São Paulo, domingo, 21 de setembro de 2008

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JUCA KFOURI

Quanta inteligência!


Já imaginou juntar num mesmo time um bando de craques com a bola nos pés e com a cabeça acima da média?

FUTEBOL SE joga com a cabeça, já dizia Sócrates, o jogador, não o filósofo.
O filósofo, por sinal, não está no time do "Filósofos Futebol Clube, 11 Grandes Pensadores Entram em Campo", livro do inglês Mark Perryman, lançado no Brasil pela Edisal Editora em 2004.
Mas estão Albert Camus, Simone de Beauvoir, William Shakespeare, Umberto Eco, Antonio Gramsci e... Bob Marley, para ficar só em alguns mais badalados.
Sei que conversa vem, conversa vai, num desses botecos da vida, o tema era o fecho da coluna de Tostão no domingo passado, que reproduzo para introduzir outro assunto: "Quem seria o novo técnico? O fato me faz lembrar de 2001, quando fui convidado por Ricardo Teixeira para ser diretor técnico, logo após a saída de Leão. Eu escalaria o técnico.
Fiquei seduzido pela experiência, mas recusei porque era um cargo de confiança, e eu não tinha, como não tenho, nenhuma simpatia por sua administração. Seria incoerência. Se aceitasse, diria a Ricardo Teixeira que só me entusiasmaria com Felipão. Penso hoje da mesma forma.
Fora ele, não tenho convicção por nenhum outro, embora reconheça que existam bons treinadores. Não escolheria Luxemburgo. Para ser treinador da seleção brasileira, não bastam comando e conhecimentos técnicos. Talvez Paulo Autuori.
Além de ser experiente, ter um bom preparo científico e outras qualidades, Autuori foi campeão brasileiro, da Libertadores e do Mundial de Clubes. Mas, neste momento, seria melhor um treinador mais visionário, como foi João Saldanha, em 1969, um louco, como Bielsa, capaz de tirar a seleção dessa paralisante mesmice. Paulo Autuori é muito racional. Melhor ainda se o técnico fosse racional e sonhador, mais sonhador do que racional, uma mistura de Sancho Pança e Dom Quixote.
Quem seria?
Não sei. Esse tipo de pessoa e de profissional está fora de moda."
Eis que, então, resolvi mandar uma mensagem para Tostão: "Dr. Eduardo, responda, sem pensar muito, por favor, o que lhe ocorre ao ler uma escalação como a que segue: Rogério Ceni; Paul Breitner, Elias Figueroa, Franz Beckenbauer e Sorín; Falcão, Sócrates e Cruyjff; Caszely, Tostão e Valdano. No banco, Gilmar dos Santos Neves, Dario Pereyra, Leonardo, Michel Platini e Casagrande".
A resposta não demorou: "A única coisa que pensei na hora sobre seu time é que ele é formado por jogadores um pouco mais letrados ou mais bem esclarecidos. Gostei de fazer tabela no ataque com Valdano, com Sócrates e Cruyjff chegando de trás".
Pois eu adoraria ver juntos o tucano Rogério; o deslocado e descolado maoísta Breitner; Figueroa, que era amigo de Neruda e o declamava; o privilegiado craque, técnico e dirigente, o conservador Beckenbauer; o lateral-esquerdo mais intelectualizado que já vi, Sorín; a sensibilidade de Falcão; a originalidade anárquica de Sócrates; o romantismo eficaz de Cruyjff; a coragem do chileno Caszely, que enfrentou Pinochet; a genialidade que faz de Tostão o melhor de nós, porque escreve como jogava; e a inteligência do argentino Valdano. E dê uma olhada no banco! Que eQuIpe!

blogdojuca@uol.com.br


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