São Paulo, sábado, 22 de abril de 2006

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Ex-treinador da encantadora seleção brasileira de 82 e do São Paulo bicampeão mundial morre de falência múltipla dos órgãos em Minas

TELÊ - 1931 - 2006

DA REPORTAGEM LOCAL

Morreu Telê Santana da Silva.
O ex-treinador, de 74 anos, estava internado desde o dia 25 de março no hospital Felício Rocho, em Belo Horizonte. A morte por falência múltipla dos órgãos foi confirmada às 11h50 de ontem.
Mineiro de Itabirito, Telê foi jogador voluntarioso, de boa técnica e rigorosa aplicação tática. Mas foi como treinador que gravou seu nome na história, equiparado a Rinus Michels, idealizador do "Carrossel Holandês" de 74, como um dos melhores técnicos a nunca erguer a Copa do Mundo.
Disciplinador e perfeccionista, redescobriu as qualidades técnicas e criativas do jogador brasileiro num período posterior à mecanização inspirada pelas escolas européias dos anos 70.
Embora não tenha conquistado títulos pela seleção, comandou um dos mais inesquecíveis escretes nacionais, o da Copa de 82. À frente do São Paulo, venceu por dois anos seguidos a Libertadores e o Mundial interclubes (92 e 93).
A vida de técnico começou por acaso. Após se retirar dos campos, Telê se dedicava, com o irmão Clodovê, às duas sorveterias no Rio que montou no final da carreira. O nome: Telêsorvex.
Mas, num dia de 1967, um dirigente convidou-o para assumir os juvenis do Fluminense. Telê exigiu salário e teve o pedido aceito.
Em 1969, assumiu o cargo de técnico da equipe principal. O time embalou e foi campeão.
Em 1970, foi dirigir o Atlético-MG. O Cruzeiro de então colecionava cinco títulos estaduais seguidos. Com Telê, os atleticanos interromperam o ciclo rival e, de quebra, levaram o título do primeiro Brasileiro, em 71 -o técnico voltou a vencer o Mineiro em 1988, também pelo Atlético.
Com esses títulos, mais o troféu gaúcho pelo Grêmio (77) e as taças paulistas pelo São Paulo (91 e 92), Telê se tornou o único técnico até hoje a vencer nas quatro maiores praças do futebol nacional.
No Palmeiras, em 1979, alcançou projeção nacional e caiu nas graças da CBF. Veio o convite para dirigir a seleção. Com craques como Zico, Sócrates, Falcão, Cerezo, Éder, Júnior e Leandro, montou uma equipe que encantou o mundo na Copa de 82, por características como ofensividade, refinamento no toque de bola e técnica dos atletas.
Apesar de ter caído na segunda fase diante da Itália de Paolo Rossi, aquele time está grudado à memória de quem acompanhou o Mundial da Espanha. "Foi a derrota mais dura da minha carreira, sem comparação", confessou.
Começou aí o estigma de pé-frio que o acompanharia por vários anos ao lado de outros tantos, como de pão-duro e ranzinza.
Foi trabalhar na Arábia Saudita de 1983 a 1985, quando foi convidado pela CBF a reassumir o antigo cargo no lugar de Evaristo de Macedo. No México-86, com um time sem o mesmo brilho do de quatro anos antes, o Brasil de Telê caiu nas quartas-de-final -contra a França, nos pênaltis.
A ameaça de aposentadoria, já feita em 79, ganhou força dez anos depois, ao ser demitido do Palmeiras. Tanto que relutou a dizer sim ao convite seguinte, o do São Paulo. Mas aceitou, com a promessa de que seriam só dois meses. Foram cinco anos, nos quais se tornou o mais importante técnico da história do clube.
O São Paulo foi à final do Brasileiro-90, mas perdeu para o Corinthians. Veio o título do Nacional-91, com Raí liderando o time.
Talvez tenha sido o período no qual Telê mais exerceu suas habilidades de "ourives" de atletas. Conseguiu forjar jogadores que jamais haviam rendido com outros técnicos, como Júnior Baiano, Ronaldão, Pintado etc.
No Morumbi, montou um time brilhante no ataque e que marcava com força e eficiência.
Em 1992, Telê voltou a disputar uma Libertadores, depois da decepção com o Atlético-MG 20 anos antes. Foi campeão do torneio continental e do Mundial interclubes, feito que repetiria no ano seguinte. Seu sucesso no São Paulo o fez favorito do público para novamente treinar a seleção no início da década de 90.
Em 1994, porém, o lendário time entrou em decadência. O ano seguinte foi muito atribulado. Enxergando confabulações da diretoria, Telê colocou o cargo à disposição várias vezes. Em janeiro de 96, veio a internação no hospital paulistano Dante Pazzanese.
Foi detectada uma isquemia na artéria carótida. A circulação sangüínea para o cérebro foi reduzida. A licença, que seria de duas semanas, prolongou-se por um ano. Telê até processou o São Paulo por não tê-lo auxiliado.
Ensaiou uma volta no início de 1997, chegando a assinar um contrato com o Palmeiras. O compromisso, contudo, acabou cancelado três meses depois.
Mudou-se de vez para Minas naquele ano e ainda manteve por alguns meses a função de colunista da Folha. Em 1998, interrompeu atividades ligadas ao futebol.


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