São Paulo, sábado, 21 de fevereiro de 2004

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

FUTEBOL

Missão impossível

JOSÉ GERALDO COUTO
COLUNISTA DA FOLHA

Os portugueses esperaram séculos (há quem espere até hoje) pela volta de seu rei dom Sebastião, desaparecido em 1578 na batalha de Alcácer-Quibir. Por extensão dá-se o nome de sebastianismo a toda manifestação de esperança mística na volta de um personagem salvador.
O corintiano é um sebastianista por excelência, sempre sonhando com o retorno de seus ídolos, de seus comandantes, de seus esquadrões. Por isso, muitos se animaram com a volta de Oswaldo de Oliveira ao Parque São Jorge -assim como outros, mais velhos, haviam vibrado com o retorno de Rivellino.
Mais cético, mas sem sair do registro sebastianista, um amigo corintiano brincou: "O Oswaldo e o Rincón já voltaram. Agora só falta o Marcelinho, o Gamarra, o Ricardinho, o Edílson, o Vampeta, o Silvinho, o Dida, o Luizão..."
Vou além: mesmo que voltassem todos os jogadores da campanha vitoriosa de 99, sob o comando do mesmo técnico, o time não seria o mesmo. O tempo passou para todos e para cada um. O mundo é outro, o futebol é outro, a atmosfera é outra. A história só se repete como farsa, já dizia aquele filósofo barbudo alemão.
Tenho muita simpatia por Oswaldo e desejo sinceramente que seu trabalho dê certo, até por afeto clubístico. Mas tudo indica que ele está embarcando numa canoa furada. A despeito do que diz a diretoria corintiana, o treinador está recebendo um elenco sem pé nem cabeça. Foram feitas muitas contratações, é verdade, mas quase todas inúteis.
Como bem disse outro dia Milton Leite na ESPN Brasil, teria sido mais interessante contratar três bons jogadores para os lugares certos, em vez de 12 medíocres, e reorganizar a equipe com os jovens talentos formados no clube.
Seria tolo supor que Oswaldo não sabe de tudo isso. Ele tem plena consciência do desafio à sua frente. E há quem diga que o que o atraiu foi justamente o tamanho da encrenca.
Eu explico. É que Oswaldo ficou com o estigma de só ter sido campeão brasileiro em 99 por ter herdado o time montado no ano anterior por Wanderley Luxemburgo. A acusação é injusta, se lembrarmos que no ano seguinte Oswaldo levou o Vasco à final do Brasileirão e que só não foi campeão com o time por ter tido um desentendimento com o senhor feudal Eurico Miranda -desavença, aliás, que só engrandece o currículo do treinador.
Seja como for, a mágoa ficou. Uma passagem infeliz pelo São Paulo reforçou a desconfiança de muitos sobre a capacidade de Oswaldo de Oliveira.
É difícil saber até que ponto essa desconfiança tem fundamento objetivo e até que ponto ela reflete uma resistência à figura civilizada e íntegra de Oswaldo, um verdadeiro estranho no ninho selvagem do nosso futebol.
Para vencer essa resistência e reabilitar seu amor-próprio, só mesmo uma missão impossível. Pegar uma equipe escangalhada como o atual Corinthians e levá-la a uma boa campanha na temporada pode ser essa missão.

Fla-Flu
A final da Taça Guanabara, entre Flamengo e Fluminense, pode ser vista como o confronto entre, de um lado, uma equipe com bom conjunto e um craque (Felipe) e, de outro, quatro craques que não chegaram a jogar juntos (Ramon, Roger, Romário e Edmundo). Com o Maracanã lotado como cenário, será uma festa digna de um sábado de Carnaval.

Mundial da Fifa
Sei que a intenção pode ser oportunista, mas até que não é má a idéia da Fifa de fazer um Mundial de Clubes com os seis campeões continentais, sendo que o europeu e o sul-americano só entram na semifinal. Se a entidade atrair a Toyota para patrocinar o novo torneio, ele pode até acabar substituindo o "velho" Mundial interclubes.

E-mail jgcouto@uol.com.br


Texto Anterior: Motor - José Henrique Mariante: Quem tem põe
Próximo Texto: Futebol: Com Palmeiras, Picerni revê suas crias
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.