São Paulo, segunda, 21 de setembro de 1998

Texto Anterior | Índice

ATLETISMO
Corredor mineiro diz que vibrou mais com a vitória na São Silvestre de 94 do que com recorde da maratona
'Sou recordista do mundo', diz Ronaldo

da Reportagem Local

"Você está falando com o novo recordista do mundo."
Em tom jocoso, Ronaldo da Costa, o novo recordista da maratona explicou à Folha que, nem de forma remota, imaginava alcançar o feito de ontem. Segundo ele, a conquista da São Silvestre, em 1994, foi mais emocionante do que a vitória na Alemanha.
"Fui um pouco fraco no começo da prova. Estava correndo para fazer em 2h07min50 ou em 2h08min", explicou o atleta, especialista em provas de distâncias menores (10km a 15 km).
"Até a metade, eu estava perseguindo os quenianos. Depois que assumi a liderança (no 22º km) sabia que podia ganhar. Quando faltavam 3 km para o final, meu manager (o colombiano Luiz Posso) começou a correr gritando que eu ia quebrar o recorde. Foi Deus quem me empurrou", completou.
"Eu ainda não assimilei o que aconteceu. Acho que só daqui a três dias vou me dar conta de que bati o recorde. Estou emocionado, mas não como quando eu ganhei a São Silvestre", disse o atleta.
"Eu pulei, sambei, dei cambalhota no pódio como fiz na São Silvestre, mas não foi igual."
Ao contrário dos corredores de elite brasileira, Ronaldo da Costa fez os três meses de preparação para a prova em sua cidade natal, Descoberto, no interior mineiro. Deixou de lado a paulista Campos do Jordão, normalmente escolhida por conta da altitude elevada.
Seu retorno ao Brasil só acontece na próxima segunda-feira. Antes, participa, em Zurique (Suíça), do Mundial de Meia-Maratona.
Pouco antes de comemorar com Coca-Cola o recorde numa boate da cidade alemã, o corredor concedeu a seguinte entrevista à Folha.
(JOSÉ ALAN DIAS)

Folha - Como você consegue explicar bater o recorde mundial na sua segunda maratona?
Ronaldo da Costa -
Não era meu objetivo. Nem ganhar a prova. Eu queria correr bem. Quebrar o recorde mundial, então...Tudo ajudou, estava me sentindo muito bem, o tempo estava bom. Eu estou tão bem que posso correr outra maratona agora.
Folha - Depois da vitória na São Silvestre, em 94, você não obteve as mesmas performances. O que aconteceu?
Costa -
Eu vim de competições sem intervalo de 92 a 95. O corpo não aguenta. A partir de 96, comecei a selecionar mais as provas. O que me deixou magoado é que as pessoas criticam sem saber dos problemas. Perdi uma irmã, que morreu de Aids, passei por uma inflamação séria nos dentes.
Folha - E por que você optou pela maratona?
Costa -
Para quem está voltando, é uma prova muito boa, deixa pronto para outras de distância menor. Estou gostando e acho que o natural é me dedicar mais a esse tipo de prova e meia-maratona.
Folha - Você acha possível melhorar seu recorde?
Costa -
Recorde mundial é uma coisa que todo mundo quer bater. Sou recordista hoje, amanhã pode ser outro. O importante é que se perguntarem hoje quem é o recordista da maratona, todo mundo vai saber que é o Ronaldo da Costa, do Brasil. E consegui o recorde com pouco tempo nessa prova.
Folha - Que impacto o recorde terá na sua carreira?
Costa - Deve mudar muita coisa. Vão me respeitar mais. No Brasil, deve aumentar o interesse, trazer mais ajuda para o esporte.



Texto Anterior | Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.