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FUTEBOL
Realidades paralelas
JOSÉ GERALDO COUTO
COLUNISTA DA FOLHA
Já virou um clichê dizer que
não existe um Brasil, mas dois:
o oficial e o real.
Essa afirmação ganhou força
nos últimos dias, em que aconteceram simultaneamente duas
coisas contraditórias: na quarta-feira, foi aprovado pela Câmara
Federal o Estatuto de Defesa do
Torcedor; na quinta, a CBF confirmou que vai desrespeitar as regras estabelecidas por ela mesma,
colocando o Cruzeiro e o Flamengo na Copa Sul-Americana, em
vez do Atlético-MG e do Juventude, que haviam conquistado esse
direito no campo.
Para quem não se lembra, os
seis clubes brasileiros que participariam da Sul-Americana seriam
aqueles que ficassem entre a terceira e a oitava colocação no Brasileiro de 2002. O campeão e o vice brasileiros -Santos e Corinthians- participariam apenas
da Libertadores da América. Portanto, os clubes brasileiros na Sul-Americana seriam Grêmio, Fluminense, São Paulo, São Caetano,
Atlético-MG e Juventude.
Depois disso, a Conmebol abriu
mais duas vagas para times brasileiros no torneio.
Diante disso, a CBF, se quisesse
manter o que havia estabelecido,
poderia simplesmente incluir o
Santos e o Corinthians no grupo
ou -o que talvez fosse mais indicado- conferir as vagas extras
ao nono e ao décimo colocados no
Brasileirão do ano passado (Cruzeiro e Vitória).
Mas a entidade máxima do futebol brasileiro não fez nada disso: desrespeitando o direito adquirido pelo Atlético-MG e pelo
Juventude, zombando da boa-fé
dos torcedores, destruindo o último fiapo de credibilidade que
ainda lhes restava, Ricardo Teixeira e sua turma guindaram à
Sul-Americana o Cruzeiro e o
Flamengo, que não tinham entrado nessa história.
Pouco importa a desculpa apresentada para a escolha dos amigos do rei: a posição de ambos no
ranking da Conmebol. A atitude
da CBF equivale a uma virada de
mesa e contradiz frontalmente o
Estatuto do Torcedor, segundo o
qual a participação em competições deve ser determinada "por
critério técnico previamente definido".
Diante dessa violência, há duas
reações possíveis: 1) engolir mais
esse sapo, considerando-o sinal
dos últimos estertores da camarilha que ainda domina o futebol, e
que deverá ser varrida deste último; ou 2) contestar o golpe em todas as trincheiras possíveis: na
Justiça desportiva, na Justiça comum, junto à Fifa, junto ao governo federal, na mídia, nos estádios etc.
A julgar pelas dezenas de e-mails indignados que recebi nos
últimos dias, os torcedores estão
mais inclinados à segunda opção.
Estou com eles.
O golpe da CBF não é apenas
contra o Atlético-MG e o Juventude, mas contra todo o futebol brasileiro. A rigor, até os torcedores
do Cruzeiro e do Flamengo -clubes circunstancialmente beneficiados pela medida- deveriam
protestar. Amanhã ou depois, dependendo dos interesses escusos
da cartolagem, os lesados podem
ser eles mesmos.
É preciso mudar definitivamente a cultura do nosso futebol.
Regras claras, respeito ao que
foi estabelecido, transparência
nas relações entre entidades e clubes, incentivo à competitividade
dentro do campo de jogo. Se esses
requisitos básicos não forem cumpridos, correremos o risco de matar a galinha dos ovos de ouro, jogando na lata do lixo o fabuloso
futebol que nos consagrou.
Verdão redesenhado
O Palmeiras decide hoje seu
destino no Paulistão. É provável que se classifique. O sofrível empate contra a Ponte
Preta foi atípico: o alviverde
ficou sem sua zaga titular logo no início do jogo, e a Macaca (especialmente Adrianinho e Wesley) jogou tudo o
que ainda não havia jogado.
Talvez a idéia de usar Adãozinho como líbero, surgida no
improviso, dê resultado.
Agora só falta mesmo Zinho
e Pedrinho se encontrarem:
um com o outro e com a bola.
Libertadores
Um pouco aos trancos, o
Santos e o Corinthians avançam na Taça Libertadores.
Até agora, há que se reconhecer, só pegaram times bem
fracos. Para enfrentar os novos desafios, precisarão melhorar muito. O Santos tem
potencial para jogar muito
mais. O Corinthians, salvo alguma surpresa, parece estar
perto do seu limite.
E-mail jgcouto@uol.com.br
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