UOL


São Paulo, quinta-feira, 20 de novembro de 2003

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

REMENDO

Com arquibancada provisória, Pinheirão desacata resolução da entidade máxima da bola

"Obra-modelo" despreza normas da Fifa

DO ENVIADO A CURITIBA

Os organizadores de Brasil 3 x 3 Uruguai correram para aprontar o estádio e tentar atender às exigências previstas pelo Estatuto do Torcedor, como numeração das arquibancadas, monitoramento eletrônico das catracas e acesso para portadores de deficiência física. As normas da Fifa, no entanto, foram desprezadas.
A Federação Paranaense de Futebol montou um setor com estrutura metálica provisória para abrigar 1.300 torcedores no Pinheirão. Os interessados pelas entradas, vendidas com antecedência, pagaram R$ 300, que davam direito, além do jogo, a um serviço de buffet e elevador.
Uma resolução de outubro de 1994 da Fifa baixa várias regras para o uso desses tipos de arquibancadas, que chegaram inclusive a serem banidas entre 92 e 94.
Um dos principais pontos da resolução apontava a exigência de uma autorização especial da Fifa para a utilização das chamadas "arquibancadas temporárias" em cada jogo internacional.
"Temos autorização do Corpo de Bombeiros e do Crea [Conselho Regional de Engenharia]", disse Onaireves Moura, o presidente da federação, que conseguiu com Ricardo Teixeira que o jogo fosse no Pinheirão e não na Arena da Baixada -o primeiro pertence à própria federação, o segundo, ao Atlético-PR.
Moura, no entanto, admite não ter feito contato algum com a Fifa para a edificação da estrutura, montada especialmente para a partida de ontem.
Na Europa, a Fifa vem sendo implacável com a questão. A Irlanda, por exemplo, recebeu a ordem de remover 14 mil lugares em arquibancadas provisórias.
Dessa forma, já que o principal campo do país ficou pequeno, existe a possibilidade de mandar seus jogos nas eliminatórias para a Copa na Inglaterra.
Recentemente, Joseph Blatter, o presidente da Fifa, lamentou que alguns países não respeitem as normas de segurança nos estádios impostas pela entidade.
"Há evidências de que as lições que já tivemos não foram aprendidas por todos os lugares", disse o cartola, lembrando da ocorrência de casos na Europa e África.
Um dos mais famosos aconteceu na França. Em 1992, numa semifinal da Copa da França, uma arquibancada metálica ruiu no jogo entre Bastia e Olympique, matando 19 pessoas e ferindo uma centena.
A estrutura metálica no Pinheirão foi montada, segundo a empresa responsável pelas obras, em tempo recorde.
"Tivemos apenas 30 dias corridos para a obra", afirmou Júlio César Mouro Moreira, diretor comercial da Orpec.
Segundo Moreira, a edificação, além das autorizações dos bombeiros e do Crea, tem o aval de Ricardo Teixeira e do governador do Paraná, Roberto Requião, que é do PMDB.
Os dois participaram de um teste. Antes de dar velocidade total à obra, a Orpec fez um camarote único e convidou Teixeira e Requião para que pudessem comprovar o conforto e a segurança das instalações.
Porém, apesar de ter dito à Folha que o Pinheirão ficaria pronto para a partida de ontem com mais de 30 dias de antecedência, Moura viu que as coisas não foram bem assim. À tarde, o dirigente acompanhava um ritmo ainda alucinante de obras no estádio, inclusive nas estruturas metálicas.
"Fizemos nosso cronograma levando em conta o fluxo de caixa", afirmou o dirigente, que lamentou muito a falta de dinheiro para tocar as reformas em ritmo acelerado.
Não será com a bilheteria do jogo, de R$ 1.603.655, que o Pinheirão ficará mais moderno. Do total da renda líquida, apenas 10% ficará com os paranaenses -o resto vai para os cofres da CBF, que tem em Onaireves Moura um de seus principais aliados. (PC)


Texto Anterior: Frase
Próximo Texto: O que ver na TV
Índice


UOL
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.