São Paulo, domingo, 20 de novembro de 2005

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FUTEBOL

Decisões pelo Brasil

TOSTÃO
COLUNISTA DA FOLHA

Se vencer hoje, o Corinthians só não será campeão pela matemática.
Apesar da longa viagem, Tevez só jogou os minutos finais do amistoso entre Argentina e Qatar. Cansado ou não, o menino pobre do bairro Fuerte Apache aprendeu a sonhar e a lutar pela bola e pela vida. Parafraseando Neném Prancha, filósofo do futebol, Tevez joga como se corresse atrás de um prato de comida.
Após a contratação do Antônio Lopes, o Corinthians melhorou a defesa sem prejudicar o ataque. Com Márcio, a equipe também atuava com um volante-zagueiro. Porém marcava mais à frente e, quando perdia a bola, deixava grandes espaços na defesa para o contra-ataque.
Com Antônio Lopes, o time marca mais atrás, diminui os espaços na defesa e utiliza mais o contra-ataque.
O Internacional é uma equipe bastante organizada. Votarei no Muricy Ramalho para melhor treinador do campeonato, a não ser que ele faça grandes besteiras na reta final.
Além de suas qualidades técnicas, Muricy é sincero, não tem pose, não bajula a mídia mais poderosa nem abandona o barco durante a competição por um pouco mais de dinheiro. Só não gosto quando ele fica excessivamente irritado durante o jogo.
Todo treinador deveria ter o direito de ficar em pé na lateral durante toda a partida, desde que não perturbe o árbitro, os auxiliares e os jogadores. Se ficar tranqüilo, o técnico terá mais condições de observar e de corrigir os erros.
Contra o Brasiliense e em poucos jogos, o Inter atuou com dois zagueiros. Hoje deve voltar aos três para marcar Tevez e Nilmar. Jorge Wagner, que está contundido, vai fazer falta. Ele é importante, pois é excelente nas bolas paradas e nos cruzamentos. Às vezes, o Inter excede no jogo aéreo para o Fernandão.
Jorge Wagner não precisou se adaptar à função de ala, já que ele sempre jogou de meia, no esquema com dois volantes e um meia de cada lado. É quase a mesma posição e função do ala.
O maior problema do time que atua com três zagueiros está na defesa. Ficam grandes espaços nas costas dos alas, e os zagueiros chegam com freqüência atrasados. Além disso, quando os três zagueiros se juntam pelo meio, falta o lateral para fazer a cobertura. O ala tenta chegar, mas não dá tempo. Se desse, ele seria lateral, e o time ficaria muito defensivo, com três zagueiros e dois laterais.
O Internacional foi o time que menos sofreu gols no campeonato porque marca muito no meio-campo e não deixa o adversário organizar as jogadas. Contra o Boca Juniors, isso não funcionou, e o time argentino deitou e rolou nas costas dos alas.
Prefiro o esquema com dois zagueiros e os dois laterais se alternando no apoio ao ataque.
Outra vantagem é trocar um zagueiro por um armador ou atacante. Mas como Internacional, Corinthians, Goiás, Fluminense e São Paulo possuem alas com muita qualidade ofensiva, é melhor atuar com os três zagueiros.
Se não acontecesse a repetição dos jogos, o Inter teria um ponto a mais, e o comportamento das duas equipes, provavelmente, seria diferente nesta partida. E, se o Corinthians for campeão com menos de quatro pontos na frente, haverá uma interminável e compreensiva discussão.

Futebol globalizado
Independentemente de pequenas diferenças táticas do meio para a frente e das características e qualidades dos jogadores, as 32 equipes que estarão no Mundial de 2006 vão adotar a mesma postura.
Todas vão marcar por setor e com sete ou oito jogadores atrás da linha da bola, arriscar pouco e começar as partidas com cautela para não levar um gol primeiro, valorizar a posse de bola e buscar o tão sonhado equilíbrio perfeito entre a defesa e o ataque.
É o futebol globalizado e prudentemente correto. Ainda bem que existem alguns inventivos craques para transgredir o tecnicismo dos treinadores.
Não se pode mais afirmar, como no passado, que os europeus adoram uma retranca, têm cintura dura e são muito mais altos, que só os sul-americanos têm habilidade, que os africanos jogam um futebol inocente, que os orientais são todos baixinhos e sabem apenas correr e outros clássicos conceitos.
Será que ainda existe bobo no futebol?

E-mail tostao.folha@uol.com.br


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