São Paulo, domingo, 20 de setembro de 1998

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SURFE
País pode ficar, pela primeira vez na década, sem um representante entre os top 16 da 1ª divisão do esporte
Brasil está perto de deixar elite mundial

JOÃO CARLOS BOTELHO
da Reportagem Local

Faltando apenas duas etapas para o final do WCT (World Championship Tour) de 98, a primeira divisão do surfe mundial, o Brasil está perto de ficar pela primeira vez na década sem representante entre os top 16, a elite do esporte.
No ranking atual, que computa as nove etapas já realizadas, o melhor brasileiro é o paranaense Peterson Rosa, na 20ª colocação.
Um total de 2.200 pontos ainda será distribuído nos dois campeonatos que restam -Kaiser Summer Surf, de 14 a 18 de outubro, no Rio, e Mountain Dew Pipe Masters, de 8 a 20 de dezembro, no Havaí (EUA).
A classificação final, então, ainda pode ser bastante alterada. Mas, pelo menos nos últimos três anos, o brasileiro que vinha como melhor colocado não conseguiu subir mais de uma posição no ranking nas duas etapas finais.
Em 97, por exemplo, o catarinense Neco Padaratz, que era sétimo até o penúltimo evento, acabou o ano na 13ª colocação. O próprio Peterson, que estava em 18º, terminou na mesma posição.
Para este ano, o paranaense acha que suas chances serão definidas na etapa brasileira do WCT. "Costumo ir bem no Rio", diz.
Terminar entre os top 16 significa ganhar o direito de ser cabeça-de-chave nas definições das baterias iniciais de todos os campeonatos do próximo Mundial.
Desde 91, quando o paraibano Fábio Gouveia foi o 13º, o surfe brasileiro tem assegurado pelo menos um representante entre os top 16, a elite do esporte.
A melhor performance foi em 94, quando quatro surfistas do país terminaram entre os 16 melhores -Flávio Padaratz (8º), Jojó de Olivença (11º), Fábio Gouveia (12º) e Victor Ribas (15º).
A pior atuação brasileira aconteceu no ano retrasado, quando Jojó de Olivença ficou com a última vaga entre os top 16.
Já o que conseguiu a melhor colocação final foi Fábio Gouveia, que terminou como quinto em 92.
Para Gouveia, um dos três primeiros brasileiros a disputar o WCT, a "equipe" nacional está passando por uma fase ruim, o que considera normal.
"Ainda tivemos duas baixas importantes", afirma, referindo-se a Neco Padaratz e Fábio Silva, que desistiram da disputa. Segundo Gouveia, não falta renovação. "Os brasileiros estão na média de idade do circuito", diz.
O surfista paraibano, Flávio Padaratz e Piu Pereira fizeram a estréia nacional no WCT, em 1988.
Após nove anos na divisão principal, Gouveia viu-se obrigado pela primeira vez, em 96, a ter de disputar o WQS (World Qualifying Series), o circuito de acesso.
Sem conseguir no ano passado voltar ao WCT, ele vai garantindo nesta temporada seu retorno, com a liderança da segunda divisão.
Na disputa para não ser rebaixado para o WQS, estão cinco dos seis brasileiros no WCT.
Desses cinco, o que aparece na melhor posição é Renan Rocha, com a 28ª e última vaga reservada aos participantes da primeira divisão no Mundial de 99.
Guilherme Herdy (35º), Victor Ribas (37º), Jojó de Olivença (38º) e Armando Daltro (40º) estariam rebaixados pelo circuito principal.
Dos quatro, Ribas e Herdy são os únicos que vão garantindo vagas pelo ranking de acesso.
O diretor-executivo da Abrasp (Associação Brasileira de Surfe Profissional), Roberto Perdigão, também avalia como ruim a fase da "equipe" nacional no WCT.
Mas, para ele, "os surfistas são os que tem menor parcela de culpa". Perdigão cobra um maior envolvimento dos patrocinadores nas carreiras dos atletas, "que ficam entregues a própria sorte".
"O patrocinador não acompanha o atleta fora do país", afirma. Perdigão também cita o fato de que nenhum brasileiro viaja acompanhado de técnico ou preparador físico, o que ocorre com cerca da metade dos estrangeiros no circuito.
Ele diz faltar consciência aos patrocinadores, "alheios aos benefícios das boas performances".



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