|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
QUARTAS/ HOJE
Time critica comando do futebol no país e diz que vencer os alemães pouco ajudará
EUA tentam novo feito à revelia de federação
DO ENVIADO A ULSAN
O sucesso da seleção americana
nesta Copa vai ajudar a desenvolver o futebol nos EUA, certo?
Errado, afirma o próprio técnico do time, Bruce Arena.
"As coisas não estão tão relacionadas assim", disse ele antes da
partida mais importante dos EUA
em mais de 70 anos.
Para desespero da própria federação americana, o treinador diz
que a organização do futebol no
país está errada, o que diminuirá
o impacto desta campanha no futuro do esporte por lá.
"No mundo todo, a formação
de jogadores é responsabilidade
dos clubes. Nos EUA, é da federação. Isso tem que ser passado para
os times", diz Arena, sinalizando
uma preocupação endossada pelo
goleiro Brad Friedel.
"Não digo que a campanha não
tem importância, mas não é exatamente como as pessoas pensam", afirmou Friedel à Folha.
"Da forma que é o futebol nos
EUA hoje, isso aqui vai beneficiar
alguns jogadores, mas não a
maioria. Temos uma liga, que embora não seja ainda uma Premiership [a liga inglesa", é algo
importante. Mas não é tão rápido
assim. Muitos ainda irão para o
exterior", disse ele, que atua no
Blackburn Rover, da Inglaterra.
A federação rebate dizendo que
é preciso fazer uma coisa de cada
vez. Primeiro, montou uma liga,
agora trabalha para criar categorias de base nos clubes e resolver o
gargalo da profissionalização
apontado por seu treinador. "A
maioria das pessoas não entende
isso", afirma Jim Moorhouse, diretor da US Soccer.
Atualmente, a formação de jogadores no país é feita por meio
de um sistema curioso.
A federação seleciona alguns jovens e os coloca em um programa
especial. Durante a liga, os atletas
são cedidos aos clubes. Fora da
temporada, formam um time e
excursionam pelo exterior.
Mas o projeto não teve grande
peso na formação do time norte-americano que hoje joga as quartas-de-final -só 2 dos 23 convocados emergiram do programa.
A alternativa é seguir o caminho
tomado, por exemplo, pelo atacante Landon Donovan, eleito o
melhor em campo na vitória sobre o México, nas oitavas.
Aos 17 anos, ele assinou um
contrato com o Bayer Leverkusen, da Alemanha. Ficou duas
temporadas no clube, mas pouco
jogou. Voltou aos EUA -e, agora, após o sucesso da Copa, pode
retornar ao futebol europeu.
Se por um lado valorizam sua liga, batizada de MLS, os americanos levaram à Copa um time que
tem a maioria de seus jogadores
baseada no exterior.
Com tantos desafios, os EUA reconhecem que o futebol em seu
país ainda não tem uma cara, apesar de sua seleção já conseguir
chegar às quartas-de-final de uma
Copa do Mundo.
"A América precisa de uma
identidade, de um jeito de jogar
futebol", afirma o meia O'Brien,
que está há seis anos no futebol
europeu -defende o Ajax.
Para esta Copa, o time montou
o seu próprio estilo, que até aqui
vem dando certo em campo.
É peculiar: os americanos dizem
abertamente que preferem jogar
sem a bola nos pés, deixando com
o que o adversário tome o controle do jogo, para então aproveitar
os erros do rival.
"Foi uma decisão tomada no
começo do ano", diz o treinador.
Mas a opção já faz, por exemplo,
que Arena se veja em meio a um
questionamento bem conhecido
pelos treinadores brasileiros: não
seria importante também que o
time tivesse um jogo bonito, vistoso, algo que poderia ajudar a arregimentar mais torcedores?
"Uma das equipes que mais entretinham o público era a França", rebate ele. "O negócio não é
entreter o público. Nesse momento, nossa idéia é obter resultados.
Em todo o mundo, as pessoas
querem torcer para um vencedor."
(ROBERTO DIAS)
Texto Anterior: Memória: Tricampeã tenta esquecer traumas das quartas-de-final Próximo Texto: Pela 1ª vez, equipe não estuda rival Índice
|