeta viajou à Barcelona esmerado em disputar a competição mais importante da temporada. O Brasil pensou diferente: resolveu encarar o Mundial de Desportos Aquáticos apenas como um treinamento de luxo.
Com o pensamento focado no Pan-Americano de Santo Domingo, programado para agosto, o contingente recorde de 84 atletas que foi à Espanha não obteve nenhum resultado expressivo nos sete primeiros dias de disputas.
E a partir de hoje, quando o Palau Sant Jordi passa a abrigar o principal chamariz do evento -as provas de natação-, as perspectivas de alteração nesse cenário seguem inalteradas.
"Todo o treinamento foi programado para que os atletas chegassem ao auge na República Dominicana", contou Ricardo Moura, chefe da natação brasileira.
O argumento é uniforme e permeia o discurso dos dirigentes de todas as modalidades aquáticas do Brasil: no Pan, os brasileiros têm muito mais visibilidade e recebem mais espaço na mídia.
Apesar de registrar um nível técnico muito mais apurado e valer como seletiva para a Olimpíada de Atenas-2004, o Mundial, segundo os técnicos do Brasil, não recebe a mesma atenção de patrocinadores e da população.
"Não vejo problema em privilegiar o Pan. É um torneio bastante competitivo e todos vão acompanhar nosso trabalho mais de perto", disse Alice Kholer, que coordena os saltos ornamentais.
Ela viu seus comandados alcançarem bons resultados nos eventos internacionais de preparação para o Mundial. Na final do Grand Prix, por exemplo, Juliana Veloso terminou com a segunda colocação na plataforma. Em Barcelona, porém, ninguém chegou a lutar diretamente pelo pódio.
"Nos aprimoramos e agora sei que temos chances reais de ganhar a primeira medalha dos saltos ornamentais brasileiros no próximo Pan", disse Kholer.
Caminho semelhante seguiu a natação sincronizada. A categoria disputou torneios preparatórios na Europa, mas não emplacou nenhuma competidora em finais na Espanha. "É um esporte cujo critério de avaliação é muito subjetivo. Precisamos aparecer para o mundo, ganhar tradição, e só depois pensarmos em melhores resultados. Dá pra dizer, porém, que somos candidatos ao pódio no Pan", disse Sônia Hercowitz, que coordena a modalidade.
O pólo aquático masculino também sucumbiu logo de cara. Foram três derrotas em três jogos e eliminação incontestável. No feminino, o time chegou a bater a Grã-Bretanha, mas caiu diante de Canadá, Austrália e Rússia.
As duas seleções também fizeram treinamento diferenciado. Os homens jogaram a Liga Mundial e disputaram amistosos na Argentina, enquanto as mulheres treinaram com a seleção italiana.
Para custear a preparação dos competidores, a Confederação Brasileira de Desportos Aquáticos conta com duas fontes de renda. Recebe um patrocínio anual dos Correios de R$ 5 milhões e um montante da Lei Piva, que corresponde, em 2003, a R$ 1,4 milhão.
Modalidade aquática em que o país tem mais tradição, a natação não pode ostentar o estigma de "salvadora da pátria" no Mundial.
Com um time renovado, o único resquício de esperança em medalhas está no revezamento 4 x 100 m livre, bronze nos Jogos de Sydney, que cai na água hoje.
"Vamos fazer tudo para colocar o Brasil nas finais, embora todo mundo aqui esteja treinando para dar seus melhores resultados no Pan-Americano", contou Fernando Scherer, que nada hoje também os 50 m borboleta.
O Brasil não sobe ao pódio em Mundiais desde 1994, quando Gustavo Borges abocanhou um bronze nos 100 m livre no evento disputado em Roma (ITA). No mesmo torneio, o elenco masculino do 4 x 100 m livre também alcançou o terceiro lugar.


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