São Paulo, sexta-feira, 21 de junho de 2002

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QUARTAS/ HOJE

Time critica comando do futebol no país e diz que vencer os alemães pouco ajudará

EUA tentam novo feito à revelia de federação

DO ENVIADO A ULSAN

O sucesso da seleção americana nesta Copa vai ajudar a desenvolver o futebol nos EUA, certo?
Errado, afirma o próprio técnico do time, Bruce Arena.
"As coisas não estão tão relacionadas assim", disse ele antes da partida mais importante dos EUA em mais de 70 anos.
Para desespero da própria federação americana, o treinador diz que a organização do futebol no país está errada, o que diminuirá o impacto desta campanha no futuro do esporte por lá.
"No mundo todo, a formação de jogadores é responsabilidade dos clubes. Nos EUA, é da federação. Isso tem que ser passado para os times", diz Arena, sinalizando uma preocupação endossada pelo goleiro Brad Friedel.
"Não digo que a campanha não tem importância, mas não é exatamente como as pessoas pensam", afirmou Friedel à Folha.
"Da forma que é o futebol nos EUA hoje, isso aqui vai beneficiar alguns jogadores, mas não a maioria. Temos uma liga, que embora não seja ainda uma Premiership [a liga inglesa", é algo importante. Mas não é tão rápido assim. Muitos ainda irão para o exterior", disse ele, que atua no Blackburn Rover, da Inglaterra.
A federação rebate dizendo que é preciso fazer uma coisa de cada vez. Primeiro, montou uma liga, agora trabalha para criar categorias de base nos clubes e resolver o gargalo da profissionalização apontado por seu treinador. "A maioria das pessoas não entende isso", afirma Jim Moorhouse, diretor da US Soccer.
Atualmente, a formação de jogadores no país é feita por meio de um sistema curioso.
A federação seleciona alguns jovens e os coloca em um programa especial. Durante a liga, os atletas são cedidos aos clubes. Fora da temporada, formam um time e excursionam pelo exterior.
Mas o projeto não teve grande peso na formação do time norte-americano que hoje joga as quartas-de-final -só 2 dos 23 convocados emergiram do programa.
A alternativa é seguir o caminho tomado, por exemplo, pelo atacante Landon Donovan, eleito o melhor em campo na vitória sobre o México, nas oitavas.
Aos 17 anos, ele assinou um contrato com o Bayer Leverkusen, da Alemanha. Ficou duas temporadas no clube, mas pouco jogou. Voltou aos EUA -e, agora, após o sucesso da Copa, pode retornar ao futebol europeu.
Se por um lado valorizam sua liga, batizada de MLS, os americanos levaram à Copa um time que tem a maioria de seus jogadores baseada no exterior.
Com tantos desafios, os EUA reconhecem que o futebol em seu país ainda não tem uma cara, apesar de sua seleção já conseguir chegar às quartas-de-final de uma Copa do Mundo.
"A América precisa de uma identidade, de um jeito de jogar futebol", afirma o meia O'Brien, que está há seis anos no futebol europeu -defende o Ajax.
Para esta Copa, o time montou o seu próprio estilo, que até aqui vem dando certo em campo.
É peculiar: os americanos dizem abertamente que preferem jogar sem a bola nos pés, deixando com o que o adversário tome o controle do jogo, para então aproveitar os erros do rival.
"Foi uma decisão tomada no começo do ano", diz o treinador. Mas a opção já faz, por exemplo, que Arena se veja em meio a um questionamento bem conhecido pelos treinadores brasileiros: não seria importante também que o time tivesse um jogo bonito, vistoso, algo que poderia ajudar a arregimentar mais torcedores?
"Uma das equipes que mais entretinham o público era a França", rebate ele. "O negócio não é entreter o público. Nesse momento, nossa idéia é obter resultados. Em todo o mundo, as pessoas querem torcer para um vencedor." (ROBERTO DIAS)



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