São Paulo, terça, 21 de abril de 1998

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JUCA KFOURI
O doping, ainda

Os exames antidopagem feitos no último Campeonato Brasileiro de futebol revelam um alarmante uso de anabolizantes por parte dos atletas nacionais.
Embora a Fifa proíba o uso de anabolizantes, a CBF limita seus exames às chamadas drogas estimulantes, razão pela qual, aliás, o número de casos positivos no Brasil é infinitamente menor do que em outros países ou em outros esportes.
Só alguém sem nada na cabeça será ainda capaz de usar estimulantes para jogar, tal é o risco, ou a certeza, de ser pego no antidoping.
Alertada, a CBF tomou duas providências: escondeu o fato, para variar, e tratou de mandar examinar constantemente os atletas que servem à seleção, para evitar problemas durante a Copa do Mundo na França.
Como boa parte dos nossos jogadores atua no exterior, a preocupação maior tem sido com os que jogam aqui.
Os médicos dos grandes clubes foram chamados à Granja Comary para tomar conhecimento dessa realidade e para saber, também, que é possível que já no próximo Campeonato Brasileiro os anabolizantes passem a ser detectados e considerados como se deve, isto é, como casos positivos de doping.
Portanto, os médicos dos clubes devem cuidar agora de "limpar" seus atletas até que o campeonato comece, depois da Copa do Mundo.

Diante das inevitáveis reações dos bioquímicos por aqui ter sido constatado que só no Brasil uma comissão antidopagem não é presidida por um médico, um fato chama a atenção: ninguém se indignou ao saber que Tanus Jorge, o bioquímico que preside a comissão antidopagem da CBF, confessou ser um dos fabricantes dos kits usados pela mesma comissão.
Acrescente-se, pois, duas novas informações: Marco Antônio Teixeira, também bioquímico e ex-presidente da comissão antidopagem, tio do presidente da CBF e seu secretário-geral, é sócio de Tanus.
E os kits estão, no mínimo, cinco modelos atrasados, pois são os mesmos desde 1989, época em que Ricardo Teixeira assumiu a entidade.

Vá lá que produtores de laticínios não fiquem eticamente indignados com os privilégios da Linda Linda na CBF, mas dos bioquímicos continua-se a esperar outra atitude em defesa do bom nome da classe.
Atitude que, certamente, virá. Ou não?



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