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FUTEBOL
Sempre a mesma coisa?
SONINHA
COLUNISTA DA FOLHA
Escrevo antes de saber qual
foi o resultado de Palmeiras e
Boca. Depois da eliminação do
Corinthians, vários palmeirenses
disseram que já nem importava
tanto ser campeão ou vice da Libertadores; o alívio de não terem
sido superados pelos arqui-rivais
já valia por uma taça. Mas depois
de chegar tão perto da possibilidade de levá-la para casa, e já um
pouco distantes daquela vitória
gloriosa, será que eles ainda pensam a mesma coisa?
Como já disse César Sampaio,
capitão do Palmeiras, "tranquilidade, um time só tem depois de
ser campeão. E mesmo assim, só
até a partida seguinte". Quanto
tempo irá durar a confiança nesse
time do Palmeiras?
As finais dos campeonatos do
Rio de Janeiro e de São Paulo estiveram desfalcadas de algumas de
suas maiores estrelas: Romário,
Edmundo, Athirson e França.
Mesmo assim, mobilizaram milhões pelo Brasil inteiro, nos estádios ou diante da TV, e até hoje as
camisas dos campeões são vistas
nas ruas em número muito maior
do que antes.
Segundo o raciocínio de que os
finalistas são sempre muito previsíveis e por isso o interesse do torcedor foi morrendo ao longo dos
anos, esses jogos não deveriam ter
entusiasmado muita gente.
Flamengo e Vasco, de novo? O
Santos vai morrer na praia outra
vez? O São Paulo vai chegar quase
lá, como nos últimos anos? Na
verdade, não importa que o enredo soe muito parecido com o do
ano passado.
Na nossa própria história, os capítulos são sempre repetitivos: temos romances/amores eternos/separações; trabalho/descanso; comer/ter fome/comer de novo...; inverno/verão; Natal/Carnaval.
Os ciclos, no fundo, são sempre
os mesmos. O que importa é viver
muito bem cada etapa.
Sem querer viajar demais na filosofia, acho que os estaduais podem continuar sendo interessantes para sempre. Precisam ser reformulados, mas não extintos.
Quando Pedrinho deu seus pulinhos com a bola no jogo em que o
Vasco venceu o Flamengo por 5 a
1, as opiniões foram mais divididas do que no episódio das embaixadas do Edílson no jogo contra o Palmeiras.
Um leitor reclamou: "Por que
agora tem tanta gente dizendo
que não foi por mal? Só porque é o
Pedrinho?". Sem falar nas circunstâncias, ligeiramente diferentes, ele tem razão: muitos foram compreensivos só porque era
o Pedrinho. Um jogador que inspira confiança, tem um perfil
mais modesto e parece, em geral,
mais correto do que o Edílson, notório provocador.
A mesma coisa acontece agora
com o episódio do doping do
Athirson. Esse é um jogador que
não costuma trazer problemas.
Em grande fase, com aplausos gerais, propostas milionárias e convocações para a seleção, ele ainda
parece contido, leal, discreto.
Enfim, por Athirson ter toda a
aparência de ser sensato, ponderado e honesto, a notícia do doping despertou mais questionamentos em relação ao exame do
que suspeitas quanto ao jogador.
Será que ele seria desonesto a
ponto de tomar algo que favorecesse o seu desempenho em campo? Minha dúvida, na verdade, é
outra: será que seria burro de por
a carreira em risco no melhor momento? Ou desinformado e ingênuo para acreditar, por exemplo,
que a substância proibida não
apareceria no exame, ou que ele
não seria sorteado?
Algumas pessoas já discutem há
um bom tempo os critérios do que
seja doping. Será que uma medida exata da presença de determinada substância no sangue significa, incontestavelmente, que o jogador tenha jogado dopado? (Essa pergunta eu faria em relação a
qualquer atleta, mesmo um dos
menos ""confiáveis"!)
Ouço, no ""Jornal Nacional", que
""está sendo votada no Congresso
a lei que impede a manipulação
de resultados no futebol". É lógico
que eles estavam se referindo à
proibição legal para que uma
única empresa controle o futebol
de dois ou mais clubes.
O texto sugere duas coisas: que
uma empresa que se associe a
dois clubes está pretendendo manipular resultados, e por isso deve
ser impedida. E que com essa única medida pode-se evitar todo tipo de manipulação.
Curioso é a Rede Globo sugerir
que o poder econômico e a formação de cartéis ligados ao esporte
possam trazer vantagens indevidas e gerar competição desleal...
Devem ser criados mecanismos
de todos os tipos para impedir
manipulações e fraudes, é lógico.
Mas eu ainda acho que, se admitimos que interesses financeiros
podem modificar resultados ilicitamente, o fato de um time ser rico e poderoso (com a sua parceira
exclusiva) e o outro ser pobre e pequeno continua sendo um problema sério.
E-mail
soninha.folha@uol.com.br
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