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AURÉLIO MIGUEL
ESPECIAL PARA A FOLHA
Judô dos novos tempos
Ao lado de natação, ginástica, atletismo e vôlei, a modalidade
é uma das exceções positivas no Brasil
O JUDÔ brasileiro fez
ontem sua estréia
no Rio da forma como se esperava: subindo ao
pódio. A experiente peso-pesado Priscila Marques
repetiu o bronze de Winnipeg-99. Já o promissor
João Gabriel Schlittler, pesado de 22 anos, foi à final
de seu primeiro Pan e terminou com a prata.
Nos dois casos, os algozes
foram cubanos. O confronto entre Cuba e Brasil
deverá marcar a competição, com previsão de melhores resultados para o
nosso judô.
Durante um longo período, o judô do país viveu majoritariamente do esforço,
do talento e do brio de seus
atletas. Convivendo com o
que havia de pior da cartolagem nacional, os atletas
de várias gerações construíram uma história rica
em vitórias. Não foram raros os confrontos com dirigentes. E foram muitas
conquistas.
Hoje, as condições são
outras. Prova disso é a excelente estrutura que a
confederação montou no
Rio. A modalidade cresceu
para outros Estados a partir de São Paulo. Mas o judô
é exemplo positivo e uma
das exceções do esporte do
Brasil, ao lado de natação,
ginástica, vôlei e atletismo.
A atividade esportiva no
Brasil sofre com a falta de
planejamento e continuidade dos investimentos. É
uma realidade histórica.
Apenas às vésperas de
competições importantes é
que os olhos das autoridades -mídia inclusa- se
voltam para os atletas. O
mérito das conquistas é
quase que exclusivo dos
competidores. No caso do
Pan-07, essa situação crítica foi amenizada por sediarmos o evento.
Não foi à toa que Diogo
Silva, ouro no taekwondo,
aproveitou um momento
de glória para registrar
suas denúncias. Coerente,
aliás, com o seu gesto em
Atenas-04, quando disputou o bronze e usou uma
luva negra em protesto.
As instalações erguidas
no Rio, a organização e as
reformas feitas credenciam o Brasil a receber a
Copa e a Olimpíada. Mas o
tratamento dado às verdadeiras estrelas desses eventos ainda mantém os atletas brasileiros distantes de
uma performance digna
das suas potencialidades.
Fatos como os atrasos de
salários do Diogo Silva, os
raros intercâmbios, o autoritarismo de dirigentes e
seu apego ao poder retardam o progresso do esporte no Brasil. Tudo, é claro,
acompanhado pela falta de
políticas públicas para o esporte e a timidez com que
empresários fazem planos
a longo prazo nessa área.
AURÉLIO MIGUEL , 43, ex-judoca,
foi ouro na Olimpíada de Seul-88 e
é vereador do PR em São Paulo
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