São Paulo, terça-feira, 21 de setembro de 2010

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LOS GRINGOS JUAN PABLO VARSKY

A vida em um capítulo


Aquilo que custa toda uma vida a alguns jogadores, Martín Palermo consegue fazer em uma só partida


MARTÍN PALERMO acrescentou um novo capítulo à sua vida de cinema. Marcou três gols em dois goleiros (o titular foi substituído devido a uma lesão), e perdeu um pênalti. Tudo isso em 90 minutos.
O que custa toda uma vida a alguns jogadores, ele faz em uma só partida; vestiu-se de mulher, descoloriu os cabelos, comemorou gols ao modo budista, transferiu-se do Estudiantes ao Boca Juniors, foi campeão argentino, marcou seu centésimo gol com o joelho estourado, sua transferência à Lazio da Itália fracassou, e ele se recuperou e voltou com um gol inesquecível diante do River Plate na Libertadores; depois, marcou dois contra o Real Madrid pela Copa Intercontinental-2000 e partiu à Europa.
No velho continente, não se saiu bem. No Villarreal, subiu a uma mureta para comemorar um de seus poucos gols pelo clube e ela desabou sobre sua perna. Passou pelo Betis sem tristeza nem glória. E sua temporada final no Alavés o convenceu de que seu lugar no mundo do futebol ficava na Argentina.
Após três anos e meio fora do país, voltou ao Boca Juniors na temporada 2004/05, e foi medíocre. Deixou como lembrança um golaço de bicicleta no Banfield, mas não se classificou à Libertadores. Jogava longe da meta e parecia ter perdido o instinto de goleador. Aos 32 anos, sua carreira parecia esgotada.
Mas, se o futebol fosse medido apenas por vontade e perseverança, Palermo seria o melhor do mundo. Desafiou suas limitações, propelido por uma personalidade inabalável que o levou a se rebelar contra todas as adversidades. Em 2005, Alfio Basile assumiu o Boca e o forçou a jogar mais perto da área. O goleador voltou com tudo. Mas ninguém o imaginava como jogador de seleção. Tinha 35 anos e, em sua curta passagem pela equipe nacional, havia errado três pênaltis contra o Paraguai, na Copa América de 1999.
No entanto Maradona o convocou, e o homem que faz chover marcou o gol mais importante das eliminatórias. Conquistou vaga na Copa da África.
Jogou dez minutos contra a Grécia e conseguiu o que Messi não foi capaz de fazer em cinco jogos: um gol. Sua celebração emocionou o país e lhe valeu o respeito de todos. Diante de Martín Palermo, perdemos a capacidade do espanto. E, no domingo, diante do Colón, ele voltou a fazê-lo. Mais do que um novo capítulo em sua vida de cinema, o jogo resumiu sua vida de cinema em um único capítulo.


JUAN PABLO VARSKY é colunista de futebol do jornal argentino "La Nación" e do site Canchallena.com

Tradução de PAULO MIGLIACCI


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