São Paulo, segunda-feira, 21 de maio de 2007

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Romário faz seu 1.000°

Aos 41 anos, herói do tetra converte pênalti, beija bola, dá entrevistas em campo, pega filhos no colo e dá a volta olímpica

Projeto do milésimo gol prolonga a carreira do atacante, que agradece à família e, após elogio de Lula, defende o presidente


SÉRGIO RANGEL
DA SUCURSAL DO RIO

Após 409 minutos de suspense e quase dois meses de espera, o atacante Romário marcou ontem à noite o milésimo gol da carreira, de acordo com suas contas, e preferiu não criar polêmica na celebração.
Como queria, o jogador de 41 anos converteu de pênalti o feito histórico. O gol foi aos 3min do segundo tempo, às 19h17, e deixou os torcedores de pé em São Januário nos dois minutos que antecederam a cobrança.
Com categoria, Romário chutou no canto esquerdo do goleiro Magrão, do Sport, que pulou para o lado oposto. O árbitro Giuliano Bozzano apitara a infração após um toque na bola com a mão dentro da área.
"Não tenho nenhum apelo para fazer. Gostaria só de agradecer. Poderia ter falado várias coisas que acontecem diariamente na nossa vida, mas acredito que seria mais um a falar. As coisas têm que acontecer independentemente da minha vontade", disse ele, que não seguiu exemplo de Pelé em 1969.
Na época, o santista discursou em favor das "criancinhas" no gramado do Maracanã após, também de pênalti, fazer seu milésimo gol, no Vasco, também no canto esquerdo do goleiro. Naquele dia, Andrada acertou o lado, mas não pegou.
O gol de ontem levou o jogador às lágrimas. Após a bola entrar, ele seguiu em direção ao gol e foi cercado por dezenas de fotógrafos e jornalistas. Chorando muito, o primeiro brasileiro eleito o melhor jogador do mundo pela Fifa dedicava a marca aos seus familiares.
"Este é um momento ímpar na minha vida. Agradeço a todos da minha família, principalmente aos meus pais. Poderia falar algumas coisas agora, mas vou deixar para outra hora", disse Romário, pouco antes de receber um abraço da mãe.
"O Romário é demais", gritava Dona Lita, mãe do jogador, que deu a volta olímpica no campo com o filho. "Faço academia para isso. Hoje [ontem], não vou parar tão cedo", dizia Lita, que deu uma camisa do Vasco com o número mil para o filho usar no restante do jogo. A festa no gramado durou cerca de 15 minutos. Até Ivy, a filha mais nova do jogador, que tem síndrome de Down, participou.
Com a marca histórica garantida, Romário admitiu ao deixar o jogo que o fim da carreira está próximo. "A partir de agora, vou começar a pensar nisso. Quando vocês menos pensarem, já parei. Nos próximos dias, vocês vão descobrir uma novidade", disse ele, acrescentando que faria uma semana de comemoração e ontem celebrou com a família e amigos em uma churrascaria.
Em uma das várias entrevistas no local, falou sobre o telefonema que recebeu de Lula e fez uma defesa do presidente. "Apesar de não ter votado nele, o Lula está surpreendendo."
Romário não atuou até o fim do jogo de ontem. Foi substituído aos 41min por Alan Kardec.
O gol histórico aconteceu na quarta tentativa. Nas vezes anteriores, Romário, que trouxe patrocinador de uniforme para o Vasco depois de anos em razão de sua empreitada, tentou o milésimo no Maracanã, seu palco preferido, sem sucesso.
"Sempre falei que queria o Maracanã, mas foi aqui e foi ótimo. Afinal, São Januário é onde mais fiz gols na carreira", disse ele, que foi convencido pelo Vasco a mudar de idéia.
Só neste ano, Romário havia feito seis gols em apenas duas partidas que disputou em São Januário, estádio que completou 80 anos no mês passado.
No Maracanã, o atacante jogou sete vezes em 2007 e só marcou uma vez, o gol de número 999, contra o Flamengo.
Apesar da festa, Romário pouco tocou na bola na partida. No intervalo, ele declarou que não se sentia bem. "Infelizmente, estou mal, mas vou continuar tentando", disse ele, destaque da Copa dos EUA-94.
Após o gol, o jogo esfriou, e muitos fãs deixaram o estádio. O Vasco venceu por 3 a 1. O último gol do time do Rio foi o histórico de Romário, que ganhará uma homenagem do clube em junho. Uma estátua em tamanho natural será colocada atrás do gol em que, diante de 16.808 torcedores, saiu o milésimo.


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