São Paulo, domingo, 20 de agosto de 2006

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JUCA KFOURI

Entre a tristeza e a felicidade

Faz sentido o são-paulino estar infeliz e o corintiano estar feliz? Não. Um está triste, e o outro, alegre

O TORCEDOR do São Paulo tem por que estar triste. Perder um tetracampeonato, e a chance de tentar outro, não é pouco. Mas o são-paulino não tem nenhum direito de estar infeliz.
A derrota/empate no Beira-Rio foi daquelas que o verdadeiro esportista aceita, cumprimenta o adversário vitorioso e segue na vida, em busca de mais vitórias. Ao contrário do que vimos acontecer com a seleção brasileira na Copa do Mundo da Alemanha, o São Paulo perdeu o título da Taça Libertadores com honra.
E para um Internacional que lhe foi claramente superior no primeiro jogo, no Morumbi. E com duas arbitragens acima de quaisquer suspeitas.
Derrota doída, é claro, porque a vitória rondou a casa tricolor diversas vezes. Derrota cruel, porque com falha do maior ídolo e maior responsável pelas últimas conquistas.
Mas tão digna que mesmo no infortúnio não viu nenhum filho fugir à luta, nem mesmo alinhavar uma desculpa esfarrapada como é tão peculiar entre nós, porque Rogério Ceni admitiu o erro e chamou para si, até com um certo exagero, toda a responsabilidade.
Trata-se, agora, de dar novo rumo às coisas e encarar o Brasileirão como o caminho da redenção. Porque a fortuna que, fazia tempo, pairava sobre nosso único tricampeão mundial, com tudo dando certo até com requinte, resolveu abandoná-lo, tamanha a seqüência de desastres que se acumularam por lá nos últimos dias, um deles, e só este, terrível, irreparável.
O jogo no Mineirão contra o Cruzeiro, nesta tarde, pode ser o do recomeço. Já o corintiano tem motivo para estar alegre, mas nenhuma razão para estar feliz.
Alegre com a vitória sobre o Fluminense no Maracanã e com a chegada de Leão, a quem se atribui poderes miraculosos. Mas não pode estar feliz com a vice-lanterna nem tem muito motivo para otimismo.
Porque não só a situação interna permanece de guerra surda como, também, dificilmente se verá aquele Leão que viveu seus melhores momentos como treinador no Santos dos meninos Robinho, Diego e companhia, quando aprendeu a não ter medo da felicidade.
Tanto que nem mesmo entre os que o contrataram há quem acredite que ele dure mais do que seis meses no Parque São Jorge.
Melhor do que ninguém Leão conhece seu temperamento -e tem dificuldade para domá-lo. A ponto de no São Paulo ser voz corrente que houve dois momentos de intensa alegria no primeiro semestre do ano passado: quando o time foi campeão paulista, com Leão à frente, e quando o técnico pediu demissão e foi para o Japão.
Finalmente, para ficar no chamado Trio de Ferro, o palmeirense tinha motivos para estar alegre e feliz até empatar com o Juventude, pelo melhor desempenho entre os 20 participantes do Brasileiro desde o término da Copa na Alemanha. E começava a sonhar com mais do que apenas não cair.
Felicidade que pode voltar se o time conseguir hoje, no Beira-Rio, um bom resultado diante do Inter, muito provavelmente de ressaca. Porque se não bastasse o fato de Tite ter encontrado as rédeas para levar o Palmeiras na direção que merece, não é ele um profundo conhecedor dos segredos gaúchos?
Tristeza, infelicidade, alegria, felicidade. Tudo tão frágil, tudo tão passageiro, bolhas de sabão. Menos para a orgulhosa torcida colorada, que tem motivos de sobras para curtir o título conquistado por muito tempo, meses e meses, até dezembro, quando chegar ao Japão para a disputa do Mundial.


blogdojuca@uol.com.br

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