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COI nega acordo entre Rogge e Pequim
Segundo dirigente chinês, presidente do comitê fez lobby por Jogos na China em troca de votos do país em sua eleição
Em sua autobiografia, Yuan Weimin diz que pacto foi selado às vésperas da decisão da sede de 2008 e da escolha do novo chefe da entidade
LUCIANA COELHO
DE GENEBRA
O COI (Comitê Olímpico Internacional) negou ontem que
Jacques Rogge, 67, tenha feito
acordos escusos com a China
para vencer a eleição para presidente da entidade em 2001.
Um livro recém-lançado do
presidente do Comitê Olímpico
Chinês, Yuan Weimin, diz que
Pequim foi escolhida sede
olímpica de 2008 graças a votos
ganhos em troca do apoio da
China a Rogge -as duas eleições ocorreram no mesmo congresso, realizado em Moscou.
"Os votos naquela ocasião foram tão maciçamente para o
presidente Rogge e para Pequim que não faria nem sentido
haver um acordo", disse à Folha o diretor de comunicação
do COI, Mark Adams, acrescentando que a alegação é
"completamente falsa".
A escolha de Pequim, na época, foi muito criticada por conta
do histórico chinês de violações
dos direitos humanos e cerceamento de liberdades, embora
as promessas de boicote à
Olimpíada não tenham se concretizado em nada expressivo.
Rogge chegou a se justificar,
depois, dizendo que houve "ingenuidade" do COI em crer que
a cúpula chinesa abdicaria da
repressão pelos Jogos.
Yuan escreveu em sua autobiografia que Rogge teria concordado verbalmente em persuadir membros europeus do
COI a votarem em Pequim,
com a promessa de que teria
apoio dos delegados chineses.
Na ocasião, venceu o sul-coreano Kim Un-yong e o canadense
Dick Pound ao obter 59 votos
contra 45 dos rivais juntos.
O comitê afirmou que Rogge
-eleito após pregar modernização e reeleito como candidato único no início do mês para
um período de mais quatro
anos- "construiu sua campanha em cima de um programa
forte e muito bem recebido entre os membros do COI".
Segundo trechos vertidos ao
inglês pelo jornal britânico
"The Times", o livro "Yuan
Weimin e os Ventos e Nuvens
do Mundo Esportivo" afirma
ainda que a candidatura de Pequim teve sucesso graças à aplicação de princípios chineses de
guerra contra os rivais -Toronto, Istambul e Paris.
"Embora não tivéssemos um
contrato por escrito com Rogge, havia um entendimento
particular", escreveu Yuan, de
acordo com o "Times". O "entendimento" incluiria, diz,
apoiar o belga e não o sul-coreano, frustrando os colegas
asiáticos. O ex-ministro escreve ainda, diz o "Times", que um
dos delegados rompeu o pacto
ao escolher Kim, causando
mal-estar na delegação.
A eficácia de um suposto
acordo, dado que os votos são
secretos, é questionável. Mas a
acusação -ou admissão- por
parte de Yuan é algo raro na política esportiva pelo fato de ser
pública, o que levou o COI a logo responder às alegações.
O alegado entendimento, nos
trechos traduzidos pelo "Times", foi selado pelo então prefeito de Pequim, Liu Qi, em
"uma sala discreta de um centro de conferências de Genebra" às vésperas da decisão.
Segundo Yuan, Rogge disse
que uma vitória francesa para
2008 o prejudicaria, posto que
somaria uma dupla conquista
europeia, e desculpou-se por
não expressar apoio público a
Pequim para não descontentar
as rivais Paris e Istambul.
Rogge, embora não oficialmente, foi um entusiasta da
candidatura do Rio à Olimpíada de 2016. A vitória foi considerada uma demonstração de
força do grupo do belga sobre o
de seu antecessor, Juan Antonio Samaranch, cujo filho fez
parte da campanha de Madri.
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