São Paulo, quinta-feira, 22 de junho de 2000


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FUTEBOL
Sempre a mesma coisa?

SONINHA
COLUNISTA DA FOLHA

Escrevo antes de saber qual foi o resultado de Palmeiras e Boca. Depois da eliminação do Corinthians, vários palmeirenses disseram que já nem importava tanto ser campeão ou vice da Libertadores; o alívio de não terem sido superados pelos arqui-rivais já valia por uma taça. Mas depois de chegar tão perto da possibilidade de levá-la para casa, e já um pouco distantes daquela vitória gloriosa, será que eles ainda pensam a mesma coisa?
Como já disse César Sampaio, capitão do Palmeiras, "tranquilidade, um time só tem depois de ser campeão. E mesmo assim, só até a partida seguinte". Quanto tempo irá durar a confiança nesse time do Palmeiras?

As finais dos campeonatos do Rio de Janeiro e de São Paulo estiveram desfalcadas de algumas de suas maiores estrelas: Romário, Edmundo, Athirson e França.
Mesmo assim, mobilizaram milhões pelo Brasil inteiro, nos estádios ou diante da TV, e até hoje as camisas dos campeões são vistas nas ruas em número muito maior do que antes.
Segundo o raciocínio de que os finalistas são sempre muito previsíveis e por isso o interesse do torcedor foi morrendo ao longo dos anos, esses jogos não deveriam ter entusiasmado muita gente.
Flamengo e Vasco, de novo? O Santos vai morrer na praia outra vez? O São Paulo vai chegar quase lá, como nos últimos anos? Na verdade, não importa que o enredo soe muito parecido com o do ano passado.
Na nossa própria história, os capítulos são sempre repetitivos: temos romances/amores eternos/separações; trabalho/descanso; comer/ter fome/comer de novo...; inverno/verão; Natal/Carnaval.
Os ciclos, no fundo, são sempre os mesmos. O que importa é viver muito bem cada etapa.
Sem querer viajar demais na filosofia, acho que os estaduais podem continuar sendo interessantes para sempre. Precisam ser reformulados, mas não extintos.

Quando Pedrinho deu seus pulinhos com a bola no jogo em que o Vasco venceu o Flamengo por 5 a 1, as opiniões foram mais divididas do que no episódio das embaixadas do Edílson no jogo contra o Palmeiras.
Um leitor reclamou: "Por que agora tem tanta gente dizendo que não foi por mal? Só porque é o Pedrinho?". Sem falar nas circunstâncias, ligeiramente diferentes, ele tem razão: muitos foram compreensivos só porque era o Pedrinho. Um jogador que inspira confiança, tem um perfil mais modesto e parece, em geral, mais correto do que o Edílson, notório provocador.
A mesma coisa acontece agora com o episódio do doping do Athirson. Esse é um jogador que não costuma trazer problemas. Em grande fase, com aplausos gerais, propostas milionárias e convocações para a seleção, ele ainda parece contido, leal, discreto.
Enfim, por Athirson ter toda a aparência de ser sensato, ponderado e honesto, a notícia do doping despertou mais questionamentos em relação ao exame do que suspeitas quanto ao jogador.
Será que ele seria desonesto a ponto de tomar algo que favorecesse o seu desempenho em campo? Minha dúvida, na verdade, é outra: será que seria burro de por a carreira em risco no melhor momento? Ou desinformado e ingênuo para acreditar, por exemplo, que a substância proibida não apareceria no exame, ou que ele não seria sorteado?
Algumas pessoas já discutem há um bom tempo os critérios do que seja doping. Será que uma medida exata da presença de determinada substância no sangue significa, incontestavelmente, que o jogador tenha jogado dopado? (Essa pergunta eu faria em relação a qualquer atleta, mesmo um dos menos ""confiáveis"!)

Ouço, no ""Jornal Nacional", que ""está sendo votada no Congresso a lei que impede a manipulação de resultados no futebol". É lógico que eles estavam se referindo à proibição legal para que uma única empresa controle o futebol de dois ou mais clubes.
O texto sugere duas coisas: que uma empresa que se associe a dois clubes está pretendendo manipular resultados, e por isso deve ser impedida. E que com essa única medida pode-se evitar todo tipo de manipulação.
Curioso é a Rede Globo sugerir que o poder econômico e a formação de cartéis ligados ao esporte possam trazer vantagens indevidas e gerar competição desleal...
Devem ser criados mecanismos de todos os tipos para impedir manipulações e fraudes, é lógico. Mas eu ainda acho que, se admitimos que interesses financeiros podem modificar resultados ilicitamente, o fato de um time ser rico e poderoso (com a sua parceira exclusiva) e o outro ser pobre e pequeno continua sendo um problema sério.
E-mail
soninha.folha@uol.com.br

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