São Paulo, quinta-feira, 21 de novembro de 2002

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AÇÃO

"Vai, mas não cai não"

CARLOS SARLI
COLUNISTA DA FOLHA

Há cerca de quatro anos, três montanhistas, enquanto escalavam a Pedra da Boca, avistaram ao sul uma cadeia de montanhas na qual um monólito rochoso se destacava. Meses mais tarde, voltaram à região e conquistaram a primeira via na Pedra Riscada, em São José do Divino (MG), região pródiga para os amantes da escalada tradicional.
Há quatro meses Ralph, Edgardo e Emerson voltaram à montanha para explorar uma segunda via. Na mesma época, numa outra face da Pedra, outros cinco escaladores, Márcio Bertolusso, Chander Cristian, Leandro Oliveira, Oscar Andres e Breno Azevedo, acabaram abrindo a via que se tornaria a mais extensa do Brasil, com 1.260 metros.
O grupo levou oito dias e cerca de 300 quilos em equipamentos e mantimentos para chegar ao cume. Considerando que esse volume incluía água para uma semana, grampos de segurança e 600 metros de corda, levaram o mínimo necessário a fim de ganhar velocidade. Também para ganhar tempo, realizaram passagens de até 60 metros entre os grampos que eram fixados, aumentando a exposição e o risco na subida.
Mesmo acelerando, no sexto dia a equipe encarou ventos de até 70 quilômetros por hora e chuva, e o ataque ao cume foi adiado. Enquanto isso, água e comida terminavam. No sétimo dia, o clima não estava muito melhor. Chegaram ao topo dois dias depois do previsto, com fome, mas felizes. O tempo seguiu ruim, garantindo nova aventura na descida.
A via, batizada pelo bordão mais ouvido durante a subida e título da coluna, não está entre as mais difíceis do país. Também não havia nenhum grande nome do esporte entre os integrantes do grupo, o que os próprios fazem questão de destacar. Fizeram pelo desafio, pelo prazer da conquista e para abrir mais uma opção aos colegas praticantes.
O montanhismo no Brasil vive um momento favorável. Antes concentrado nas regiões Sul e Sudeste, hoje o esporte se espalha por todo o país. Montanhas são descobertas, e vias são abertas.
Academias de ginástica oferecem a opção das paredes artificiais, e a Casa de Pedra, maior espaço para escalada indoor da América Latina, promete inaugurar outra área, ainda maior. A grande mídia tem dado mais atenção ao assunto, e o número de veículos especializados cresce.
Assim, os resultados têm aparecido. Em setembro, Thiago Balen e Guilherme Zavaschi abriram no Pico do Segredo, em Caçapava do Sul (RS), a primeira 10 A, nível máximo na escala de dificuldade do Estado. Guilherme Cetani e Roman Romancini acabam de voltar da Bolívia, onde fizeram a Cabeça do Condor. No Sul-Americano de Bolder, modalidade sem corda disputada em paredes baixas, com dificuldade concentrada, realizado no Chile há duas semanas, os brasileiros foram os três primeiros na principal categoria, com Diogo Ratacheski em primeiro, seguido por André Berezoski e Eduardo Carvalho.
O cenário só não está melhor devido à segurança no Rio. Maior centro urbano de escalada do mundo, grande parte do sistema de proteção fixo instalado é caseiro e data da década de 60. Mas, risco maior é ser alvo de fuzis, brinquedo comum nas mãos dos habitantes dos morros, privando milhares de praticantes daqui e de fora de algumas das vias e vistas mais lindas do mundo.

Havaí 1
Renan Rocha e Guilherme Herdy já foram eliminados do WQS seis estrelas que está sendo disputado em Haleiwa. A prova, decisiva para o ranking, abre a Tríplice Coroa, completada com as do WCT em Sunset e Pipeline.

Havaí 2
The North Shore Project, não se espantem, é um reality show que será rodado em uma casa em Rock Point. No melhor estilo ""Big Brother", sete convidados entre eles Sunny Garcia e Damien Hobgood terão suas intimidades esmiuçadas.

Havaí 3
Afirmando que sua aposentadoria será nas ilhas, o hexacampeão mundial Kelly Slater acaba de ser homenageado com a chave da cidade e nome de rua, Slater Road, em sua terra natal, Cocoa Beach, Flórida, onde diz, sempre viverá.

E-mail sarli@revistatrip.com.br


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