São Paulo, quarta-feira, 21 de julho de 2004

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

FUTEBOL

Um excelente time

TOSTÃO
COLUNISTA DA FOLHA

"Quem tem 44 programas sociais termina não tendo nenhum." (Lula)
Parece discurso da oposição. No futebol, é a mesma coisa. Na Copa de 66, foram convocados 44 jogadores e não se formou um time. O Brasil caiu na primeira fase.
Há dez anos, no Mundial de 94, o Brasil teve um time. Um excelente time. Parreira definiu a equipe, o esquema tático e mudou pouco. Em vez de jogar com três no meio-campo e um meia na ligação com os dois atacantes, como a seleção atual, a de 94 atuava com quatro no meio (dois volantes e um armador de cada lado) e dois atacantes.
Poucas vezes vi um sistema defensivo tão eficiente quanto o da seleção de 94. A bola não chegava ao gol do Taffarel. Mauro Silva foi o jogador que melhor fez a dupla função de volante-zagueiro no futebol brasileiro.
A deficiência da equipe era na saída para o ataque. Os quatro armadores marcavam muito atrás e não tinham velocidade para chegar à frente.
Raí atuou mal, não porque estava em má fase ou tinha problemas psicológicos, como diziam, e sim porque jogou fora de posição. No São Paulo, era um meia-atacante, que se destacava pela chegada à área. Na seleção, marcava no campo do Brasil, ajudava o lateral-direito e ficava longe do gol.
Dunga era lento, tinha pouca mobilidade, mas possuía um ótimo passe curto e longo, finalizava com eficiência de fora da área, se posicionava e marcava muito bem. Era também guerreiro, capitão, líder e técnico em campo. Nem todo capitão é líder. Dunga era um excelente volante.
O momento do Mundial que mais me fascinou foi o gol do Romário contra a Holanda. Após o jogo, eu e o mestre Armando Nogueira ficamos um longo tempo nos estúdios da TV Bandeirantes assistindo ao lance nos seus detalhes, para compreendê-lo.
Da esquerda, Bebeto tocou para o Romário, que chegou um pouquinho atrasado. Se ele esticasse a perna para finalizar como fariam os outros atacantes, erraria o chute porque estaria com o corpo desequilibrado. É assim que se perdem gols que parecem fáceis. Romário saltou, ficou com os dois pés no ar, como se fosse um bailarino, olhou para o goleiro e, mesmo sem o pé de apoio no gramado, tocou no canto. Genial.
Discordo dos que acham que a seleção de 94 jogava feio e era defensiva. Era um time equilibrado, havia ótimos jogadores em todas as posições. E a beleza do futebol não está só nos lances individuais de ataque. É bonito também ver uma defesa bem organizada e o time se movimentando com harmonia e segurança.

Excelente atuação
A seleção brasileira venceu e convenceu contra o México. Jogou melhor do que se esperava. Pensei que seria uma partida equilibrada, por causa da experiência e do conjunto do time mexicano e da vitória sobre a Argentina. O Brasil foi muito melhor.
Porém não se pode passar da depressão à euforia por um jogo. A imprensa pode ser ciclotímica, mas não os jogadores. Com Parreira e Zagallo, não há esse perigo. Parreira é sempre realista, e o Zagallo, sempre eufórico.
Adriano mostrou de novo que tem mais técnica e velocidade do que se pensava. Tem o corpo e a cara do gigante verde Hulk. Contra o México, deslocou-se para a esquerda e fez ótimos cruzamentos. Dessa forma, a seleção não fica com dois centroavantes fixos e juntos pelo meio, como se temia.
Facilitado pelo recuo do México, Edu (no primeiro tempo) e Kleberson se aproximaram mais dos atacantes. A seleção não precisa de dois meias ofensivos, sem a obrigação de marcar, como muitos pedem. O time necessita de armadores que marcam e avançam com talento, como faz Juninho Pernambucano.
Parreira deveria observar o Felipe com mais carinho. Ele é que deveria ter sido experimentado nos primeiros jogos, na função do Edu, e não o Diego na do Kleberson. Felipe já atuou bem nessa posição. Ele teria de driblar quando estivesse na intermediária do outro time. Em algumas situações, poderia ainda jogar como um ponta, entrando no lugar do Edu ou de um dos atacantes.
Mas já acabou a fase de testes. Para Parreira, Diego é reserva do Felipe, que é reserva do Alex, que é reserva do Kaká. Tudo definido e ponto final, mesmo se a história do jogo for diferente da prevista.
Hoje, o Brasil é favorito, mas não deverá ser tão fácil como contra o México. O Uruguai não vai ter a prepotência dos mexicanos.

E-mail
tostao.folha@uol.com.br


Texto Anterior: Tênis - Régis Andaku: Eu adoro, você ignora, eles odeiam
Próximo Texto: Futebol: Invicto há 5 jogos, Corinthians leva vaia
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.