|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
falha nossa
Dualib não soube parar, declara vice
Nesi Curi conta a amigos que carta de renúncia, já assinada por ele, chega hoje ao Conselho Deliberativo do Corinthians
Acusado de ter enriquecido
no clube, dirigente declara
ter perdido patrimônio
e viver somente de sua
aposentadoria na Fepasa
EDUARDO ARRUDA
PAULO GALDIERI
DA REPORTAGEM LOCAL
Envolvido em vários escândalos da administração de Alberto Dualib que abalaram o
Corinthians, Nesi Curi, 82, vice-presidente afastado, disse a
pessoas próximas já ter assinado a carta de renúncia e que
Dualib seguirá esse caminho.
Contou que ontem, após reunião entre eles, ficou acertado
que a saída de ambos será oficializada hoje pelo presidente
do Conselho Deliberativo, Carlos Senger, que, em seguida, deve marcar novas eleições.
Sempre arredio à imprensa,
aceitou conceder entrevista à
Folha, mas apenas por e-mail.
O cartola, que desde os anos
40 freqüenta o Parque São Jorge, onde, a partir dos 60, passou
a fazer parte da vida política corintiana, disse que Dualib não
soube a hora de deixar o poder.
Porém afirma não ter medo
de ser preso, mesmo sendo réu
em processo na Justiça Federal
por lavagem de dinheiro e formação de quadrilha.
FOLHA - O senhor cometeu algum
crime durante sua participação nas
administrações do Corinthians?
NESI CURI - Sim. Cometi o crime
de esquecer de minha vida pessoal, cuidar de mim na velhice.
Chegava todos os dias às sete da
manhã no Parque São Jorge.
Saía invariavelmente depois
das seis. E agora sou tratado,
por alguns, como alguém que só
se aproveitou do clube.
FOLHA - O senhor e Alberto Dualib
são suspeitos de terem se beneficiado financeiramente no esquema de
emissão de notas frias no clube... O
senhor, de fato, ganhou algo?
NESI - Moro num apartamento
de classe média em Moema, de
três dormitórios, há mais de 19
anos. Quando fui nomeado diretor de futebol morava num
apartamento próprio, de uma
unidade por andar, em Higienópolis, na rua Maranhão.
Meus vizinhos eram o Fernando Henrique Cardoso, o vice-presidente do Bradesco, Leonardo Gracia Júnior. Eu era o
maior atacadista de arroz da
zona do mercado, mas deixava
tudo em segundo plano, meus
negócios, inclusive, para me dedicar ao Corinthians.
FOLHA - Relatório da comissão processante do clube considerou que
seu patrimônio cresceu consideravelmente. O senhor ganhou dinheiro no Corinthians?
NESI - O único imóvel que possuo é o apartamento em que
moro, comprado com financiamento que só terminei de pagar
neste ano. Vivo de aposentadoria da Fepasa. Minha declaração de renda está à disposição.
FOLHA - O senhor acha que pode
ser preso?
NESI - Claro que não.
FOLHA - Dentro do clube sempre
disseram que o senhor controlava as
categorias de base e usava isso para
obter vantagens. O senhor fez isso?
NESI - Minha gestão, entre aspas, na categoria de base, resultou na maior safra de revelações de todos os tempos no Corinthians. Pode fazer o levantamento. O senhor sabia que só
em 2006 vendemos R$ 22 milhões em garotos? Não vou nem
falar do Willian, neste ano. Por
que quem me calunia não apresenta um recibo que seja ou depósito de suborno em minha
conta? Ninguém neste país foi
mais grampeado que eu. Por
que não aparece nada neste
sentido contra mim? Uma conversinha estranha que fosse,
minha com um empresário? Eu
respondo: porque não existe.
FOLHA - Como ficará o Corinthians
sem o senhor e Dualib no comando?
NESI - Trindade [Alfredo Ignácio, ex-presidente] foi um grande líder, mas não soube a hora
de parar. Perdeu para um conselheiro inexpressivo na época,
de nome Vicente Matheus. Wadih Helu foi um líder tão importante que até hoje influencia na vida politica do clube.
Não soube parar, perdeu para
um conselheiro também inexpressivo como Miguel Martinez, que foi deposto. Dualib
quis um mandato a mais, sem
necessidade. Se tivesse parado
em 2005, com o Corinthians
mais uma vez campeão, teria
uma estátua no Parque São
Jorge. Ninguém ganhou mais
títulos que ele. E nenhum realizador é reconhecido em vida.
FOLHA - O senhor declarou não conhecer os investidores da MSI à Justiça, mas as gravações mostram o
contrário, que o senhor tentou preservar Boris Berezovski. Por quê?
NESI - Meu advogado me
orientou a não falar sobre isso.
FOLHA - Como tem sido sua rotina
depois do afastamento do cargo?
NESI - Têm sido os dias mais
tristes de minha vida. Só me
lembro de me sentir assim
quando perdi minha mulher.
Hoje, acordo cedo, vou à mesma padaria que freqüento há
anos, volto, leio meu jornal, recebo ligações de alguns conselheiros, tomo meus remédios.
Jamais pensei em passar por isso. Tenho 82 anos de idade, 60
de Corinthians. Preciso lutar
contra o diabetes, a pressão alta, estas coisas da idade. Sofro,
mas sei que essa crise do clube
vai passar. Tenho a consciência
tranqüila, dei muito de mim ao
Corinthians. Se pudesse voltar
atrás, teria feito tanta coisa de
outra maneira. Teria impedido
que gente estranha ao Corinthians nos tivesse levado a esta
situação constrangedora. Teria
ouvido mais meus amigos.
Texto Anterior: Painel FC Próximo Texto: MSI: Governo está isento, diz procurador Índice
|