São Paulo, domingo, 22 de maio de 2005

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Com meta de ampliar a fatia de medalhas no Rio-07, COB, federações e clubes desviam talentos para modalidades em que o país engatinha

Pan alimenta atleta-camaleão

Eduardo Knapp/Folha Imagem
A ex-ginasta Karla da Silva, 20, exibe na pista do Ibirapuera o equipamento que usa no salto com vara


MARIANA LAJOLO
DA REPORTAGEM LOCAL

A ordem é jogar de acordo com a tabela. Para ampliar os tentáculos do Brasil no quadro de medalhas dos Jogos Pan-Americanos de 2007, Comitê Olímpico Brasileiro, confederações e clubes iniciaram uma caça a talentos para preencher as deficiências do país, que, por ser anfitrião do evento, disputará todos os esportes.
E, nessa empreitada, descobriram que muitas vezes vale mais a pena "roubar" um atleta.
Muitas promessas para a próxima edição dos Jogos não tinham intenção de praticar a modalidade em que despontam hoje.
Alguns desses atletas caíram na nova seara por acaso. Não viam futuro em seus esportes de origem e acabaram apresentados a um desafio. Outros entraram em um esquema que visa "readequar" talentos daqueles que talvez não alcançassem bons resultados.
Os casos pipocam em vários esportes. Duas das principais levantadoras de peso do país se encaixam nesse quadro.
Aline Campeiro tinha dúvidas sobre a possibilidade de deslanchar nos 100 m rasos e chegou a ficar afastada do esporte.
Sua colega Liliane Meneses ainda não abandonou de vez o arremesso de martelo por causa da possibilidade de ganhar uma bolsa de estudos. Entre uma e outra, disputa competições de bobsled.
Elas já preenchem uma lacuna importante na tabela do Pan. O levantamento de peso distribuiu 45 medalhas em Santo Domingo-2003 e é um esporte no qual o Brasil não tem tradição.
À frente do levantamento de peso, só atletismo, natação, luta, ciclismo e tiro distribuem mais medalhas em Pan-Americanos. E estão na lista de prioridades.
"Existe uma integração, pois muitas vezes o atleta necessita do fundamento de treino de outra modalidade", diz José Roberto Perillier, gerente-geral do Departamento Técnico do COB. "Por exemplo, estamos adequando ao pentatlo moderno atletas do triatlo que não entraram para o grupo de elite. O mesmo acontece com o judô: estamos levando para a luta olímpica aqueles que não estão ranqueados entre os oito melhores de cada categoria."
Esporte que mais distribui medalhas no Pan -foram 128 em Santo Domingo-, o atletismo também tem "roubado" talentos.
Ginastas que não chegariam a lutar por pódio nas competições de elite, como Karla da Silva, estão se adaptando ao salto com vara. E já colhem bons resultados.
"A idéia é potencializar o talento esportivo. Se o atleta não dá certo em uma modalidade, vai para outra. Temos casos de atletas do basquete e do handebol que estão arremessando martelo, gente da esgrima que foi para o pentatlo", conta José Haroldo Loureiro Gomes, treinador-chefe da equipe da Sogipa e membro da comissão da Confederação Brasileira de Atletismo para o Pan do Rio.
Até modalidades em que é ínfima a distribuição de medalhas receberam migração, como o pentatlo, que premia apenas dois vencedores por Pan-Americano. Fábio Carrara, triatleta, está aprendendo a atirar, a praticar esgrima e a saltar a cavalo para desbravar o esporte. O mesmo fez Yane Marques, número um do país, ex-campeã brasileira de natação.

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