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Bola dentro
Com recorde olímpico de gols, esquecidas lutam agora pelo 1º pódio
FÁBIO SEIXAS
ENVIADO ESPECIAL A HERAKLIO
O time dá show. Cristiane é artilheira do torneio. Andréia, a goleira, só foi vazada duas vezes. Rosana aplicou um chapéu ontem e,
em outro lance, matou a bola no
peito e tocou para Formiga fazer
um de seus gols. Marta pedalou,
deixou uma rival no chão, golaço.
Mas elas se sentem sós, carentes.
E têm motivos para isso.
Elas jogam futebol e ontem à
noite, em Heraklio, na ilha de Creta, com um estádio vazio, igualaram o melhor desempenho do
país em Olimpíadas. Com sua segunda goleada consecutiva, 5 a 0
sobre o México, classificaram a
seleção feminina às semifinais.
Na pior das hipóteses, deixarão
a Grécia com um quarto lugar.
Resultado idêntico aos de Atlanta-96 -estréia das mulheres nos
gramados- e de Sydney-2000.
Pelo que vêm
fazendo em
campo, porém, a
chance de medalha nunca foi tão
grande. Alguns
tabus elas já quebraram. Nunca
nenhum time
havia marcado
13 gols num torneio olímpico feminino. Nunca antes o Brasil havia ganho três vezes em Jogos ou
sofrido tão poucos gols. Mas há
ainda outros a estraçalhar. O
maior deles: a solidão.
Desde que começou sua campanha na Grécia, por exemplo, a
equipe só foi visitada duas vezes
por um dirigente do COB. Chefe
de missão do Comitê Olímpico
Brasileiro, Marcus Vinícius Freire
esteve na estréia, em Tessalônica,
dia 10, e reapareceu em Heraklio.
Tratamento semelhante ao recebido da própria CBF. Na Grécia,
representando a Fifa na comissão
de arbitragem dos Jogos, Ricardo
Teixeira viu a primeira partida.
No dia 13, assistiu à festa de abertura. No sábado, deixou a Grécia,
algo difícil de imaginar caso a seleção masculina tivesse conseguido sua classificação para os Jogos.
"Seria legal se a gente tivesse um
pouco mais de atenção das instituições", disse ontem, depois da
partida, a zagueira Aline. "Mas
talvez só uma medalha mude isso,
abra alguns olhos."
Talvez. Mas os olhos, por ora,
estão bem fechados. O futebol é
um tipo de pária olímpico. O feminino, mais ainda. E o do Brasil
tem seu adicional de problemas.
Fifa e COI vivem às turras. Há,
ainda, o antigo preconceito contra mulheres jogando bola.
E, no Brasil, o futebol feminino,
embora "menos profissional" do
que outras modalidades olímpicas, recebe menos dinheiro.
Dos esportes que representam o
país em Atenas, o futebol é o único que não ganha um centavo da
Lei Piva. Ironia do destino, é um
dos que vêm mostrando de modo
mais flagrante a tal "evolução técnica" decantada pelo discurso de
Carlos Artur Nuzman, presidente
do COB, para justificar o uso das
verbas das loterias.
Na Grécia, há outros agravantes
para a solidão. A seleção ainda
não atuou em Atenas. E não sentiu -nem vai sentir totalmente- o gostinho da Vila Olímpica.
A delegação ficou três dias na
Vila, antes de viajar para Tessalônica. Vai repetir a dose caso vá à
final. Antes, porém, terá que passar pela irregular Suécia, que ontem fez 2 a 1 na Austrália.
A semifinal será em Patras, na
segunda-feira. No mesmo dia, em
Heraklio, EUA e Alemanha decidem a outra vaga para a final.
Caso repita os desempenhos
dos 7 a 0 sobre a Grécia, na terça, e
do jogo de ontem, o time de Renê
Simões não terá grandes problemas para chegar à final. Apenas o
de sempre. A solidão.
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