São Paulo, sexta-feira, 21 de setembro de 2007

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falha nossa

Dualib não soube parar, declara vice

Nesi Curi conta a amigos que carta de renúncia, já assinada por ele, chega hoje ao Conselho Deliberativo do Corinthians

Acusado de ter enriquecido no clube, dirigente declara ter perdido patrimônio e viver somente de sua aposentadoria na Fepasa

EDUARDO ARRUDA
PAULO GALDIERI
DA REPORTAGEM LOCAL

Envolvido em vários escândalos da administração de Alberto Dualib que abalaram o Corinthians, Nesi Curi, 82, vice-presidente afastado, disse a pessoas próximas já ter assinado a carta de renúncia e que Dualib seguirá esse caminho.
Contou que ontem, após reunião entre eles, ficou acertado que a saída de ambos será oficializada hoje pelo presidente do Conselho Deliberativo, Carlos Senger, que, em seguida, deve marcar novas eleições. Sempre arredio à imprensa, aceitou conceder entrevista à Folha, mas apenas por e-mail.
O cartola, que desde os anos 40 freqüenta o Parque São Jorge, onde, a partir dos 60, passou a fazer parte da vida política corintiana, disse que Dualib não soube a hora de deixar o poder. Porém afirma não ter medo de ser preso, mesmo sendo réu em processo na Justiça Federal por lavagem de dinheiro e formação de quadrilha.

 

FOLHA - O senhor cometeu algum crime durante sua participação nas administrações do Corinthians?
NESI CURI -
Sim. Cometi o crime de esquecer de minha vida pessoal, cuidar de mim na velhice. Chegava todos os dias às sete da manhã no Parque São Jorge. Saía invariavelmente depois das seis. E agora sou tratado, por alguns, como alguém que só se aproveitou do clube.

FOLHA - O senhor e Alberto Dualib são suspeitos de terem se beneficiado financeiramente no esquema de emissão de notas frias no clube... O senhor, de fato, ganhou algo?
NESI -
Moro num apartamento de classe média em Moema, de três dormitórios, há mais de 19 anos. Quando fui nomeado diretor de futebol morava num apartamento próprio, de uma unidade por andar, em Higienópolis, na rua Maranhão. Meus vizinhos eram o Fernando Henrique Cardoso, o vice-presidente do Bradesco, Leonardo Gracia Júnior. Eu era o maior atacadista de arroz da zona do mercado, mas deixava tudo em segundo plano, meus negócios, inclusive, para me dedicar ao Corinthians.

FOLHA - Relatório da comissão processante do clube considerou que seu patrimônio cresceu consideravelmente. O senhor ganhou dinheiro no Corinthians?
NESI -
O único imóvel que possuo é o apartamento em que moro, comprado com financiamento que só terminei de pagar neste ano. Vivo de aposentadoria da Fepasa. Minha declaração de renda está à disposição.

FOLHA - O senhor acha que pode ser preso?
NESI -
Claro que não.

FOLHA - Dentro do clube sempre disseram que o senhor controlava as categorias de base e usava isso para obter vantagens. O senhor fez isso?
NESI -
Minha gestão, entre aspas, na categoria de base, resultou na maior safra de revelações de todos os tempos no Corinthians. Pode fazer o levantamento. O senhor sabia que só em 2006 vendemos R$ 22 milhões em garotos? Não vou nem falar do Willian, neste ano. Por que quem me calunia não apresenta um recibo que seja ou depósito de suborno em minha conta? Ninguém neste país foi mais grampeado que eu. Por que não aparece nada neste sentido contra mim? Uma conversinha estranha que fosse, minha com um empresário? Eu respondo: porque não existe.

FOLHA - Como ficará o Corinthians sem o senhor e Dualib no comando?
NESI -
Trindade [Alfredo Ignácio, ex-presidente] foi um grande líder, mas não soube a hora de parar. Perdeu para um conselheiro inexpressivo na época, de nome Vicente Matheus. Wadih Helu foi um líder tão importante que até hoje influencia na vida politica do clube. Não soube parar, perdeu para um conselheiro também inexpressivo como Miguel Martinez, que foi deposto. Dualib quis um mandato a mais, sem necessidade. Se tivesse parado em 2005, com o Corinthians mais uma vez campeão, teria uma estátua no Parque São Jorge. Ninguém ganhou mais títulos que ele. E nenhum realizador é reconhecido em vida.

FOLHA - O senhor declarou não conhecer os investidores da MSI à Justiça, mas as gravações mostram o contrário, que o senhor tentou preservar Boris Berezovski. Por quê?
NESI -
Meu advogado me orientou a não falar sobre isso.

FOLHA - Como tem sido sua rotina depois do afastamento do cargo?
NESI -
Têm sido os dias mais tristes de minha vida. Só me lembro de me sentir assim quando perdi minha mulher. Hoje, acordo cedo, vou à mesma padaria que freqüento há anos, volto, leio meu jornal, recebo ligações de alguns conselheiros, tomo meus remédios. Jamais pensei em passar por isso. Tenho 82 anos de idade, 60 de Corinthians. Preciso lutar contra o diabetes, a pressão alta, estas coisas da idade. Sofro, mas sei que essa crise do clube vai passar. Tenho a consciência tranqüila, dei muito de mim ao Corinthians. Se pudesse voltar atrás, teria feito tanta coisa de outra maneira. Teria impedido que gente estranha ao Corinthians nos tivesse levado a esta situação constrangedora. Teria ouvido mais meus amigos.


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