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Neymar cresceu como astro de um "reality show"
Revelação santista teve a infância esmiuçada pela mídia, sofreu com ciúmes de time e ficou deprimido na Espanha
Protegido pela família, atacante não pode usar brinco para evitar "máscara" e precisa comprovar para a mãe, com notas, o que gasta
Caio Guatelli/Folha Imagem
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O atacante Neymar, em seu apartamento em Santos
PAULO COBOS
RICARDO VIEL
ENVIADOS ESPECIAIS A SANTOS
Ciúmes, uma pitada de drama, fama, dinheiro, um vilão e
um caso de amor precoce (com
a torcida do Santos). Foi assim,
como um "reality show", ou
uma novela das oito, que o atacante Neymar viveu nos últimos cinco anos, antes de se tornar uma espécie de antídoto
para a "Ronaldomania" que tomou conta do futebol paulista.
O garoto de 17 anos, que conseguiu dividir os holofotes com
o atacante corintiano (seu rival
hoje no Pacaembu) desde que
foi içado ao time profissional
do Santos, teve uma infância
única para um jogador de futebol, em qualquer época.
"Coloquei pressão nele quando tinha nove anos, quando vi
que ele tinha talento para se
tornar um grande jogador", diz
o pai do atacante, que também
se chama Neymar e é um ex-jogador profissional com passagens por Coritiba e clubes modestos do interior paulista.
E não foi só com a família,
evangélica e bastante unida,
que Neymar assumiu responsabilidades muito cedo. O atacante não teve como regra o
anonimato nas categorias de
base, o que aconteceu, para falar do Santos, com Pelé e Robinho, por exemplo.
Seus passos no clube foram
esmiuçados pela mídia desde
que ele tinha 12 anos.
O Santos o usou como garoto-propaganda de uniformes
quando ele tinha 13. Seu corpo
frágil e o rosto de eterno moleque apareceram em programas
de TV antes dos 14.
Com 14, já recebia salário de
executivo de multinacional
-estimados R$ 25 mil mensais
(hoje ganha R$ 85 mil, valor
não declarado oficialmente).
Tudo isso teve um preço.
"O mais difícil de tudo foi o
ciúme. Isso sempre aconteceu.
Os pais dos outros jogadores
das categorias de base não gostavam de que ele tivesse um salário alto enquanto os filhos deles ganhavam pouco", diz Neymar pai. "Vi num jogo juvenil
um companheiro de time impedindo o Neymar de bater
uma falta dizendo que ele [o
novo camisa 7 santista] pensava que era o dono do time", fala
Wagner Ribeiro, o empresário
da revelação do clube do litoral.
O sonho de uma transferência precoce para o futebol europeu também não acabou bem.
Em 2006, com 14 anos, Neymar
e seu pai foram para a Espanha
a convite do Real Madrid.
"Logo me ofereceram um
apartamento, escolas para os filhos [Neymar tem uma irmã] e
um bom dinheiro [ 1 milhão,
ou hoje cerca de R$ 3 milhões].
Estava pronto para assinar,
mas passou pouco mais de uma
semana e o Neymar começou a
ficar deprimido, a não comer
direito, pois sentia falta do arroz e feijão. Ele já é magro.
Achei então que era melhor
voltar para o Santos", afirma o
pai da revelação santista.
Wagner Ribeiro fez força para Neymar ficar no Real Madrid, mas hoje vê uma vantagem no fato de o garoto ter decidido voltar para o Brasil e feito um acordo para ganhar uma
bolada do Santos mesmo sem
ainda ser profissional.
"Logo depois daquela viagem, um promotor me acusou
de tráfico de menores. Levei o
pai e a mãe do Neymar a uma
audiência, e a juíza viu que
aquilo era absurdo. Se ele tivesse ficado, eu seria um vilão, o
que sempre acontece com o
empresário", fala Ribeiro, que
era o empresário de Robinho
quando ele forçou sua saída do
Santos, em 2005, e que apostou
em Neymar quando ele tinha
12 anos primeiro por superstição. "Ele nasceu em 5 de fevereiro, que é uma data especial
para mim por causa de um parente", afirma o empresário.
Máscara
Hoje, Neymar tem só quatro
jogos como profissional. E segue sendo diferente da turma.
Muito pelo que já rendeu de
dinheiro -seu pai vendeu os
40% da família sobre os direitos do atacante para o grupo
Sonda por estimados R$ 7,5 milhões, valor, segundo Ribeiro,
parecido ao que o Chelsea oferecia (esse era o negócio que o
empresário preferia).
E também porque Neymar
tem cuidados raros no futebol
de hoje. Em uma entrevista coletiva, ele disse que seu pai o
proibia de usar brincos.
Neymar pai explica o motivo.
"Ele tem brincos, correntes como as dos garotos da sua idade.
Mas não acho bom ele usar isso
em campo, nos treinos ou nas
entrevistas, senão logo vão falar que ele é mascarado", afirma o pai superprotetor.
Neymar, que mora com a família em um apartamento de
classe média a menos de 100 m
da Vila Belmiro, também não
pode esbanjar o dinheiro que
ganha. "Até hoje, quando ele
quer um refrigerante, me pede
R$ 10. Recentemente, a mãe,
que é quem toma conta do dinheiro, deu a ele um cartão de
débito, mas ele precisa trazer as
notas de onde gastou", conta o
pai, que diz que o filho pode ter
adiantado as coisas na vida profissional, mas que não vai fazer
isso na vida pessoal.
"Para um garoto, você dar um
campo, uma bola, é a maior alegria. O Neymar precisa se preocupar só em jogar futebol. Do
resto, a gente toma conta."
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