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Rival de sábado é craque em sepak takraw, mistura de vôlei e futevôlei
O futebol em que a Malásia é potência
Juca Varella/Folha Imagem
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Jogadores da seleção malaia durante treino da equipe, que se prepara para os Jogos Asiáticos |
FÁBIO VICTOR
JOSÉ ALBERTO BOMBIG
SÉRGIO RANGEL
ENVIADOS ESPECIAIS A KUALA LUMPUR
O amistoso entre Malásia e Brasil, no próximo sábado, em Kuala
Lumpur, será um confronto de
duas potências mundiais quando
o assunto é bola no pé.
No caso brasileiro, a bola é de
couro, tem uma circunferência
aproximada de 70 centímetros e
pesa cerca de 450 gramas -o esporte, óbvio, é o futebol.
Do lado malaio, a esfera é de
plástico sintético, além de bem
menor e mais leve (42 cm e 170 g).
Com ela é praticado o sepak takraw, modalidade que funde características de vôlei e futevôlei e é
praticada com malabarismos inspirados em uma arte marcial do
país asiático, o silat.
Inventado na Malásia no início
do século 16, como entretenimento, o sepak takraw só virou esporte em 1956. Até 1994, a bola usada
era feita de tiras de bambu, a mesma usada desde os primórdios.
Esporte mais tradicional do
país, o sepak takraw hoje é apenas
o terceiro no gosto popular -foi
superado pelo futebol, o mais
apreciado, e pelo badminton.
Mas, pelo menos nesse caso, a
popularidade não corresponde à
competência. Se com a bolinha
sintética os malaios são autoridade, dividindo com os tailandeses a
hegemonia do esporte, com a bola
de couro eles são um fiasco.
A Malásia é apenas a 112ª colocada no ranking da Fifa, no qual o
Brasil ocupa a segunda posição,
empatado com a Argentina.
De acordo com essa classificação -que, apesar de utilizar alguns critérios questionáveis, é
único parâmetro oficial para medir o poderio das 203 seleções associadas à entidade que organiza
o futebol mundial-, os malaios
serão os adversários mais frágeis
que a seleção brasileira enfrentou
nos últimos anos.
"O sepak takraw é o nosso jogo,
é aquele em que nos destacamos
diante do mundo. Para praticá-lo
é preciso mais cuidado e mais técnica que o futebol, pois se joga no
ar", afirmou ontem à Folha o técnico da seleção malaia da modalidade, Suaid Osman, 64, durante
treino preparatório da equipe para os Jogos Asiáticos, que acontecem entre setembro e outubro,
em Busan, na Coréia do Sul.
"Todos gostam do sepak takraw
porque é o esporte identificado
com a nossa cultura e nossos heróis, como Hang Tuah [guerreiro
malaio que teria sido um dos primeiros praticantes do jogo"",
completou Firdaus Ghani, 24, o
craque da seleção.
Principal finalizador malaio da
atualidade -um trio do esporte é
composto por um jogador atrás e
dois nas laterais da quadra-, Firdaus, questionado se não poderia
se transferir para o futebol, para
ajudar o país a melhorar sua pífia
situação, disse que não pensa tão
cedo na hipótese.
"Gosto de futebol, mas só penso
em praticá-lo depois dos 28 anos,
depois que ajudar meu país a conquistar mais títulos no takraw."
Ante o comentário de que Romário, por ser um bom jogador
de futevôlei, poderia gostar da
modalidade malaia, por causa das
semelhanças, Firdaus diz que admira o atacante vascaíno ("Ele
tem uma habilidade perfeita"),
mas que jamais o viu praticar a fusão praiana de futebol e vôlei.
Quem já viu Romário na areia,
como o coordenador da seleção
malaia de takraw, Hazani Hashim, 39, ficou impressionado.
"Foi só pela TV, mas deu para notar que ele tem uma técnica admirável. No futebol, é muito oportunista, deveria estar na seleção brasileira, mas li que ele aborreceu
Scolari porque se recusou a ir à
Copa América", afirmou Hashim,
demonstrando estar bem informado sobre o futebol brasileiro.
O dirigente é um dos incentivadores da campanha que, para tornar o sepak takraw mais conhecido no mundo, pleiteia a sua transformação em esporte olímpico,
com o nome ocidentalizado de
"acrobatic volley".
A solicitação, alimentada por
lobby de políticos dos países asiáticos que disputam a modalidade,
continua sendo rejeitada pelo
COI, um dos motivos que explicam a condição de semiprofissionalismo vivida pelo takraw.
Enquanto a mudança não vem,
a disputa se resume basicamente
a países do sudeste asiático, principalmente Malásia, Tailândia e
Indonésia.
Hashim relata que, até 95, os
malaios eram os "papões" da modalidade. "Mas a federação internacional é controlada pela Tailândia, que em 95 mudou as regras
do jogo para poder se beneficiar."
A alteração mais prejudicial aos
malaios, segundo ele, foi a que
permitiu chutar a bola com qualquer parte do pé -até então era
permitido somente o uso da parte
interna.
Nos últimos Sea (South East
Asian) Games, a Tailândia ganhou o título principal, da categoria jogada com três times por partida, e a Malásia venceu no regu, a
série disputada por times de três
atletas durante o jogo inteiro.
Fora da Ásia, a maior força são
os EUA, mas os norte-americanos
foram derrotados pelo Brasil na
final da terceira divisão da ISA
Cup, espécie de Mundial do esporte, em 2000, na Malásia.
A seleção brasileira foi formada
somente por jogadores pernambucanos, todos praticantes de futevôlei. No Recife está a sede da
Associação Brasileira de Takraw,
nome com se pretende difundir o
esporte no país.
O criador da entidade é o arquiteto Hilário Nóbrega, que, durante viagem a Bali (Indonésia), em
1989, se encantou ao avistar uma
pelada de sepak takraw.
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