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Edmundo cobra cheque sem fundo de Luxemburgo
Jogador emprestou R$ 400 mil em 1999 ao então técnico da seleção, alegou que eram amigos, mas nunca foi pago
RODRIGO MATTOS
ENVIADO ESPECIAL AO RIO
Vanderlei Luxemburgo pegou
R$ 400 mil de Edmundo em 1999.
Seria apenas um empréstimo entre amigos, hoje pendenga judicial, não fosse pelo fato de o primeiro, naquele ano, ser o técnico
da seleção brasileira, e o segundo,
um aspirante ao time nacional.
Para pagar o débito, o treinador
deu dois cheques ao jogador. Um
deles não tinha fundos e foi devolvido para o banco. A dívida nunca
foi quitada. E o atacante palmeirense passou a cobrá-la, na Justiça
do Rio, no final do ano passado.
No processo, obtido pela Folha,
advogados de Edmundo classificam Luxemburgo como um
"amigo" do jogador, ao justificar
o empréstimo. Hoje, ambos têm
até o mesmo advogado, mas não
nesta ação. Michel Assef defende
o atacante e o treinador em processos criminais. Neste caso, atua
ao lado do técnico na Justiça cível.
A relação dos dois sempre foi
conturbada -em 1994, quando
estavam no Palmeiras, discutiram
e chegaram a trocar socos.
Em junho de 1999, o treinador
deixou o jogador de fora da Copa
América, apesar de boas atuações
no final do primeiro semestre pelo Vasco. Na ocasião, questionado
sobre Edmundo e Romário, não
quis responder, mas disse que
queria jogadores que se adequasse à sua filosofia, em referência a
problemas disciplinares.
O empréstimo de Edmundo a
Luxemburgo aconteceu algum
tempo depois desse episódio
-no processo, a data não foi informada. Fato é que o treinador
deu dois cheques pré-datados de
R$ 200 mil ao jogador, agendados
para 11 de agosto e 11 de setembro.
Em 23 de agosto, Edmundo tentou depositar um cheque, mas ele
não tinha fundos. Foi devolvido
pelo Bank Boston.
Na ação, advogados do palmeirense contam que o técnico pediu
que ele não usasse os cheques até
que recebesse um aviso. A justificativa de Luxemburgo era que
"estava tentando pagar suas dívidas, que na época eram muitas",
dizem os advogados.
O ano de 1999, porém, foi um
nos quais o técnico ganhou mais
dinheiro na sua carreira, segundo
dados da CPI do Futebol, no Senado, que devassou sua vida um
ano mais tarde -segundo relatório, ele recebeu R$ 5,922 milhões,
com débitos de R$ 5,6 milhões.
Depois do empréstimo, Luxemburgo só mudaria de opinião sobre a utilidade de Edmundo na seleção em maio de 2000, quando
chamou o jogador para a partida
contra o Peru, pelas eliminatórias
da Copa-2002. Foi a única vez.
Na ocasião, o atacante voltava
de 50 dias de contusão e só tinha
atuado três vezes pelo Vasco, sem
destaque. "Não esperava ser convocado. Voltei a jogar há uma semana. Além disso, não estou no
melhor da minha forma", declarou o jogador, na época.
Foi também a única chance que
o jogador teve após a Copa de
1998, quando saiu criticando a comissão técnica da seleção pela
atuação no episódio da crise nervosa de Ronaldo. Expulso na partida do Peru, só voltaria ao time
nacional com outro técnico, Leão.
Segundo seus advogados na
ação, Edmundo cobra a dívida do
técnico há seis anos. E não pode
mais usar os cheques, que têm
prazo de seis meses. Então, entrou
com processo em que pede R$
1,066 milhão de Luxemburgo, valor que corresponde ao dinheiro
emprestado mais juros e multas.
No início de fevereiro, a juíza da
25ª Vara Cível do Rio de Janeiro,
Simone Gastesi Crevrand, mandou o técnico pagar a dívida ou
oferecer embargos à execução
(tentativa de suspender a ordem).
Ele ainda não foi intimado.
Se Luxemburgo nada fizer, Edmundo terá direito a um título
executivo judicial contra o treinador. Ou seja, poderá penhorar
bens do técnico do Santos. "Sou
advogado de ambas as partes e isso pode facilitar o acordo", disse
Michel Assef. "Não quero mais falar nada, nem o Luxemburgo."
Advogado de Edmundo, Luiz
Roberto Leven Siano confirmou a
existência do processo. "Não quero fazer comentários sobre o caso
que está na Justiça", disse.
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