São Paulo, quinta-feira, 21 de outubro de 2004

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África e Europa se dobram a "elefantes" marfinenses

Yves Herman - 30.set.04/Reuters
Atletas do Beveren, equipe belga que tem 16 marfinenses, celebram a vaga na fase de grupos da Copa da Uefa, que começa hoje


Costa do Marfim embala equipe sensação da Copa da Uefa e, em busca da primeira Copa do Mundo, põe seleção na frente de "leões indomáveis"

LUÍS FERRARI
RODRIGO BUENO
DA REPORTAGEM LOCAL

Quando o Beveren, time belga, iniciar hoje a sua trajetória na Copa da Uefa, que abre sua fase de grupos, a Europa estará de vez rendida ao futebol marfinense.
O velho continente e a África, acostumada com o reinado dos leões, vê agora os "elefantes" irem à caça da elite da bola e da Copa.
A extinção da Costa do Marfim da história dos Mundiais tem tudo para acabar. A seleção marfinense, cujos jogadores são apelidados de "elefantes", lidera seu grupo nas eliminatórias da Copa de 2006 e apavora os temidos "leões indomáveis" de Camarões.
A potencial surpresa do Mundial da Alemanha tem 12 pontos no Grupo 3 do qualificatório africano, quatro a mais que os camaroneses, que foram a todas as Copas desde 1990, na Itália. Mais: no returno do grupo, que tem outros três países, enfrentam os ex-favoritos camaroneses em casa.
Os primeiros colocados de cada uma das cinco chaves da atual fase das eliminatórias africanas vão diretamente à Copa. Nos outros quatro grupos, os favoritos iniciais seguem dependendo só de si para se classificar. Isso quer dizer que o continente que produziu as sensações das últimas Copas (Camarões em 1990, Nigéria em 1994 e Senegal em 2002) deve destacar em 2006 a Costa do Marfim.
O sucesso no futebol do país que é líder mundial na exportação de cacau não veio à toa. Algumas das principais estrelas africanas no badalado futebol europeu na atualidade são "elefantes".
A Costa do Marfim, que começou a deslanchar no cenário internacional há 12 anos, quando ganhou a Copa da África, ocupa hoje a 45ª posição no ranking da Fifa -subiu 13 posições na lista em relação ao mês passado e 25 em comparação com o final de 2003.
Clubes do velho continente aproveitam o qualificado "pé-de-obra" marfinense em larga escala, mas um em especial, o Beveren, bate recorde de importados de uma única nacionalidade.
O goleiro Barry Boubacar, 24, o zagueiro Emmanuel Eboué, 21, o meia Marco Né, 21, todos da seleção marfinense, e mais seis compatriotas foram titulares do Beveren vice-campeão da Copa da Bélgica deste ano. O resultado classificou o time para a atual Copa da Uefa. Em casa, o Beveren -14º na liga belga - pega hoje o Stuttgart, do brasileiro Bordon.
Segundo o diretor de marketing do Beveren, Dirk Dobbeleir, a composição do elenco -16 marfinenses e nove belgas- é a mais africana da história dos maiores torneios europeus.
A africanização do elenco foi a única alternativa que o clube, fundado na cidade homônima em 1920, encontrou para não fechar as portas devido a uma crise financeira que começou em 2000.
Faltavam recursos para manter jogadores europeus no elenco. Ao mesmo tempo, o ex-jogador da seleção francesa (entre 1974 e 1978) Jean-Marc Guillou, que havia acabado de se tornar dirigente do Beveren, procurava uma equipe européia para os jogadores formados em sua academia, em Abidjã -maior centro comercial do país e sede do principal time marfinense, o Asec. "A chegada dos africanos foi a solução natural", disse Dobbeleir, acrescentando que na Bélgica não há limitações para o uso de estrangeiros.
O início foi difícil. Na temporada 2001/2002, o clube terminou o campeonato em último lugar, com apenas 14 pontos. Só não caiu porque os clubes que deveriam ser promovidos (RWDM e Aalst) não cumpriram as exigências para atuar na elite.
Após a adaptação dos marfinenses, o técnico Herman Helleputte deu melhor padrão de jogo ao time, que se classificou para a final da Copa da Bélgica.
Nas arquibancadas do acanhado estádio em Beveren (com capacidade para 13.290 pagantes) não há lamentações pelo fato de o time ter mais africanos que belgas. Pelo contrário. "Os torcedores estão felizes com os atletas da Costa do Marfim. O time está jogando bem", afirmou seu diretor.


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