São Paulo, Segunda-feira, 20 de Setembro de 1999
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São Paulo ganha o jogo, mas perde o patrocínio



Diretoria do clube já começou a procurar um substituto para a Cirio, cujo contrato acaba em julho do próximo ano

ALEXANDRE GIMENEZ
FERNANDO MELLO

da Reportagem Local

O São Paulo venceu. Aproximou-se do líder Corinthians no Campeonato Brasileiro e manteve 100% de aproveitamento em jogos em seu estádio. Mesmo assim, o torcedor da equipe -que ontem acompanhou a sua equipe superar o Juventude por 2 a 0, no Morumbi- tem motivos para começar a se preocupar com o futuro de seu time.
A Folha apurou que a Cirio não irá fazer valer a opção que tem para renovar o contrato de patrocínio com o São Paulo, que termina em julho do próximo ano. Para piorar, a diretoria do clube ainda resiste a assinar um contrato de co-gestão, como já fizeram Palmeiras e Corinthians, para garantir a injeção de novos recursos para o futebol profissional do clube.
Segundo um membro da atual diretoria são-paulina, o departamento de marketing do clube já está mantendo reuniões com empresas multinacionais para achar um substituto para o lugar da Cirio. ""Eles já disseram que não irão continuar (com o patrocínio), pois não estão alcançando os resultados esperados", disse um dirigente são-paulino, que preferiu não se identificar.
Mensalmente, a Cirio paga US$ 350 mil para estampar o seu logotipo na camisa do São Paulo. Esse valor corresponde a 23,3% dos custos mensais do departamento de futebol profissional do clube, estimados em US$ 1,5 milhão.
A Folha procurou ontem Mario de Fiore, diretor de relações institucionais da Cirio, em seu telefone celular (que estava desligado). O empresário não respondeu os recados da reportagem.
A Cirio -que pertence ao grupo italiano Cragnotti & Partners, dono da Lazio- patrocina o São Paulo desde agosto de 98. No primeiro ano da parceria, a empresa italiana preferiu colocar na camisa são-paulina o logotipo da Bom Bril, marca de esponja de aço que pertence ao grupo.

Problemas
O contrato com a Cirio começou de forma muito promissora para a diretoria do São Paulo.
Depois de ter enfrentado problemas com seus três últimos parceiros (IBF, TAM e Data Control), o novo compromisso mantinha o total controle do departamento de futebol e até abria a possibilidade de um intercâmbio de jogadores com a Lazio.
Os atritos entre a Cirio e o São Paulo começaram no segundo semestre do ano passado. Com o São Paulo fazendo uma péssima campanha no Brasileiro-98, a empresa temeu pelo prejuízo de sua imagem no Brasil.
Para ajudar o clube a ""sair da crise", a Cirio promoveu palestras para os atletas e chegou a oferecer três jogadores da Lazio: o volante Marcolin e os meias Rambaldi e Okon. A proposta foi ironizada por alguns diretores são-paulinos, que perguntaram as razões da Cirio em não oferecer ao São Paulo o atacante chileno Salas.
A crise cambial de janeiro detonou o segundo grande problema entre São Paulo e Cirio, já que o valor da cota de patrocínio entre o clube e a empresa é indexado em dólar. A Cirio chegou a não pagar as parcelas do compromisso para forçar o clube a fixar um teto para a moeda norte-americana.
Outro ponto de atrito foi na venda do lateral-esquerdo Serginho para o Milan. No contrato de patrocínio, a Lazio tem a preferência para contratar jogadores do São Paulo. Com o medo de reforçar um rival do time romano no Italiano, a Cirio tentou ao máximo atrasar a negociação.
Ironicamente, o Milan -ainda sem Serginho- venceu a última temporada do Italiano com um ponto de vantagem sobre a Lazio.

Parceiros antigos
Com a IBF (Indústria Brasileira de Formulários), o São Paulo teve problemas de inadimplência. A empresa, que foi acusada de manter ligações com Paulo César Farias (tesoureiro da campanha do ex-presidente Fernando Collor), passou a ter problemas financeiros quando o esquema de corrupção de Farias foi desmantelado.
Com a TAM o problema foi diferente. A empresa aérea, muito interessada em investir no futebol profissional, tentou influenciar as decisões esportivas no clube. Também brigou para ver seu logotipo nas placas do centro de treinamento do São Paulo, sem custo extra. Com os atritos, a empresa deixou o clube.
Com dificuldades de encontrar um novo parceiro, o São Paulo ficou cerca de cinco meses jogando com o logotipo da TAM em sua camisa sem receber nada por isso.
A Data Control, o parceiro seguinte do São Paulo, não durou muito. No meio de acusação de calote, das duas partes, o contrato de patrocínio foi rompido seis meses depois de sua assinatura.


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