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ARTIGO
Morreu um brasileiro de primeira
JUCA KFOURI
COLUNISTA DA FOLHA
Morreu um grande brasileiro. Tão grande que um
dia, logo depois da derrota da seleção na Copa de 1982, o jornalista Alberto Dines, de raros elogios,
pediu para publicar um texto na
revista "Placar".
O título da matéria, para a surpresa geral, era: "Telê Santana
para presidente". O Brasil começava a sair dos anos de chumbo
da ditadura e, tanto quanto o time de Telê, o técnico encantava.
Porque Telê Santana sabia perder e sabia ganhar. Era, também,
um conservador, de rígidos padrões éticos.
O que combinava com deliciosos casos que contava como poucos, piadista incorrigível. O doutor Sócrates, por exemplo, que, como o irmão Raí, jogou seu melhor
futebol sob o comando dele, diz
que a primeira impressão que teve ao conhecê-lo foi a de que estava sendo apresentado ao próprio
pai, outra figura inesquecível, o
seu Raimundo.
Telê um dia revelou que gostaria de ver os jogos dos times que
dirigia das arquibancadas, ao lado da torcida. Porque, assim, poderia avaliar se os atletas estavam executando o que treinaram
e se agradavam aos que pagaram
ingresso para vê-los. Ele tinha a
exata consciência de seu papel,
como o do promotor de espetáculos que respeita os consumidores.
Sobre ele, Zico disse ter sido o
único técnico de quem jamais ouvira uma ordem para bater no rival. O único.
E foi Telê quem, irritado com as
jogadas dos cartolas, afirmou:
"O futebol não é coisa para gente
séria".
Não há dúvida de que, independentemente do mau atendimento
emergencial que teve ao sofrer seu
primeiro acidente vascular, muito de seu mal teve a ver com o estado de indignação que se apossou dele e o envenenou diante de
tantos desatinos que viu de perto.
A ponto de, no São Paulo, onde
sagrou-se bicampeão mundial,
protestar quando via seus comandados viajarem na classe econômica e os cartolas, na primeira.
Pois, agora, Telê Santana se vai.
De primeira. Imortal.
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