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FUTEBOL
Missão impossível
JOSÉ GERALDO COUTO
COLUNISTA DA FOLHA
Os portugueses esperaram
séculos (há quem espere até
hoje) pela volta de seu rei dom Sebastião, desaparecido em 1578 na
batalha de Alcácer-Quibir. Por
extensão dá-se o nome de sebastianismo a toda manifestação de
esperança mística na volta de um
personagem salvador.
O corintiano é um sebastianista
por excelência, sempre sonhando
com o retorno de seus ídolos, de
seus comandantes, de seus esquadrões. Por isso, muitos se animaram com a volta de Oswaldo de
Oliveira ao Parque São Jorge
-assim como outros, mais velhos, haviam vibrado com o retorno de Rivellino.
Mais cético, mas sem sair do registro sebastianista, um amigo
corintiano brincou: "O Oswaldo e
o Rincón já voltaram. Agora só
falta o Marcelinho, o Gamarra, o
Ricardinho, o Edílson, o Vampeta, o Silvinho, o Dida, o Luizão..."
Vou além: mesmo que voltassem todos os jogadores da campanha vitoriosa de 99, sob o comando do mesmo técnico, o time não
seria o mesmo. O tempo passou
para todos e para cada um. O
mundo é outro, o futebol é outro,
a atmosfera é outra. A história só
se repete como farsa, já dizia
aquele filósofo barbudo alemão.
Tenho muita simpatia por Oswaldo e desejo sinceramente que
seu trabalho dê certo, até por afeto clubístico. Mas tudo indica que
ele está embarcando numa canoa
furada. A despeito do que diz a
diretoria corintiana, o treinador
está recebendo um elenco sem pé
nem cabeça. Foram feitas muitas
contratações, é verdade, mas quase todas inúteis.
Como bem disse outro dia Milton Leite na ESPN Brasil, teria sido mais interessante contratar
três bons jogadores para os lugares certos, em vez de 12 medíocres,
e reorganizar a equipe com os jovens talentos formados no clube.
Seria tolo supor que Oswaldo
não sabe de tudo isso. Ele tem plena consciência do desafio à sua
frente. E há quem diga que o que
o atraiu foi justamente o tamanho da encrenca.
Eu explico. É que Oswaldo ficou
com o estigma de só ter sido campeão brasileiro em 99 por ter herdado o time montado no ano anterior por Wanderley Luxemburgo. A acusação é injusta, se lembrarmos que no ano seguinte Oswaldo levou o Vasco à final do
Brasileirão e que só não foi campeão com o time por ter tido um
desentendimento com o senhor
feudal Eurico Miranda -desavença, aliás, que só engrandece o
currículo do treinador.
Seja como for, a mágoa ficou.
Uma passagem infeliz pelo São
Paulo reforçou a desconfiança de
muitos sobre a capacidade de Oswaldo de Oliveira.
É difícil saber até que ponto essa
desconfiança tem fundamento
objetivo e até que ponto ela reflete
uma resistência à figura civilizada e íntegra de Oswaldo, um verdadeiro estranho no ninho selvagem do nosso futebol.
Para vencer essa resistência e
reabilitar seu amor-próprio, só
mesmo uma missão impossível.
Pegar uma equipe escangalhada
como o atual Corinthians e levá-la a uma boa campanha na temporada pode ser essa missão.
Fla-Flu
A final da Taça Guanabara, entre Flamengo e Fluminense, pode ser vista como o confronto
entre, de um lado, uma equipe
com bom conjunto e um craque (Felipe) e, de outro, quatro
craques que não chegaram a jogar juntos (Ramon, Roger, Romário e Edmundo). Com o Maracanã lotado como cenário, será uma festa digna de um sábado de Carnaval.
Mundial da Fifa
Sei que a intenção pode ser
oportunista, mas até que não é
má a idéia da Fifa de fazer um
Mundial de Clubes com os seis
campeões continentais, sendo
que o europeu e o sul-americano só entram na semifinal. Se a
entidade atrair a Toyota para
patrocinar o novo torneio, ele
pode até acabar substituindo o
"velho" Mundial interclubes.
E-mail jgcouto@uol.com.br
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