São Paulo, quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

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Pacaembu ferve, dupla Ro-Ro, não

Com estádio cheio e torcida empolgada, Corinthians vive estreia fria dos principais protagonistas de seu centenário

Coadjuvantes brilham mais que Roberto Carlos, que se machuca sozinho no final, e Ronaldo, fora de ritmo, em vitória magra no Paulista

Danilo Verpa/Folha Imagem
Ronaldo, ídolo do Corinthians, em noite de jejum no Pacaembu

FÁBIO SEIXAS
EDITOR-ADJUNTO DE ESPORTE

Faltavam duas horas para o jogo, o flanco esquerdo da Charles Miller cheirava a maconha. E a churrasquinho. Para Zé Roberto, 37, boa chance de faturar. "Tá vendendo mais do Roberto Carlos. Ano passado, foi só Ronaldo, Ronaldo, Ronaldo... É bom, cada vez que contratam uns estrelas, movimenta as vendas", contava o vendedor de camisetas fajutas.
Faltava uma hora e meia, o flanco direito da praça diante do Pacaembu cheirava a dama- -da-noite. E a churrasquinho. Para Lucas, 7, camisa com o número 6 às costas, era uma noite especial, a primeira vez em um estádio de futebol. "Enchi o saco dos meus pais pra vir. Quero ver um gol do Roberto Carlos."
Faltavam sete minutos, e o Corinthians entrou em campo. De repente, os mascotes que rodeavam Ronaldo perceberam que havia outro astro no pedaço. Correram para Roberto Carlos. Para os dois jogadores, uma noite diferente, porque intrinsicamente ligada ao fato de estarem ali. Uma noite de Libertadores, no Paulista: quarta-feira, flashes na Globo, movimento desde cedo, Pacaembu cheio, entusiasmado.
Para Roberto Carlos, a estreia no Corinthians. Para Ronaldo, a estreia no ano do centenário do clube em que é rei.
E o que era expectativa para noite tão badalada, para o que mais parecia um ensaio -até da torcida- para a obsessão continental, traduziu-se na melhor realidade possível a 1min de partida: gol corintiano, de um coadjuvante de luxo, Elias.
Goleada à vista, a torcida inflamou. Afinal, havia duas estrelas em campo, história longa e cheia de glórias. Dois jogadores que atuaram juntos em 88 partidas pela seleção, que conquistaram juntos a Copa de 2002, que foram parceiros no Real Madrid, onde ficaram juntos até o fim de 2006. Que foram escalados juntos pela primeira vez num amistoso do Brasil, de Zagallo, em 1995.
Quando Zé Roberto ainda era pintor de paredes. Quando Lucas nem sonhava em nascer.
Mas Zé Roberto hoje ganha a vida vendendo camisetas fajutas. E Lucas já tem idade para passar a noite num estádio -e com chuva. Para tristeza da torcida, pelo menos ontem o festejado "tempo de parceria" pendeu mais para os rigores do tempo do que para as benesses da parceria. Ainda sem ritmo, Ronaldo, 33, e Roberto Carlos, 36, pouco, quase nada, fizeram.
Apáticos, como o resto do time a partir do gol, pouco correram, pouco criaram. Pior: foi nas costas do lateral que surgiu o empate do Bragantino.
"Importante é que estamos tocando... Vai melhorar", disse Roberto Carlos, no intervalo.
Melhorou. Um pouco. Porque Jorge Henrique logo colocou o Corinthians de novo na frente, Ronaldo recebeu mais bolas, Roberto Carlos tentou.
Tentou tanto que ao se lançar num carrinho, na grama molhada, deslizou até o banco de reservas, bateu, machucou-se. Aos 37min, deixou o jogo, encerrou a primeira noite da dupla Ro-Ro versão Corinthians.
"Não dava pra voltar", disse o lateral, ao término do jogo.
Já era quase quinta. A chuva apertava no Pacaembu. Que não viu a dupla deslanchar como queria. Mas que espera outras quartas, de Libertadores, quentes. Para gente como Zé Roberto e Lucas, dupla desconhecida e que não se conhece, mas que também diz tanto sobre o momento do Corinthians.


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