São Paulo, domingo, 22 de abril de 2007

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Brasil forja maior saltador do mundo

Treinando no país, panamenho Irving Saladino é o único líder do ranking global do atletismo confirmado no Pan-2007

Em dois anos orientado por treinador brasileiro, atleta tornou-se líder no salto em distância e superou em 44 cm sua melhor marca


Raimundo Pacco/Folha Imagem
O panamenho Irving Saladino, que lidera o ranking mundial, salta em treino em São Paulo

RODRIGO MATTOS
DA REPORTAGEM LOCAL

Óculos escuros, movimentos medidos, um negro magro e levemente musculoso pouco se distingue de outros atletas ao chegar ao Centro Desportivo do Ibirapuera. Carrega seu próprio material esportivo, brinca com colegas e ouve instruções de seu técnico antes de entrar lentamente na pista local.
É lá que o saltador panamenho Irving Saladino mostra-se diferente dos outros, a maioria de brasileiros. Seus saltos são mais altos e mais longos. E faz menos esforço para executá-los -nem tira os óculos.
Quando tenta sua performance máxima, Saladino salta tão alto quanto o recordista mundial de sua modalidade, Mike Powell (um ângulo de saída do chão de 24º). E, pelo menos nos cerca de 50 m até o salto, é mais rápido do que o recordista mundial dos 100 m (11 m/s contra 10,24 m/s do velocista jamaicano Asafa Powel).
Esses números foram obtidos após cerca de dois anos treinando no Brasil, com dois intervalos. Ao chegar ao país, em novembro de 2004, atingia 8,12 m em seu salto.
Hoje, domina a modalidade há quase um ano: é líder do ranking mundial e ganhou 16 de 18 meetings internacionais. E já alcançou a marca de 8,56 m.
Será na condição de primeiro do mundo que disputará o Pan: deve ser o único no atletismo. Afinal, norte-americanos e jamaicanos, que são líderes em outras modalidades, devem dar preferência ao meeting de Mônaco, um dos mais rentáveis, que ocorrerá na mesma época.
"No Panamá, dão mais importância ao Pan, em que se representa o país. Uma medalha de ouro será importante para a nação", explica Saladino.
Sua meta seguinte será o recorde mundial -está a 39 cm da marca. "Me sinto capaz de fazer isso ainda neste ano. Estou ansioso", conta o atleta. Controlar sua ambição é trabalho do técnico brasileiro Nélio Moura, especialista em saltos da equipe brasileira. "Fiz umas contas e acho que ele chega próximo ao recorde em 2008."
Mas Moura admite que o panamenho o surpreendeu na evolução de 2005 para 2006.
Seu crescimento no Brasil deve-se ao aprimoramento de sua técnica de salto, obtido com novos treinos e o uso de equipamentos com chancela da Iaaf, a federação internacional de atletismo. No Panamá, a caixa de areia para salto enchia d'água, e não havia drenagem.
Com isso, evoluiu, principalmente, no momento do salto. Para isso, treinou mais a força reativa do que a explosiva. Tradução: a prioridade é que o atleta obtenha grande força no pequeno período em que é dado o salto (dez centésimos) em vez de procurar aumentar sua força em todo o processo.
"Lá fora, os estrangeiros treinam mais a hipertrofia muscular dos atletas", explica Moura. Longe do aspecto físico de velocistas, com seu excesso de músculos, Saladino, 24, tem 72 kg distribuídos em 1,82 m.
O próximo passo para o panamenho é aprimorar seu vôo, momento em que o saltador fica no ar. Para isso, o técnico brasileiro tenta ensiná-lo como desacelerar seus movimentos nessa etapa. "Ele já me falou que faço as coisas muito rápido", reconhece o atleta.
Com menos velocidade no ar, sua queda será retardada, e o alcance de seu salto aumentará. Para isso, Moura tenta mudar seu movimento de pernas -são as passadas no ar dadas pelos atletas. Saladino está a alguns passos do topo da história.


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