São Paulo, sexta-feira, 21 de maio de 2004

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Brasil de Parreira põe novo zero nos 100 anos da Fifa

Franck Fife/France Presse
O brasileiro Cafu e o francês Gallas, com réplicas de uniformes usados no início do século passado por suas seleções, disputam jogada no amistoso que acabou sem gols


Ronaldo insiste, desperdiça gols, e reedição morna da final de 98 vira terceiro 0 a 0 da seleção em 4 jogos

PAULO COBOS
ENVIADO ESPECIAL A SAINT-DENIS

Teve quase tudo o que uma festa do futebol precisa, mas faltou o principal. Com todas as suas estrelas em campo, Brasil e França empataram em 0 a 0 ontem, no amistoso que marcou os cem anos da Fifa, em Saint-Denis.
O resultado aumentou a coleção de zeros da seleção comandada por Carlos Alberto Parreira. Foi o terceiro 0 a 0 em quatro partidas no ano, o quinto nos 16 jogos da nova gestão do treinador.
Depois de um 4 a 1 sobre a Hungria no mês passado, o placar estático de Paris restabeleceu o incômodo estigma do time desta era Parreira, um dos líderes mundiais em jogos com poucos gols. Em 16 partidas, as redes balançaram só 29 vezes, média de 1,8.
O Brasil de Parreira marcou até aqui 19 vezes nesses 16 jogos, ou 1,18 gol por confronto. Com Scolari (2001-2002), a seleção teve média de 2,24 gols por partida.
Recheado de simbolismo, com festividades antes e depois de a bola rolar, o amistoso não correspondeu às expectativas.
No Stade de France -palco da final da Copa-98, em que a França bateu o Brasil por 3 a 0- e vestindo no primeiro tempo camisas inspiradas nos modelos das de suas primeiras seleções, os líderes do ranking da Fifa proporcionaram espetáculo chocho.
De um lado, Ronaldo, vilão do revés de 98, bem que buscou sua vingança particular. Foi o maior finalizador do jogo, segundo o Datafolha: fez seis arremates, só dois deles certos. Em sua melhor chance, aos 21min do primeiro tempo, recebeu de Ronaldinho e, sem marcação, chutou com força, mas em cima do goleiro Coupet.
Naquele 12 de julho de 1998, Ronaldo havia finalizado uma única vez. Outra prova da ânsia do atacante em marcar: ontem recebeu 25 bolas, contra 15 há seis anos.
"Acho que é esse estádio aqui que não dá muita sorte", interpretou ao final do jogo o atacante, que desfalcou o time na única vez que o Brasil conseguiu gols neste ano, na goleada sobre a Hungria.
Pela França, Zidane, o herói de 98, foi a atração, ainda que não tenha se destacado. Mandou só uma bola em gol, mas, com jogadas de efeito, foi saudado pela torcida durante toda a partida. Ao ser substituído, foi aplaudido de pé pelos quase 80 mil presentes.
Enquanto o Brasil buscou mais o gol adversário (foram 18 finalizações, contra 8 da França), os donos da casa buscaram apresentar um futebol mais vistoso.
E, para isso, utilizaram armas brasileiras: deram 30 dribles (nove de Henry, oito de Zidane), contra 13 da seleção (quatro de Kaká, apenas dois de Ronaldinho).
Além da volta de Ronaldo, as mudanças na seleção em relação à goleada sobre a Hungria foram na defesa: em vez de Roque Júnior e Juan, atuaram Cris e Luisão.
Os zagueiros substitutos foram os mais elogiados por Parreira. "Gostei muito do Cris e do Luisão", declarou o técnico sobre a dupla, que anulou os badalados Henry e Trezeguet.
Apesar da performance, os dois evitaram euforia. "É muito difícil ser titular. Meu objetivo imediato é continuar a ser convocado pelo Parreira", afirmou Luisão.
No segundo tempo, Parreira colocou Alex no lugar de Kaká, que se queixou de uma contusão, e Edu na vaga de Zé Roberto. Mais tarde, substituiu Juninho Pernambucano por Júlio Baptista.
O Brasil prosseguiu pouco objetivo, tocando demais a bola -trocou 493 passes ao longo da partida-, mas criando mais chances que a França. Na melhor delas, aos 22min, Roberto Carlos chutou, de bico, na trave.
Agora a seleção pega a Catalunha, num amistoso na terça-feira que vem. No dia 28, se reapresenta em Teresópolis (RJ) e treina para dois jogos das eliminatórias: contra a Argentina, em 2 de junho, em Belo Horizonte, e Chile, quatro dias depois, em Santiago.


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