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Aos 13, Ana dribla fama e corredeira por Londres-12
Campeã nacional de canoagem com 12 anos, garota de Mato Grosso vive cercada de cuidados para vingar no esporte
Canoísta, que já desfilou
em carro de bombeiros na cidade natal e começa a treinar às 5h, é apontada como grande promessa
MARIANA LAJOLO
TATIANA CUNHA
DA REPORTAGEM LOCAL
As corredeiras do rio das
Mortes, em Mato Grosso, não
assustam mais. Todos os dias,
pontualmente às 5h, Ana Vieira Vargas leva seu barco às
margens e treina como quem
remasse por águas calmas.
O esforço já rendeu resultados. Em 2008, ela conquistou o
título nacional, com o melhor
desempenho da história do
Brasileiro de canoagem slalom.
Ana, no entanto, não pode alçar voos mais altos. Não por
falta de vontade ou de apoio. O
problema está em seu RG.
A mato-grossense tem apenas 13 anos e vem sendo cercada de cuidados pela família e
pelos dirigentes. Tudo para
não pular etapas e evitar o desperdício de um talento que já é
apontado como candidato a vaga nos Jogos de Londres-2012.
A reação da população da cidade natal de Ana depois da
conquista do Brasileiro corrobora essa preocupação. Com
apenas 12 anos, ela até desfilou
em carro dos bombeiros pelas
ruas de Primavera do Leste.
"Fiquei empolgada, agora todo mundo na cidade me conhece", afirma. "O título foi bem
inesperado. Eu não estava confiante, porque tinha menina
chegando da Olimpíada [Poliana de Paula, 19]", completa ela.
Além de ter na água as melhores atletas do país, a conquista de Ana foi impressionante também pela pouca intimidade que a mato-grossense
tinha com o novo esporte.
A garota já praticava natação
por incentivo do pai. Um dia,
em 2007, encantou-se pelas
aulas de canoagem e decidiu
experimentar. Quem assistiu a
esse primeiro contato diz que
seu talento saltou aos olhos.
"Percebi que todos os meninos erravam o trajeto na pista.
Ela não, era atenciosa, levava
jeito", afirma Darci Oberdan,
presidente da Federação de Canoagem de Mato Grosso.
Na primeira competição,
com barco de plástico, Ana terminou em último lugar em sua
faixa etária. Ficou frustrada,
porém decidiu insistir.
"Aos poucos ela foi se desenvolvendo e começou a ganhar
tudo", relembra Oberdan.
Ana só treinava canoagem
slalom, com provas em águas
rápidas. Certa vez, viajou para
São Paulo para participar de
uma competição de velocidade.
Após apenas três dias de treino,
chegou em primeiro lugar.
"Ela tem talento, mas o que
impressiona é a determinação.
É tão confiante e serena que fico assustado", diz Oberdan.
Desde que decidiu investir na
canoagem, Ana acorda diariamente às 5h e vai para o rio.
Treina por cerca de duas horas
e segue para a escola -está na
sétima série do ensino fundamental. À tarde, volta para a
água e, depois, corre.
"No começo, eu ficava cansada, mas agora consigo seguir essa rotina. Tenho muito apoio
dos meus pais", afirma Ana.
Os pais apoiam, mas também
mantêm o sinal de alerta ligado.
Cláudio é pedreiro. A mãe,
Márcia, é dona de casa e voltou
neste ano aos bancos escolares.
De família humilde, temem que
a filha se deslumbre com o sucesso momentâneo.
"Tentamos fazê-la manter a
rotina de uma criança de 13
anos. Fazemos o máximo para
o sucesso não subir à cabeça.
Ela está bem, mas isso pode
acabar", afirma a mãe.
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