|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
FUTEBOL
Um excelente time
TOSTÃO
COLUNISTA DA FOLHA
"Quem tem 44 programas
sociais termina não tendo
nenhum." (Lula)
Parece discurso da oposição. No
futebol, é a mesma coisa. Na Copa
de 66, foram convocados 44 jogadores e não se formou um time. O
Brasil caiu na primeira fase.
Há dez anos, no Mundial de 94,
o Brasil teve um time. Um excelente time. Parreira definiu a
equipe, o esquema tático e mudou
pouco. Em vez de jogar com três
no meio-campo e um meia na ligação com os dois atacantes, como a seleção atual, a de 94 atuava com quatro no meio (dois volantes e um armador de cada lado) e dois atacantes.
Poucas vezes vi um sistema defensivo tão eficiente quanto o da
seleção de 94. A bola não chegava
ao gol do Taffarel. Mauro Silva
foi o jogador que melhor fez a dupla função de volante-zagueiro
no futebol brasileiro.
A deficiência da equipe era na
saída para o ataque. Os quatro
armadores marcavam muito
atrás e não tinham velocidade
para chegar à frente.
Raí atuou mal, não porque estava em má fase ou tinha problemas psicológicos, como diziam, e
sim porque jogou fora de posição.
No São Paulo, era um meia-atacante, que se destacava pela chegada à área. Na seleção, marcava
no campo do Brasil, ajudava o lateral-direito e ficava longe do gol.
Dunga era lento, tinha pouca
mobilidade, mas possuía um ótimo passe curto e longo, finalizava
com eficiência de fora da área, se
posicionava e marcava muito
bem. Era também guerreiro, capitão, líder e técnico em campo.
Nem todo capitão é líder. Dunga
era um excelente volante.
O momento do Mundial que
mais me fascinou foi o gol do Romário contra a Holanda. Após o
jogo, eu e o mestre Armando Nogueira ficamos um longo tempo
nos estúdios da TV Bandeirantes
assistindo ao lance nos seus detalhes, para compreendê-lo.
Da esquerda, Bebeto tocou para
o Romário, que chegou um pouquinho atrasado. Se ele esticasse a
perna para finalizar como fariam
os outros atacantes, erraria o chute porque estaria com o corpo desequilibrado. É assim que se perdem gols que parecem fáceis. Romário saltou, ficou com os dois
pés no ar, como se fosse um bailarino, olhou para o goleiro e, mesmo sem o pé de apoio no gramado, tocou no canto. Genial.
Discordo dos que acham que a
seleção de 94 jogava feio e era defensiva. Era um time equilibrado,
havia ótimos jogadores em todas
as posições. E a beleza do futebol
não está só nos lances individuais
de ataque. É bonito também ver
uma defesa bem organizada e o
time se movimentando com harmonia e segurança.
Excelente atuação
A seleção brasileira venceu e
convenceu contra o México. Jogou melhor do que se esperava.
Pensei que seria uma partida
equilibrada, por causa da experiência e do conjunto do time mexicano e da vitória sobre a Argentina. O Brasil foi muito melhor.
Porém não se pode passar da
depressão à euforia por um jogo.
A imprensa pode ser ciclotímica,
mas não os jogadores. Com Parreira e Zagallo, não há esse perigo. Parreira é sempre realista, e o
Zagallo, sempre eufórico.
Adriano mostrou de novo que
tem mais técnica e velocidade do
que se pensava. Tem o corpo e a
cara do gigante verde Hulk. Contra o México, deslocou-se para a
esquerda e fez ótimos cruzamentos. Dessa forma, a seleção não fica com dois centroavantes fixos e
juntos pelo meio, como se temia.
Facilitado pelo recuo do México, Edu (no primeiro tempo) e
Kleberson se aproximaram mais
dos atacantes. A seleção não precisa de dois meias ofensivos, sem
a obrigação de marcar, como
muitos pedem. O time necessita
de armadores que marcam e
avançam com talento, como faz
Juninho Pernambucano.
Parreira deveria observar o Felipe com mais carinho. Ele é que
deveria ter sido experimentado
nos primeiros jogos, na função do
Edu, e não o Diego na do Kleberson. Felipe já atuou bem nessa posição. Ele teria de driblar quando
estivesse na intermediária do outro time. Em algumas situações,
poderia ainda jogar como um
ponta, entrando no lugar do Edu
ou de um dos atacantes.
Mas já acabou a fase de testes.
Para Parreira, Diego é reserva do
Felipe, que é reserva do Alex, que
é reserva do Kaká. Tudo definido
e ponto final, mesmo se a história
do jogo for diferente da prevista.
Hoje, o Brasil é favorito, mas
não deverá ser tão fácil como contra o México. O Uruguai não vai
ter a prepotência dos mexicanos.
E-mail
tostao.folha@uol.com.br
Texto Anterior: Tênis - Régis Andaku: Eu adoro, você ignora, eles odeiam Próximo Texto: Futebol: Invicto há 5 jogos, Corinthians leva vaia Índice
|