São Paulo, sábado, 20 de novembro de 2004

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

FUTEBOL

Com base em laudos e exames de Serginho, delegado irá indiciar dirigente e médico do time e talvez também o técnico

Inquérito culpa São Caetano por tragédia

KLEBER TOMAZ
PAULO GALDIERI
DA REPORTAGEM LOCAL

Com base no prontuário médico com os laudos e exames do zagueiro Serginho feitos entre fevereiro e junho pelo Incor (Instituto do Coração do Hospital das Clínicas da USP), o delegado Guaracy Moreira Filho, titular do 34º Distrito Policial, irá indiciar o presidente do São Caetano, Nairo de Souza, e o médico do clube, Paulo Forte pela morte do jogador.
O técnico Péricles Chamusca será convocado a depor e também pode ser responsabilizado por ter escalado o jogador -que atuou 47 vezes após o clube ser informado pelo Incor de que ele tinha cardiomiopatia hipertrófica assimétrica (doença na qual o coração incha) e que corria risco de morte caso continuasse a jogar futebol.
"A responsabilidade do São Caetano é cristalina", disse Guaracy, que aponta Nairo e Forte como "garantidores" de Serginho, morto no dia 27 de outubro, após sofrer parada cardiorrespiratória no gramado do Morumbi.
Para o delegado, existe a possibilidade de o presidente e o médico do São Caetano serem indiciados por homicídio doloso (com intenção de matar). A pena para esse tipo de crime varia entre seis e 20 anos de prisão. No caso de homicídio culposo (sem intenção), a pena é de um e três anos.
"Pela análise do prontuário e pelo o que foi dito pelas testemunhas, eles [Nairo e Forte] sabiam do perigo que corria Serginho. Por isso, serão indiciados por homicídio", disse Guaracy.
Outra tese que corrobora o indiciamento dos dois é o fato de o goleiro Silvio Luiz ter afirmado ainda no gramado do Morumbi que seu companheiro de time tinha problema no coração.
"Se os jogadores sabiam disso, por que o médico e o presidente não iriam saber?", disse Guaracy, que irá convocar Nairo e Forte para prestarem novo depoimento.
No primeiro depoimento à Polícia, Nairo e Forte declararam que Serginho tinha uma arritmia leve, e que o clube não recebeu do Incor nenhum documento que impedia Serginho de jogar.
Em depoimento prestado ontem à Polícia, Edimar Bocchi, cardiologista do Incor, contesta a versão acima, e afirma que Forte e Serginho foram alertados de que a atividade do zagueiro era incompatível com sua saúde.
Mais de 50 pessoas, dentre as quais a mulher de Serginho, Helaine (que afirmou desconhecer que o marido estava doente), já foram ouvidas no inquérito que investiga se houve imprudência na escalação ou negligência no atendimento de Serginho.
Apesar disso, sua conclusão depende de mais oitivas e do laudo detalhado do SVO (Serviço de Verificação de Óbito), ao qual a Folha teve acesso e dá conta de que Serginho morreu de edema pulmonar e hipertrofia miocárdica (engrossamento das fibras do músculo do coração).
Concluído, o inquérito seguirá então para o Ministério Público, que poderá acolher a denúncia e pedir novas provas ou ainda arquivar o caso.


Texto Anterior: Flu tem volta de goleiro
Próximo Texto: Tribunal separa caso criminal do desportivo
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.