São Paulo, domingo, 22 de maio de 2011

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ENTREVISTA WALTER TORRE JR.

Eu me espanto com o custo dos outros estádios

EMPRESÁRIO DIZ QUE GOVERNO DEVERIA TER ÓRGÃO PARA GERIR AS OBRAS DA COPA-14 E DAR MAIS RESPONSABILIDADE A EMPREITEIRAS

EDUARDO OHATA
DO PAINEL FC
ROBERTO DIAS
EDITOR-ADJUNTO DE MERCADO

Em 55 anos de vida, o paulistano Walter Torre Jr. jamais foi ao estádio ver o Palmeiras jogar. Ainda assim, diz que é torcedor "roxo" do time e acrescenta: "Daqui em diante vou dar muito palpite nesse Palmeiras".
O empresário assume que um dia teve simpatia pelo Santos. Mas isso foi antes de ele investir em futebol. Antes de iniciar a construção da arena que substituirá o Parque Antarctica. Antes de dar seus bens como garantia no contrato com o Palmeiras.
Ele diz que a obra estará pronta em abril de 2013. E, com tanta indefinição nos estádios previstos para a Copa- -2014, faz campanha para receber o Mundial na arena de 45 mil lugares -menos que o exigido para a abertura.
O dono da WTorre acha que o governo deveria ter criado um órgão só para cuidar do Mundial, como fez para a Olimpíada.
E que deveria dar mais "responsabilidade" às empreiteiras envolvidas na Copa. "As construtoras ficam confortáveis, contratam e depois mexem no custo", afirmou em entrevista na manhã de quinta em seu escritório.

Folha - A gente corre o risco de estar construindo elefantes brancos?
Walter Torre Jr. - Com absoluta certeza. Uma arena em Manaus, Brasília, com 72 mil pessoas, o governo não deveria deixar fazer. Não há 5 ou 10 dias de Copa que justifiquem essas estruturas.


Por esse raciocínio, a gente não deveria fazer a Copa.
A Copa tem um peso na promoção do país fantástico. Agora, a Copa em 12 cidades é uma coisa que deveria ser discutida. É muito difícil hoje, mas o governo poderia ter segurado isso. Exigido que fosse em oito cidades. Concentrar o investimento. Eu acho que a Copa está cara.


Como o sr. explica que o orçamento da arena do Palmeiras seja até modesto se comparado aos dos outros estádios?
Eu não explico. Quem tem que explicar são os outros. A nossa arena está orçada em R$ 310 milhões -quando a gente fala que vai gastar R$ 350 milhões, lembrem que tenho que fazer R$ 48 milhões de serviço para o clube, nada a ver com a arena.
No decorrer da obra nós podemos vir a gastar de 10% a 15 % a mais? Podemos. É uma obra viva. Estão sempre aparecendo acessórios, vão melhorando a operação. Coisa que nas arenas contratadas jamais será colocado.
E o nosso custo da obra é integral. Lembre que o governo fez um incentivo para as arenas da Copa. Isso retira todos os impostos. Nos materiais, baixa entre 23% e 26%. O que vai dar um retorno no custo total -porque na mão de obra não tem- em torno de 12%, 13% da obra.
Na nossa, é tabela cheia. Quando falam que as outras custam R$ 1 bilhão, tem essa diferença. Eu me espanto com o custo dos outros.


Falta ousadia aos projetos dos outros estádios?
O nosso estádio é feito com bastante pensamento. Nos outros é um pouco diferente. Se fez um projeto que tinha uma fotografia bonita, mas eles não foram projetados. O projeto custa de 9% a 11% do total. Como estavam concorrendo, óbvio que ninguém gastou 10% do valor.
Tinha pouca coisa além de um esboço arquitetônico. É por isso que com certeza os preços precisarão mudar.

O sr. aceitaria participar do estádio do Corinthians?
Nem posso. Eu exigi por contrato que eu só faria o do Palmeiras. No futebol tem paixão. Você tem que estar sempre de um único lado.
O que o pessoal não conseguiu entender é que a gente, paulista, não pode não ter a Copa. Não podemos perder tudo para o Rio. Temos todos que ajudar. É importante entenderem que não ganho nada, pelo contrário, eu perco.


O sr. ganha isenção fiscal.
Isso é verdade. Mas na hora em que a gente cede ele [estádio] para a Copa, perdemos por cinco ou seis meses a operação dele. No momento em que eu pego o estádio para a Copa das Confederações, eu perco por um mês ou dois. Do ponto de vista de explorar a arena, não é bom negócio.
Estou pleiteando a isenção fiscal por um problema de isonomia, com ou sem Copa.


O sr. já fez o pedido?
Já. Eu não concordo que, por não participar da Copa, tenha que gastar mais do que meu vizinho a cinco quilômetros. O nosso estádio, ele tem um caráter de empreendimento público. Apesar de ser uma arena, ele é como se fosse uma praça. Tem o peso de uma área pública. Com uma única diferença boa para o Estado: está sendo financiada pela iniciativa privada.


Essa região já é bastante complicada do ponto de vista do trânsito. Que preparação vocês estão fazendo?
A arena já existia. Só que ela estava mal colocada. Não tinha estacionamento, condições de entrada e saída.
É como a história de Congonhas. Está lá há muito tempo. Depois o cara veio e fez um prédio. É Congonhas que incomoda o prédio? Devia ter tido uma lei de não deixar fazer o prédio do lado.
A arena trará uma grande valorização para a região. Isso é uma coisa que se chama assim: progresso. O progresso não tem lei que barre. Então você tem que conduzí-lo da melhor forma possível. É o que estamos fazendo. Estamos estudando a melhor forma de acesso.


Vai ser uma arena multiuso. Os moradores temem que o trânsito fique mais complicado durante mais tempo.
Não é verdade. Agora foi feito um projeto. Antes não havia infraestrutura para receber os eventuais shows. Agora tem lugar para parar, para receber o lixo, para ancorar o som, acústica para não incomodar o vizinho.


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