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JUCA KFOURI
Exportar é a seleção
É fácil entender o que motiva a maioria a preferir ver seu time campeão mundial a assistir a triunfos do Brasil
JÁ SE DISSE, em outros tempos, que "exportar é a solução". Talvez fosse. Pois no futebol brasileiro tem sido o problema.
Pelo menos para os nossos clubes, exportadores de matéria-prima, exportadores de pé-de-obra, exportadores dos artistas em vez de exportadores do espetáculo.
Quando se vê que dos 23 convocados para disputar a Copa apenas dois jogam aqui (e Ricardinho já acena com sua saída pós-Copa), nem é preciso dizer mais nada.
Nem é de espantar que a esmagadora maioria dos torcedores prefira ver seus clubes campeões mundiais a ver a seleção brasileira, porque cada vez menos os torcedores têm um jogador para torcer duplamente, por ser do seu time de coração e também da seleção.
Como o santista torcia por Pelé, o corintiano por Rivellino, o palmeirense por Luís Pereira, o são-paulino por Cafu e por aí afora.
Que fique claro que a referência aqui é ao torcedor de todos os dias, não àquele torcedor de Copa do Mundo, o terceiro maior contingente, aliás, de nossos torcedores, segundo as pesquisas.
Isso mesmo. Em primeiro lugar está a torcida do Flamengo, em segundo a do Corinthians e em terceiro os que não se interessam por futebol, para só depois aparecer a torcida do São Paulo.
Claro que na festa da Copa todos se juntam, na mesma farra ou na mesma depressão.
Mas é mesmo difícil criar vínculos com um Lúcio, um Juan, ou Emerson ou Zé Roberto, todos titulares, que passaram tão pouco tempo no Brasil e estão há tanto tempo lá fora, sem que sejam estrelas de primeira grandeza como os Ronaldos ou Kaká ou Robinho.
E por que perdemos todos, dos gênios aos médios, e tão cedo?
Porque temos sido incapazes de fazer de nosso futebol alguma coisa realmente rentável, que permita lotar estádios, que torne melhores os contratos com a TV, que traga recursos pela exploração da marca, medidas essenciais que, postas em prática, revelariam rapidamente como são falsos os argumentos escapistas que culpam a Lei Pelé ou a vantagem das economias italiana e espanhola em relação à nossa.
Como se antes da lei nossos clubes não estivessem com os mesmos pires nas mãos de hoje. Como se as economias da Itália e da Espanha fossem dez vezes maiores que a do Brasil. Seus torneios, sim, são cem vezes melhores que os nossos, embora as tramóias ocorram na mesma medida, como, mais uma vez, os italianos demonstram à exaustão.
É até engraçado, por sinal, quando algum cínico diz que manipulação de resultados é coisa de boitatá. Porque o boitatá só tem feito aparecer ultimamente, como apareceu, que coincidência, nas três maiores potências do futebol mundial. Na tricampeã Alemanha, em 2004; no pentacampeão Brasil, no ano passado; e na tricampeã Itália, agora.
A diferença está em que os malandros de lá não matam a galinha dos ovos de ouro, como aqui.
Porque se o esporte tem sido um meio de enriquecimento fácil pelo mundo afora e um submundo de jogadas escusas, lugares há em que, ao menos, usa-se de uma certa competência para mantê-lo vivo e lucrativo, para que possa continuar a ser explorado à tripa forra.
Aqui, nem isso. O que há de pior, com as exceções de praxe, tomou conta da área e nem faz questão de garantir o futuro de uma atividade que apaixona as pessoas, incautas ou não.
Exportar nossos cartolas é que seria uma boa solução.
Mas quem os quer?
@ - blogdojuca@uol.com.br
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