São Paulo, sexta-feira, 20 de julho de 2007

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AURÉLIO MIGUEL
ESPECIAL PARA A FOLHA

Judô dos novos tempos

Ao lado de natação, ginástica, atletismo e vôlei, a modalidade é uma das exceções positivas no Brasil

O JUDÔ brasileiro fez ontem sua estréia no Rio da forma como se esperava: subindo ao pódio. A experiente peso-pesado Priscila Marques repetiu o bronze de Winnipeg-99. Já o promissor João Gabriel Schlittler, pesado de 22 anos, foi à final de seu primeiro Pan e terminou com a prata.
Nos dois casos, os algozes foram cubanos. O confronto entre Cuba e Brasil deverá marcar a competição, com previsão de melhores resultados para o nosso judô.
Durante um longo período, o judô do país viveu majoritariamente do esforço, do talento e do brio de seus atletas. Convivendo com o que havia de pior da cartolagem nacional, os atletas de várias gerações construíram uma história rica em vitórias. Não foram raros os confrontos com dirigentes. E foram muitas conquistas.
Hoje, as condições são outras. Prova disso é a excelente estrutura que a confederação montou no Rio. A modalidade cresceu para outros Estados a partir de São Paulo. Mas o judô é exemplo positivo e uma das exceções do esporte do Brasil, ao lado de natação, ginástica, vôlei e atletismo.
A atividade esportiva no Brasil sofre com a falta de planejamento e continuidade dos investimentos. É uma realidade histórica. Apenas às vésperas de competições importantes é que os olhos das autoridades -mídia inclusa- se voltam para os atletas. O mérito das conquistas é quase que exclusivo dos competidores. No caso do Pan-07, essa situação crítica foi amenizada por sediarmos o evento.
Não foi à toa que Diogo Silva, ouro no taekwondo, aproveitou um momento de glória para registrar suas denúncias. Coerente, aliás, com o seu gesto em Atenas-04, quando disputou o bronze e usou uma luva negra em protesto.
As instalações erguidas no Rio, a organização e as reformas feitas credenciam o Brasil a receber a Copa e a Olimpíada. Mas o tratamento dado às verdadeiras estrelas desses eventos ainda mantém os atletas brasileiros distantes de uma performance digna das suas potencialidades.
Fatos como os atrasos de salários do Diogo Silva, os raros intercâmbios, o autoritarismo de dirigentes e seu apego ao poder retardam o progresso do esporte no Brasil. Tudo, é claro, acompanhado pela falta de políticas públicas para o esporte e a timidez com que empresários fazem planos a longo prazo nessa área.


AURÉLIO MIGUEL , 43, ex-judoca, foi ouro na Olimpíada de Seul-88 e é vereador do PR em São Paulo


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