São Paulo, domingo, 22 de abril de 2007

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Até Delúbio move zebras nos Estados

Ex-tesoureiro do PT dá chute inicial em jogo do Itumbiara, símbolo dos clubes que usam improviso e ajuda estatal

Com pouco planejamento e auxílio das prefeituras, times saem do ostracismo para brigar pelo título nos grandes centros da bola


EDUARDO OHATA
PAULO COBOS
DA REPORTAGEM LOCAL

Planejar, crescer, encarar os grandes. O que seria a seqüência natural para um clube pequeno é pura ficção para as surpresas dos Estaduais em 2007. O improviso, quase sempre turbinado com dinheiro público, dá o tom em projetos pessoais, que, como mostra o histórico recente, têm fôlego curto.
É o caso de clubes que estavam no limbo ou buraco há bem pouco tempo e hoje lutam pelo título em seus Estados, como o Itumbiara (GO), a Chapecoense (SC), o Paranavaí (PR), a Cabofriense (RJ), o Tupi (MG) e o Itapipoca (CE).
Um caso emblemático está no Centro-Oeste. Lá, o prefeito José Gomes da Rocha (PMBD), grande produtor rural, investiu pesado em 2007 para contratar veteranos famosos, como Paulo Miranda e Beto, para o Itumbiara, que assim foi às semifinais do Goiano. "Eu tiro do bolso, de familiares, amigos e empresários para contratar jogadores", declara o político, que colocou a prefeitura para alavancar as rendas do clube.
Rocha lançou um programa em que o pagamento do IPTU dá direito a quatro ingressos para os jogos do Itumbiara.
As partidas do time contam com um convidado ilustre: Delúbio Soares, o tesoureiro do PT na época do mensalão.
"Ele é meu amigo, apesar de ser do PT e eu do PMDB. Ele é torcedor de vestir a camisa, entrar em campo e dar pontapé inicial. Ele é torcedor-símbolo do Itumbiara", afirma o prefeito, que sonha um dia em trabalhar na diretoria do Vasco, clube de seu coração.
No ano passado, a Chapecoense não caiu por pouco em Santa Catarina -foi a penúltima colocada. Hoje, só depende de suas forças para ganhar o segundo turno e enfrentar o Criciúma na decisão de 2007.
Para tal ascensão, uma troca do comando político da cidade é a justificativa, segundo Edir de Marco, o presidente do time. "O PT administrou por aqui por oito anos e não participou de nada. Quando o prefeito [João Rodrigues, do DEM, ex-PFL] se envolveu, tudo mudou", relata o cartola.
Segundo ele, o poder de persuasão da prefeitura foi vital para seu clube obter patrocínios -a Chapecoense tem uma receita de R$ 90 mil mensais. "Prefeito tem um poder de barganha forte. Por exemplo, tem a empresa que instala lombadas eletrônicas pela cidade. Aí perguntam para eles: "Você vai ajudar a Chapecoense, não?"."
No Paranavaí, que hoje disputa com o Coritiba uma vaga na final do Parananese (venceu o primeiro jogo por 3 a 2), a ajuda estatal não é escancarada.
Mas o site oficial da prefeitura registra assuntos do clube tratados no gabinete do mandatário da cidade, como a negociação de uma parceria entre o clube e o Paraná. "O convênio do município é com a equipe de juniores. Não tenho o valor exato na mão de quanto gastamos", explica Mauricio Yamakawa, o prefeito de Paranavaí.

"Plano terreno"
Em Minas Gerais, o Tupi de Juiz de Fora arrumou um mecenas da iniciativa privada (Omar Peres, dono de um grupo que inclui a retransmissora da Globo na região). Os executivos desse grupo não mostram muito entusiasmo com o projeto que tirou o clube da segunda divisão para as semifinais do Estadual -disputa hoje vaga na decisão contra o Cruzeiro.
"Entramos com 50%, e o parceiro, a MRS (transporte ferroviário), com a outra metade. O custo hoje do time é de R$ 200 mil mensais, fora o que já foi investido. Temos participação em jogadores, mas isso só funciona com Ronaldinho. No plano terreno, a história é diferente", diz Antônio Braga, o diretor geral do grupo de Peres, que ganhou projeção ao tentar contratar Romário no ano passado.
"Fizemos a montagem do planejamento achando que pelo menos iríamos ficar no zero. Achávamos que, com a imagem da TV, venda de ingressos e agregando novos parceiros, iria dar, mas metade aconteceu e a outra metade não", lamenta.
No Ceará, Icasa e Itapipoca, os dois pequenos nas semifinais do campeonato, têm as prefeituras de suas cidades como principais investidores, assim como a Cabofriense no Rio.


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