São Paulo, quinta-feira, 21 de abril de 2011

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Brasil tem de se preocupar com terrorismo, diz perito

2014/2016
Para israelense, megaeventos tornam país alvo de extremistas


RODRIGO RÖTZSCH
DO RIO

O fato de o Brasil não ter histórico de ações terroristas é "irrelevante". O país deveria se preocupar com a possibilidade de ataques durante a Copa do Mundo de 2014 e os Jogos Olímpicos de 2016 e agir para evitá-los.
A opinião é do israelense Lior Lotan, especialista em ações de contraterrorismo das Forças Armadas de seu país e que hoje atua no setor privado, onde tem experiência na segurança de grandes eventos, como a Olimpíada de 2004, em Atenas.
Para Lotan, o importante é saber se terroristas têm a intenção de cometer ataques no Brasil e meios para fazê-lo. "Não dá para fechar os olhos e pensar "nós somos brasileiros, vivemos felizes até agora e continuaremos assim". Em entrevista à Folha, ele diz que "essa não é a realidade da nova era".

FOLHA - O Brasil tem muitos problemas de segurança, mas até agora o terrorismo não foi um deles. Os grandes eventos esportivos mudam isso?
Lior Lotan - Quando analisamos ameaças, devemos analisar também capacidades e intenções. São os dois fatores que determinam o nível das ameaças. O Brasil vive uma situação única de sediar a Copa do Mundo e os Jogos Olímpicos. Essas competições são um alvo para muitas organizações que querem usar esse palco para promover sua agenda.
Então, é realmente irrelevante se o Brasil tinha um problema de terrorismo. O que importa é que as organizações terroristas podem impactar o mundo todo atacando no Brasil.
Não importa se o conflito de organizações é dentro do Brasil, mas se as organizações terroristas têm aqui a estrutura operacional e a intenção de operar aqui, não importando qual seja a razão para isso.
No Brasil, já há no momento duas fortes estruturas terroristas. A primeira está na Tríplice Fronteira, que alguns apontam como a principal área de levantamento de fundos fora do Oriente Médio para organizações terroristas islâmicas.
A segunda é a de cerca de 20 membros da Al Qaeda que operam no país e coordenam as atividades em mais de dez países.


As autoridades do país estão cientes do risco e prontas para combatê-lo?
Elas estão bastante cientes de aspectos da ameaça, como a ligação entre algumas atividades criminosas e oportunidades para os terroristas como lavagem de dinheiro, fraude de documentos.
Mas eu diria que uma real noção de que o Brasil pode ser um alvo de ataque terrorista, assim como foi a Argentina, ainda não existe.
Um país que quer lidar com ameaças como o terrorismo e mostrar ao mundo que é capaz de defender seus cidadãos precisa desenvolver medidas baseadas em alguns princípios.
O primeiro é a contenção. Contenção não é impedir as organizações terroristas de agir, mas impedir que organizações terroristas atuem durante esses megaeventos.
O segundo princípio é a cooperação. A Al Qaeda não é um quartel-general dando ordens, é uma rede de organizações afins que dividem ideologia, informação e recursos. E é necessária uma rede para combater uma rede. E para estabelecer uma rede é necessária uma filosofia de cooperação.
O terceiro princípio são as operações. O desafio da capacidade operacional ao qual o Brasil precisa se adaptar é o de como ser muito rápido, dinâmico e flexível para ir da inteligência à interceptação em minutos.
O quarto princípio é a legislação. As leis penais não estão adequadas à ameaça do terrorismo. É preciso um conjunto de normas que deem ao governo ferramentas para enfrentar a ameaça.
O quinto princípio é a inteligência. O desafio não é saber mais ou melhor, mas como filtrar, analisar e fundir esses quilos de informação em tempo real para poder agir em tempo real.


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