São Paulo, sábado, 21 de outubro de 2006

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JOSÉ GERALDO COUTO

A arte das multidões


Apesar de todas as crises, o futebol deve vencer a briga com a F-1, o cinema e as artes pela conquista do público


QUEM DEU o mote foi o cineasta pernambucano Lírio Ferreira, que está em São Paulo para apresentar na Mostra Internacional de Cinema o seu documentário sobre o mestre Cartola. Disse ele: neste fim de semana, o futebol vai mostrar que ainda é a grande diversão popular do país.
É que, especialmente em São Paulo, nosso esporte favorito disputa as atenções do público com poderosos eventos: o GP de F-1 em Interlagos, a Bienal de Artes no Ibirapuera e a Mostra Internacional de Cinema espalhada por toda a Paulicéia.
Para fazer frente a essa orgia de atrações, o que oferece o futebol? Bem, na Série A eu aposto em três jogos mobilizadores das massas: Grêmio x São Paulo, amanhã, às 16h, em Porto Alegre, Fortaleza x Atlético-PR, no mesmo horário, em Fortaleza, e Corinthians x Cruzeiro, duas horas depois, no Pacaembu.
Mas é nas séries B e C que se concentrarão provavelmente as maiores multidões. Pela Segundona, dois confrontos prometem: Atlético-MG x Avaí, no Mineirão, e o derby recifense Sport x Náutico, na Ilha do Retiro, ambos hoje, às 15h45. E, na Série C, a capital do futebol amanhã será Salvador, com a realização concomitante de dois jogos cruciais: Vitória x Treze-PB, no Barradão, e Bahia x Ferroviário-CE, na Fonte Nova.
A "tese" de Lírio Ferreira é a de que essas partidas atrairão, juntas, mais de 200 mil pessoas, superando o público somado dos outros eventos citados. É bem possível. A intensidade do drama certamente não ficará atrás. Haverá nos estádios choro e ranger de dentes mas também riso e dança. Apesar dos pesares, que não são poucos, nossa arte mais popular continua viva.

Imperdível
Por falar em cinema, há na Mostra Internacional de São Paulo pelo menos um filme que o amante do futebol não deve perder: "O Ano em que Meus Pais Saíram de Férias", de Cao Hamburger.
O ano em questão é 1970, e revemos a memorável Copa do México pelos olhos de um garoto cujos pais, opositores da ditadura, estão sumidos na clandestinidade. As imagens do Mundial são as mesmas que estamos cansados de ver, mas, transfiguradas pela delicada tessitura dramática do filme, ganham a dimensão de uma epifania.
Impossível não se emocionar, impossível não voltar àquele momento único de comunhão num país cindido dolorosamente entre direita e esquerda, ricos e pobres, torturadores e torturados.
Tenho para mim que o que uniu aquela "corrente pra frente" não foi tanto o sentimento patriótico, mas o amor ao futebol sublime de Pelé, Tostão e cia. Naquelas semanas da Copa do México, a seleção brasileira foi a vanguarda de todas as artes, e os amantes de futebol do mundo inteiro foram, por um momento, brasileiros como eu e você.

FRANGO REGISTRADO
Nada como levantar a bola para o leitor estufar as redes. Uma dúzia de amigos virtuais me escreveram para dizer que a falha grotesca do goleirão Marcos citada aqui no sábado passado ocorreu em Palmeiras 2 x 7 Vitória, no Parque Antarctica, pela Copa do Brasil-03. O gol foi de Nadson, hoje no Corinthians.

ANIMAL SENTIMENTAL
Pela terceira vez na carreira, Edmundo perdeu um pênalti contra o time que o revelou, o Vasco. Não acho que o craque perca esses gols de propósito. Ocorre que, dentro de cada um de nós, convivem, nem sempre em harmonia, várias versões de nós mesmos. Há em Edmundo um Edmundo que nunca saiu de São Januário, que nunca tirou a camisa do Vasco, e que impede o Edmundo profissional de cumprir o dever contra o ex-clube.

jgcouto@uol.com.br


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