São Paulo, domingo, 22 de fevereiro de 2009

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TOSTÃO

Realidade e imaginação


O passado é importante para compreender e melhorar o presente e para sonhar com o futuro

A MEMÓRIA é diferente da lembrança. Nem tudo o que está na memória é lembrado. Muitas coisas queremos esquecer. Mesmo assim, elas continuam presentes, disfarçadas, de outras formas.
Não podemos fugir de nossos fantasmas. Hoje, quero lembrar de algumas coisas que imaginei e vi, e não apenas das que vivi. O que imaginamos é real para nós.
Nos anos 50, meu pai me contava histórias sobre Zizinho, Puskas e, principalmente, sobre Di Stéfano. Para o meu pai, eram os três melhores jogadores do mundo na época. Mesmo depois que Pelé foi coroado o Rei do Futebol, meu pai falava que Pelé era o melhor do mundo, mas que Di Stéfano era o único jogador que conseguia ser um supercraque de uma área a outra. Pelé reinava do meio para a frente.
Na Copa de 1994, almoçava sozinho no centro de imprensa em Dallas, Estados Unidos, quando se apresentou um senhor mais velho. Ele disse que acompanhou minha carreira de jogador, pediu licença e falou: "Meu nome é Di Stéfano". Era ele. O meu ídolo, que não vi jogar durante toda uma partida, mas que morou na minha imaginação, estava diante de mim. Quase cai da cadeira. Almoçamos juntos e batemos longo papo sobre futebol e sobre a Copa.
Não lembro bem da Copa de 1954. Porém lembro do querido mestre Armando Nogueira escrevendo coisas maravilhosas sobre Puskas e sobre a seleção húngara que eliminou o Brasil.
Em 1958, acompanhei toda a Copa pelo rádio, em um bar do bairro Industriários, onde morava, na companhia de meu pai, de meus três irmãos e de uma enorme torcida. Após o título, dançamos e cantamos pelas ruas. Não imaginava que, oito anos depois, estaria jogando uma Copa ao lado de Pelé e Garrincha.
Recentemente, vi na íntegra todos os jogos do Brasil na Copa de 1958, disputada na Suécia. Eu, um crítico que sempre teve a preocupação de não exagerar nem glamourizar tanto as coisas do passado, surpreendi-me. Pelé, Garrincha, Didi, Nilton Santos e outros grandes craques eram ainda melhores do que conta a história.
No final dos anos 50 e início dos anos 60, assisti pela televisão às mais belas partidas de minha vida, entre o Santos, de Pelé, Coutinho e Zito, contra o Botafogo, de Garrincha, Didi e Nilton Santos. Não esqueço um gol que Pelé fez, tabelando com Coutinho e jogando a bola por cima do goleiro Manga.
Continuo com minhas lembranças. Na Copa de 1962, no Chile, Garrincha fez de tudo. Garrincha não foi somente o maior driblador e o mais lúdico jogador do mundo de todos os tempos. Ele tinha muita técnica e criatividade. Driblava seu marcador e, em uma fração de segundos, colocava a bola entre os zagueiros, para o companheiro para fazer o gol.
Tenho muito mais coisas para dizer, mas acabou o espaço. Pretendo terminar essas minhas lembranças na próxima coluna.
Preciso ainda falar da Copa do Mundo de 70 e de grandes times e de grandes craques mais recentes, como Zico, Romário, Ronaldo, Ronaldinho, Kaká e outros. Nos seus melhores momentos, esses jogadores foram tão bons quanto os grandes craques brasileiros do passado, com exceção, evidentemente, de Pelé e Garrincha.


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