São Paulo, domingo, 20 de julho de 2008

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"Deixei minha casa aos 6 anos"

Ex-atleta de ponta chinês narra como seu jogo foi aprimorado em centros de treinamentos estatais

Wei Jianren diz que não há queixas contra o modelo de trabalho e que o tênis de mesa é encarado como esporte coletivo na China


DA REPORTAGEM LOCAL

O dono da idéia de forjar mesa-tenistas brasileiros na China não estranha o conceito de separar crianças da família e colocá-las numa realidade desconhecida. Talvez por ter vivido justamente isso há meio século.
"Aos seis anos, fui separado da família. E foi assim para o resto da vida. Voltava uma vez por ano, uma semana", conta Wei Jianren, 55, coordenador técnico da seleção brasileira.
Ele primeiro foi recrutado por um centro de treinamento municipal e, conforme evoluía no tênis de mesa, passou ao CT da Província, depois para o da equipe nacional. Nas três esferas, sua rotina saía pouco do binômio treinos e estudo -praticamente o mesmo modelo a ser seguido pelas crianças brasileiras que a CBTM quer mandar para a China neste ano.
"Quem começa na China com seis anos já é meio profissional nos CTs", resume o técnico, enfatizando não haver indisciplina contra o modelo, que estipula entre 5 e 6 horas diárias de treino (físico e técnico).
"Quem entra nisso é muito feliz. São muitas pessoas disputando essa vaga. Quem consegue entrar, segue 1.000% as regras. São poucas as chances para cada um, e na China tem um monte de jogadores bons."
Uma das formas de enfrentar as dificuldades, narra Wei, é por meio da união com os colegas de treinos. "Os atletas têm muita ajuda do governo. Até a cueca vem com ajuda do governo. Assim, eles vivem juntos, dormem juntos, comem juntos, estudam juntos e treinam sempre juntos. Todo mundo vive essa rotina, então é mais fácil se acostumar. Mesmo para quem treina mais longe de casa e nem sequer consegue passar uma semana na terra natal."
Essa vida em coletividade traz reflexos também no estilo chinês de treino, explica Wei.
O fato de a China ter uma quantidade enorme de praticantes de alto nível possibilita forjar sparrings altamente especializados para o treinamento dos principais nomes.
"A seleção nacional tem mais de 50 pessoas para treinar cinco. Há parceiros especialistas em ajuda em treino: um tem estilo europeu, meninos especialistas em treinar com garotas para que elas melhorem...", diz Wei, antes de explicar por que o sistema não induz a uma fogueira de vaidades.
"Para o chinês, o tênis de mesa não é particular. Quem é da seleção representa o país, então tem que ajudar o país. Quem não tem chance de ser o atleta olímpico, faz sua parte nos treinos. Quando um jogador é campeão, ele sabe que abaixo dele há um monte de pessoas. Ele não sente "eu ganhei", mas que o país conseguiu o troféu. É um feito coletivo. Mais importante é a equipe.
(LUÍS FERRARI)



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