São Paulo, quarta-feira, 21 de novembro de 2007

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TOSTÃO

Torcedores trocam de lugar


O público hoje terá políticos, famosos, convidados das TVs, da CBF e do governo. E pouco do torcedor habitual


O TORCEDOR que irá hoje ao Morumbi não será o que vai normalmente ao estádio para torcer por seu clube, o que vai cedo para o campo em desconfortáveis conduções, o que não tem coragem de levar a família por causa da violência, o que leva o dinheiro certo para comer um sanduíche de mortadela, nem o que dança e canta durante a partida.<
O torcedor que irá hoje ao Morumbi é o que não tem hábito ou nunca foi a um estádio de futebol, o que vai levar a família, o que irá de táxi com medo de quebrarem seu carro, o que vai comer no estádio um sanduíche especial e o que vai cantar músicas de exaltação ao país. É um torcedor de TV, com o perfil de torcedor de vôlei e que vai trocar de lugar com o torcedor de campo. Muitos dos torcedores de hoje são políticos, celebridades, convidados de empresas, da CBF e do governo. Alguns nunca foram a um campo.
Terão à sua disposição muita mordomia. Enquanto isso, craques do passado e da seleção não deverão ser convidados. Repito: se eu fosse, não iria. Contra o Equador, Amarildo, o "possesso" da Copa de 1962, foi barrado na entrada do Maracanã. Certamente, alguns torcedores habituais e pobres, apaixonados pelo futebol, farão um grande sacrifício para comprar os caros ingressos com a esperança de ver os craques que eles conhecem somente da televisão.
Contra o Peru, o Brasil só jogou bem parte do primeiro tempo. Como Gilberto Silva e Mineiro se limitam a proteger os zagueiros e Kaká e Robinho atuam do meio-de-campo para a frente, Ronaldinho recuou para ser o armador do time, tentando tocar a bola e cadenciar o jogo. Alguém precisa fazer isso, e ele é o único que tem condições de exercer bem essa função, mas continua muito lento. Esta também não é a sua melhor posição, pois fica muito longe do gol.
A maior dificuldade da equipe brasileira, principalmente quando joga fora de casa, que ocorre há muito tempo, e não apenas com Dunga, não está na falta de vontade dos jogadores, no desenho tático, na escalação do time e na falta de tempo para treinar.
O maior problema está no fato de os zagueiros, os laterais e os volantes jogarem e marcarem muito atrás, o que obriga os três meias a recuarem e iniciarem as jogadas no próprio campo, muito longe da outra área. Em alguns momentos da partida contra o Peru, Ronaldinho parecia um volante. Ele tem que ser o meia de ligação.
Nessa postura da equipe, os laterais percorrem também um caminho mais longo para chegarem à frente, ainda mais quando são bem marcados. Maicon e Gilberto são também laterais; não são alas. Se a seleção brasileira marcasse e tomasse a bola mais na frente, pelo menos em parte da partida, a equipe chegaria ao ataque com mais jogadores, e os três meias estariam mais vezes e mais perto do centroavante e do gol.
Mas os técnicos morrem de medo e não sabem fazer uma boa marcação por pressão. Por marcar muito atrás e ter mais jogadores para defender do que para atacar, a defesa brasileira continua mais eficiente do que o ataque, mesmo com tantos craques.

tostao.folha@uol.com.br


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