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São Paulo, sábado, 22 de fevereiro de 2003

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FUTEBOL

Realidades paralelas

JOSÉ GERALDO COUTO
COLUNISTA DA FOLHA

Já virou um clichê dizer que não existe um Brasil, mas dois: o oficial e o real.
Essa afirmação ganhou força nos últimos dias, em que aconteceram simultaneamente duas coisas contraditórias: na quarta-feira, foi aprovado pela Câmara Federal o Estatuto de Defesa do Torcedor; na quinta, a CBF confirmou que vai desrespeitar as regras estabelecidas por ela mesma, colocando o Cruzeiro e o Flamengo na Copa Sul-Americana, em vez do Atlético-MG e do Juventude, que haviam conquistado esse direito no campo.
Para quem não se lembra, os seis clubes brasileiros que participariam da Sul-Americana seriam aqueles que ficassem entre a terceira e a oitava colocação no Brasileiro de 2002. O campeão e o vice brasileiros -Santos e Corinthians- participariam apenas da Libertadores da América. Portanto, os clubes brasileiros na Sul-Americana seriam Grêmio, Fluminense, São Paulo, São Caetano, Atlético-MG e Juventude.
Depois disso, a Conmebol abriu mais duas vagas para times brasileiros no torneio.
Diante disso, a CBF, se quisesse manter o que havia estabelecido, poderia simplesmente incluir o Santos e o Corinthians no grupo ou -o que talvez fosse mais indicado- conferir as vagas extras ao nono e ao décimo colocados no Brasileirão do ano passado (Cruzeiro e Vitória).
Mas a entidade máxima do futebol brasileiro não fez nada disso: desrespeitando o direito adquirido pelo Atlético-MG e pelo Juventude, zombando da boa-fé dos torcedores, destruindo o último fiapo de credibilidade que ainda lhes restava, Ricardo Teixeira e sua turma guindaram à Sul-Americana o Cruzeiro e o Flamengo, que não tinham entrado nessa história.
Pouco importa a desculpa apresentada para a escolha dos amigos do rei: a posição de ambos no ranking da Conmebol. A atitude da CBF equivale a uma virada de mesa e contradiz frontalmente o Estatuto do Torcedor, segundo o qual a participação em competições deve ser determinada "por critério técnico previamente definido".
Diante dessa violência, há duas reações possíveis: 1) engolir mais esse sapo, considerando-o sinal dos últimos estertores da camarilha que ainda domina o futebol, e que deverá ser varrida deste último; ou 2) contestar o golpe em todas as trincheiras possíveis: na Justiça desportiva, na Justiça comum, junto à Fifa, junto ao governo federal, na mídia, nos estádios etc.
A julgar pelas dezenas de e-mails indignados que recebi nos últimos dias, os torcedores estão mais inclinados à segunda opção. Estou com eles.
O golpe da CBF não é apenas contra o Atlético-MG e o Juventude, mas contra todo o futebol brasileiro. A rigor, até os torcedores do Cruzeiro e do Flamengo -clubes circunstancialmente beneficiados pela medida- deveriam protestar. Amanhã ou depois, dependendo dos interesses escusos da cartolagem, os lesados podem ser eles mesmos.
É preciso mudar definitivamente a cultura do nosso futebol.
Regras claras, respeito ao que foi estabelecido, transparência nas relações entre entidades e clubes, incentivo à competitividade dentro do campo de jogo. Se esses requisitos básicos não forem cumpridos, correremos o risco de matar a galinha dos ovos de ouro, jogando na lata do lixo o fabuloso futebol que nos consagrou.

Verdão redesenhado
O Palmeiras decide hoje seu destino no Paulistão. É provável que se classifique. O sofrível empate contra a Ponte Preta foi atípico: o alviverde ficou sem sua zaga titular logo no início do jogo, e a Macaca (especialmente Adrianinho e Wesley) jogou tudo o que ainda não havia jogado. Talvez a idéia de usar Adãozinho como líbero, surgida no improviso, dê resultado. Agora só falta mesmo Zinho e Pedrinho se encontrarem: um com o outro e com a bola.

Libertadores
Um pouco aos trancos, o Santos e o Corinthians avançam na Taça Libertadores. Até agora, há que se reconhecer, só pegaram times bem fracos. Para enfrentar os novos desafios, precisarão melhorar muito. O Santos tem potencial para jogar muito mais. O Corinthians, salvo alguma surpresa, parece estar perto do seu limite.

E-mail jgcouto@uol.com.br


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