São Paulo, quarta-feira, 22 de maio de 2002

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Rival de sábado é craque em sepak takraw, mistura de vôlei e futevôlei

O futebol em que a Malásia é potência

Juca Varella/Folha Imagem
Jogadores da seleção malaia durante treino da equipe, que se prepara para os Jogos Asiáticos


FÁBIO VICTOR
JOSÉ ALBERTO BOMBIG
SÉRGIO RANGEL
ENVIADOS ESPECIAIS A KUALA LUMPUR

O amistoso entre Malásia e Brasil, no próximo sábado, em Kuala Lumpur, será um confronto de duas potências mundiais quando o assunto é bola no pé.
No caso brasileiro, a bola é de couro, tem uma circunferência aproximada de 70 centímetros e pesa cerca de 450 gramas -o esporte, óbvio, é o futebol.
Do lado malaio, a esfera é de plástico sintético, além de bem menor e mais leve (42 cm e 170 g). Com ela é praticado o sepak takraw, modalidade que funde características de vôlei e futevôlei e é praticada com malabarismos inspirados em uma arte marcial do país asiático, o silat.
Inventado na Malásia no início do século 16, como entretenimento, o sepak takraw só virou esporte em 1956. Até 1994, a bola usada era feita de tiras de bambu, a mesma usada desde os primórdios.
Esporte mais tradicional do país, o sepak takraw hoje é apenas o terceiro no gosto popular -foi superado pelo futebol, o mais apreciado, e pelo badminton.
Mas, pelo menos nesse caso, a popularidade não corresponde à competência. Se com a bolinha sintética os malaios são autoridade, dividindo com os tailandeses a hegemonia do esporte, com a bola de couro eles são um fiasco.
A Malásia é apenas a 112ª colocada no ranking da Fifa, no qual o Brasil ocupa a segunda posição, empatado com a Argentina.
De acordo com essa classificação -que, apesar de utilizar alguns critérios questionáveis, é único parâmetro oficial para medir o poderio das 203 seleções associadas à entidade que organiza o futebol mundial-, os malaios serão os adversários mais frágeis que a seleção brasileira enfrentou nos últimos anos.
"O sepak takraw é o nosso jogo, é aquele em que nos destacamos diante do mundo. Para praticá-lo é preciso mais cuidado e mais técnica que o futebol, pois se joga no ar", afirmou ontem à Folha o técnico da seleção malaia da modalidade, Suaid Osman, 64, durante treino preparatório da equipe para os Jogos Asiáticos, que acontecem entre setembro e outubro, em Busan, na Coréia do Sul.
"Todos gostam do sepak takraw porque é o esporte identificado com a nossa cultura e nossos heróis, como Hang Tuah [guerreiro malaio que teria sido um dos primeiros praticantes do jogo"", completou Firdaus Ghani, 24, o craque da seleção.
Principal finalizador malaio da atualidade -um trio do esporte é composto por um jogador atrás e dois nas laterais da quadra-, Firdaus, questionado se não poderia se transferir para o futebol, para ajudar o país a melhorar sua pífia situação, disse que não pensa tão cedo na hipótese.
"Gosto de futebol, mas só penso em praticá-lo depois dos 28 anos, depois que ajudar meu país a conquistar mais títulos no takraw."
Ante o comentário de que Romário, por ser um bom jogador de futevôlei, poderia gostar da modalidade malaia, por causa das semelhanças, Firdaus diz que admira o atacante vascaíno ("Ele tem uma habilidade perfeita"), mas que jamais o viu praticar a fusão praiana de futebol e vôlei.
Quem já viu Romário na areia, como o coordenador da seleção malaia de takraw, Hazani Hashim, 39, ficou impressionado. "Foi só pela TV, mas deu para notar que ele tem uma técnica admirável. No futebol, é muito oportunista, deveria estar na seleção brasileira, mas li que ele aborreceu Scolari porque se recusou a ir à Copa América", afirmou Hashim, demonstrando estar bem informado sobre o futebol brasileiro.
O dirigente é um dos incentivadores da campanha que, para tornar o sepak takraw mais conhecido no mundo, pleiteia a sua transformação em esporte olímpico, com o nome ocidentalizado de "acrobatic volley".
A solicitação, alimentada por lobby de políticos dos países asiáticos que disputam a modalidade, continua sendo rejeitada pelo COI, um dos motivos que explicam a condição de semiprofissionalismo vivida pelo takraw.
Enquanto a mudança não vem, a disputa se resume basicamente a países do sudeste asiático, principalmente Malásia, Tailândia e Indonésia.
Hashim relata que, até 95, os malaios eram os "papões" da modalidade. "Mas a federação internacional é controlada pela Tailândia, que em 95 mudou as regras do jogo para poder se beneficiar."
A alteração mais prejudicial aos malaios, segundo ele, foi a que permitiu chutar a bola com qualquer parte do pé -até então era permitido somente o uso da parte interna.
Nos últimos Sea (South East Asian) Games, a Tailândia ganhou o título principal, da categoria jogada com três times por partida, e a Malásia venceu no regu, a série disputada por times de três atletas durante o jogo inteiro.
Fora da Ásia, a maior força são os EUA, mas os norte-americanos foram derrotados pelo Brasil na final da terceira divisão da ISA Cup, espécie de Mundial do esporte, em 2000, na Malásia.
A seleção brasileira foi formada somente por jogadores pernambucanos, todos praticantes de futevôlei. No Recife está a sede da Associação Brasileira de Takraw, nome com se pretende difundir o esporte no país.
O criador da entidade é o arquiteto Hilário Nóbrega, que, durante viagem a Bali (Indonésia), em 1989, se encantou ao avistar uma pelada de sepak takraw.



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