São Paulo, sexta-feira, 20 de novembro de 2009

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XICO SÁ

Só vingança, vingança, vingança


Contamos com a força das mulheres contra seus exs tricolores, pois sabemos que mandinga feminina tem força


AMIGO TORCEDOR , amigo secador, que prazer tem uma ex-mulher, ainda magoada ou não, quando o time do desalmado leva um belo tombo. É sadismo ludopédico no último.
Ela pode nem apreciar tanto o esporte, mas só por uma lupicínica vingança, faz um foguetório com a desgraça do miserável. Sabe que a única dor que deveras sente o canalha é a da tragédia do seu clube. Como me diz agora a M., com perversidade e saliva histérica na risada, ainda comemorando o fracasso do Palmeiras, alviverde imponente do homem que a trocou por outra. É, amigo, no peito de cada mulher abandonada explode um coração de secadora vingativa.
"Mas, enquanto houver força em meu peito/ Eu não quero mais nada/ Só vingança, vingança, vingança/Aos santos clamar...", cantaria o gaúcho Lupicinio Rodrigues, o rei da dor de cotovelo.
A explosão de M. é tão comovente como o momento dos safanões de Maurício e Obina, que acabaram expulsos, no embate contra o Grêmio, por pura sinceridade de rapazes humildes que buscam a todo custo o triunfo. O zagueiro ainda passou a noite chorando. Coisa de homem mais ainda. Merece todo o respeito.
Deixemos a crise verde. Bom é a maldade das mulheres contra a paixão clubística dos seus marmanjos.
Outra amiga, carioca, que já superou a dor amorosa e enxerga a fila que anda, comemorou, o porteiro do prédio está de prova, a queda do Sport do mancebo. E olhe que a danada é Fluminense, também sob risco de Segundona.
O primeiro episódio que me recordo de belas vinganças femininas ocorreu naquela decisão do Brasileiro de 1996, com Grêmio x Lusa.
Gol do tricolor, 2 x 0. A amiga G. para o carro, voltava de cachoeira nas cercanias de Brasília, ajoelha na estrada, ergue as mãos para os céus, agradece, tinha certeza de que A. estaria mais triste que o anjo inútil e os fados da Amália Rodrigues.
No Recife, L., uma jambo-girl com toda a morenidade exaltada por Gilberto Freyre, enviou para o ex, torcedor do Náutico, integrante da torcida Timbucana, uma saca de areia de Boa Viagem, logo depois de vitória do bravíssimo Santa Cruz, meados dos anos 90. É que o alvirrubro dos Aflitos tem uma fama histórica de nadar, nadar e morrer na praia.
Com as nossas exs, infelizmente não temos gosto sádico ludopédico.
Por mais que sejam fanáticas, creio que as fêmeas sofrem menos com as dores do futebol. Para variar, são mais sábias também nesse capítulo.

Te cuida, Jason
Com o adeus às armas do Palmeiras, Edgar, o corvo, e todos os secadores paulistas ficaram com só um alvo: o São Paulo. Hepta brasileiro é muito luxo. Vade-retro. E, como inveja mata, estamos aqui, unidos para evitar outro pecado ainda maior. Sim, a soberba em vermelho, preto e branco.
Contamos, nessa corrente maldita, com a força das mulheres contra seus exs tricolores. A mandinga feminina tem poderes. Você, amiga explicitamente sacaneada no amor por um são-paulino, junte-se a nós.
Aos que nunca entendem a prosódia de botequim da coluna, deixo um alerta de pendura: é só gozação de secador nato, e dá-lhe Mengo!

xico.folha@uol.com.br


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