São Paulo, domingo, 20 de julho de 2008

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JUCA KFOURI

Quero o meu basquete de volta


O basquete brasileiro, que já foi bicampeão mundial, é hoje menos que uma lembrança. É uma vergonha


NÃO SOU saudosista. Meu pai era. Adorava dizer que futebol bom era o dos tempos dele, de Friedenreich, Filó, De Maria, Leônidas da Silva, Fausto. Eu retrucava. Futebol bom é o dos meus tempos, tricampeão mundial, com Nilton Santos, Didi, Pelé, Mané, Tostão, Rivelino, Gérson. Ele ria e concordava. Até porque eram também os tempos dele. Como são meus os tempos atuais, e de meus filhos, dos Ronaldos, de Romário, Careca, Sócrates, Zico, Falcão, Rivaldo. Sim, nada me divertiu mais que Pelé&Cia, embora eu também me divirta, e muito, com Kaká&Cia, quando jogam bem. Por isso jamais um filho meu ouviu de minha boca a frase que tantas vezes ouvi da boca do velho: "Futebol bom era o do meu tempo". Infelizmente não posso dizer o mesmo sobre o basquete. Ou melhor, infelizmente tenho de dizer o mesmo sobre o basquete: "Basquete bom era o do meu tempo". E sem a menor dúvida. Tempos de Amaury Pasos (com um "s" só, pelamordedeus), Wlamir Marques, Rosa Branca, Édson Bispo dos Santos, Ubiratã... Tempos em que a seleção brasileira era bicampeã mundial, em 1959/ 63, primeiro no Chile, sem, é verdade, a seleção da União Soviética, e, depois, no Brasil, com todos. Sim, é verdade também que os EUA jamais mandavam seus melhores jogadores, mas pode-se argumentar que a Inglaterra também nem se fez representar nas Copas do Mundo de futebol em 1930/34/38, certa de sua superioridade, e que, quando se dignou a participar de uma Copa, em 1950, foi eliminada logo de cara, e pelos EUA. Quando aquela geração acabou era quase impossível manter a qualidade, mas, mesmo assim, os que vieram a seguir não decepcionaram, ao contrário, porque a turma de Marcel&Oscar também era muito boa, para não falar de Hortência&Paula. Hoje, no masculino, não existe mais nada, nem a bela coluna que Melchiades Filho assinava neste caderno. O basquete perdeu para o vôlei e para a política, literalmente aliás, porque lá foi o Melk dirigir a sucursal em Brasília. Sim, a garotada alta, talentosa com uma bola, não titubeia em optar pelo vôlei e não mais pelo basquete, provavelmente sob os auspícios cúmplices do COB, que também prefere, dadas as origens de seu principal cartola, o vôlei. E enquanto o vôlei anda cheio de graça, nosso basquete convive com o pior presente de grego que o ex-segundo esporte mais popular do país poderia receber. Magic Paula me contou que dia desses se encontrou com Bernardinho e ele disse que adoraria dirigir o time de basquete masculino do Brasil, porque acha o potencial enorme e o trabalho, malfeito. Seria mesmo uma dádiva se, ao voltar da China, Bernardinho resolvesse assumir o desafio, com vistas a, enfim, ter basquete masculino brasileiro em Londres, nos Jogos Olímpicos de 2012, porque em Pequim, como em Sydney e Atenas, amargamos o vexame de ver o torneio pela TV. Grego nem liga. Tem certeza de que em 2016, no Rio(?!), seu time será o lanterna, mas estará lá...

blogdojuca@uol.com.br


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