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ATLETISMO
Corredor mineiro diz que vibrou mais com a vitória na São Silvestre de 94 do que com recorde da maratona
'Sou recordista do mundo', diz Ronaldo
da Reportagem Local
"Você está falando com o novo recordista do mundo."
Em tom jocoso, Ronaldo da Costa, o novo recordista da maratona
explicou à Folha que, nem de forma remota, imaginava alcançar o
feito de ontem. Segundo ele, a
conquista da São Silvestre, em
1994, foi mais emocionante do que
a vitória na Alemanha.
"Fui um pouco fraco no começo da prova. Estava correndo
para fazer em 2h07min50 ou em
2h08min", explicou o atleta, especialista em provas de distâncias
menores (10km a 15 km).
"Até a metade, eu estava perseguindo os quenianos. Depois
que assumi a liderança (no 22º km)
sabia que podia ganhar. Quando faltavam 3 km para o final, meu manager
(o colombiano Luiz Posso) começou a correr gritando que eu ia
quebrar o recorde. Foi Deus quem
me empurrou", completou.
"Eu ainda não assimilei o que
aconteceu. Acho que só daqui a
três dias vou me dar conta de que
bati o recorde. Estou emocionado,
mas não como quando eu ganhei a
São Silvestre", disse o atleta.
"Eu pulei, sambei, dei cambalhota no pódio como fiz na São Silvestre, mas não foi igual."
Ao contrário dos corredores de
elite brasileira, Ronaldo da Costa
fez os três meses de preparação
para a prova em sua cidade natal,
Descoberto, no interior mineiro.
Deixou de lado a paulista Campos
do Jordão, normalmente escolhida por conta da altitude elevada.
Seu retorno ao Brasil só acontece
na próxima segunda-feira. Antes,
participa, em Zurique (Suíça), do
Mundial de Meia-Maratona.
Pouco antes de comemorar com
Coca-Cola o recorde numa boate
da cidade alemã, o corredor concedeu a seguinte entrevista à Folha.
(JOSÉ ALAN DIAS)
Folha - Como você consegue explicar bater o recorde mundial na
sua segunda maratona?
Ronaldo da Costa - Não era
meu objetivo. Nem ganhar a prova. Eu queria correr bem. Quebrar
o recorde mundial, então...Tudo
ajudou, estava me sentindo muito
bem, o tempo estava bom. Eu estou tão bem que posso correr outra maratona agora.
Folha - Depois da vitória na São
Silvestre, em 94, você não obteve
as mesmas performances. O que
aconteceu?
Costa - Eu vim de competições
sem intervalo de 92 a 95. O corpo
não aguenta. A partir de 96, comecei a selecionar mais as provas. O
que me deixou magoado é que as
pessoas criticam sem saber dos
problemas. Perdi uma irmã, que
morreu de Aids, passei por uma
inflamação séria nos dentes.
Folha - E por que você optou pela
maratona?
Costa - Para quem está voltando, é uma prova muito boa, deixa
pronto para outras de distância
menor. Estou gostando e acho que
o natural é me dedicar mais a esse
tipo de prova e meia-maratona.
Folha - Você acha possível melhorar seu recorde?
Costa - Recorde mundial é uma
coisa que todo mundo quer bater.
Sou recordista hoje, amanhã pode
ser outro. O importante é que se
perguntarem hoje quem é o recordista da maratona, todo mundo
vai saber que é o Ronaldo da Costa,
do Brasil. E consegui o recorde
com pouco tempo nessa prova.
Folha - Que impacto o recorde
terá na sua carreira?
Costa - Deve mudar muita coisa. Vão me respeitar mais. No Brasil, deve aumentar o interesse, trazer mais ajuda para o esporte.
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