São Paulo, segunda, 22 de março de 1999

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Uma rodada de muito calor e pouco futebol

JOSÉ GERALDO COUTO
da Equipe de Articulistas

Talvez a culpa seja do calor, mas o fato é que faltou futebol nos jogos paulistas do fim-de-semana.
Sábado, no Canindé, Santos e Lusa até que fizeram um jogo disputado e com muita movimentação, mas ficaram devendo em matéria de técnica.
O primeiro gol da partida, de Jorginho para o Santos, é daqueles lances que vão deixar sempre a dúvida: foi erro, acaso ou golpe de gênio? O fato é que o jogador foi para a ponta, levantou a cabeça como se fosse cruzar e chutou direto para o gol, pegando o goleiro Fabiano no contrapé.
Domingo, Corinthians x Rio Branco e Palmeiras x Guarani me fizeram sentir saudades do "Desafio ao Galo", aquele torneio paulistano de várzea que a TV Record (se não me falha a memória) exibia nas manhãs de domingo.
Não vi justamente São Paulo x Portuguesa Santista, que parece ter sido o melhor dos jogos (pelo menos teve muitos gols).
Além do calor, Palmeiras e Corinthians têm a desculpa da maratona de partidas e viagens imposta pela disputa simultânea de três campeonatos importantes: o Paulista, a Libertadores e a Copa do Brasil.
Num dos poucos lances interessantes da rodada, o palmeirense Paulo Nunes ironizou a situação ao comemorar seu belo gol contra o Guarani simulando uma soneca em campo.
Seja como for, tanto o Palmeiras como o Corinthians mostraram pouca criatividade no ataque e uma alarmante fragilidade em seus sistemas defensivos -o que levou os palmeirenses a cometerem muitas faltas e os corintianos a contar com a ajuda dos deuses (e do juiz, que não apitou pênalti cometido por Marcelinho) para não tomar gols.
Outro lance memorável do domingo, aliás, foi o gol perdido por um jogador do Rio Branco no segundo tempo, praticamente embaixo da trave.
Em suma, uma rodada quase nula de um campeonato que não precisava ser tão longo (está apenas no começo) e extenuante.

Na última quarta, protestei contra a atitude da Parmalat de proibir o jogador Oséas de posar nu para uma revista.
O assunto rendeu. A rádio Bandeirantes resolveu fazer uma enquete junto aos ouvintes para saber sua opinião sobre a questão.
Até onde acompanhei a apuração, a grande maioria dos ouvintes (cerca de 70%) era a favor da proibição. Menos de 30% achavam, como eu, que se trata de uma ingerência arbitrária e indevida da empresa na vida particular do atleta.
Alguns leitores palmeirenses também me escreveram, a maioria manifestando apoio à proibição.
Um deles chegou a me chamar de "bicha enrustida", sem saber que revelava assim o grande fantasma que está por trás dessa discussão: o tabu do homossexualismo.
Quem tem medo de homem pelado deveria parar para tentar entender por quê.
De minha parte, já que o argumento utilizado pelos defensores da censura é o "interesse comercial do patrocinador", estou disposto a mudar de opinião se me provarem que um único produto Batavo (patrocinador do Corinthians) deixou de ser vendido porque Vampeta e Dinei posaram nus.

E-mail jgcouto@uol.com.br



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