São Paulo, sábado, 22 de junho de 2002

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MOTOR

Que sono!

JOSÉ HENRIQUE MARIANTE
EDITOR-ADJUNTO DE ESPORTE

Esqueça a F-1, é muito chato. Ainda mais perto da Copa mais legal dos últimos tempos.
Se o leitor não concorda, o teste pode ser (ou poderia ser, se o sono acumulado de ontem permitir) a manhã de hoje, quando o treino oficial do GP da Europa vai acontecer excepcionalmente antes da partida entre o sensacional Senegal e a sobrevivente Turquia.
A coluna pode até ser obrigada a se retratar, mas a chance de assistirmos a uma classificação modorrenta é bem grande, basta lembrar o que vem acontecendo nesta temporada ferrarista.
Em compensação, meia hora depois da bandeira quadriculada é quase certo que um número bem maior de aparelhos de TV esteja ligado para outro show de Diouf e Fadiga, astros do time que dança depois de matar.
Grandes espetáculos esportivos podem ser traduzidos pela qualidade da disputa ou mesmo pela dos oponentes. A Copa Coréia/Japão coleciona resultados desiguais, zebras e surpresas, mas o que mais atrai até aqui é a absurda quantidade de disputa. É possível falar qualquer coisa de uma partida como Itália x Coréia, exceto que não houve disputa e, consequência direta, emoção.
Em compensação, é muito difícil afirmar que a F-1 está produzindo qualquer tipo de disputa decente nesta temporada. Contam-se alguns lampejos do segundo pelotão, uma ou outra dificuldade técnica da Ferrari e é só.
Nem mesmo uma corrida secundária entre McLaren e Williams se concretiza. Andam tão no limite que qualquer esforço fora do planejado compromete.
A única alternativa para a falta de concorrência seria a escuderia italiana se encarregar do show, mas nem isso é factível, dado que seu compromisso é apenas com um piloto. Pior, sua habilidade e equipamento estão a anos-luz do resto do grid. Não há hipótese.
Schumacher, em outros anos, contava com um carro inferior ou pelo menos parelho aos da concorrência. Este ano, de tão absoluto, prejudica. Faz lembrar aqueles dois anos chatíssimos da Williams, com Mansell e Prost empurrados pela mais fina eletrônica ativa. Sem falar que naquela época existia um tal de Senna para fazer chover de vez em quando e lembrar o público de que a coisa poderia sim ser diferente.
Para piorar, o domínio de Schumacher parece cada vez mais longevo, nada indica que um sexto título seja algo improvável.
E não adianta apontar a crise mundial como justificativa para tantos problemas. Quando a TV exige que seu programa mude de horário, a razão é uma só: existe algo no ar que fatura mais.
Honestamente, não me lembro de qualquer treino ou corrida que tenha mudado de horário por exigência alheia. Lembro sim de Ecclestone ter dado de ombros quando os britânicos liderados por Damon Hill pediram para uma sessão de classificação ter seu horário alterado por causa do funeral da princesa Diana, evento que o mundo parou para assistir.
Não há solução imediata, a não ser quebrar outra perna de Schumacher ou proibir a Ferrari de usar uma das quatro rodas. O atual mecanismo da F-1 é refratário a qualquer tipo de novidade, surpresa e, indiretamente, à disputa, à concorrência, ao show.
E o curioso é que a categoria é muito mais bem administrada que o futebol. Talvez seja esse justamente o segredo. O que falta é um pouco de bagunça.

Le Mans
Outro show da Audi, recorde histórico para a trinca Frank Biela, Tom Kristensen e Emanuele Pirro, que conquistaram a terceira vitória em três anos. O que incomoda nestas provas de longa duração são essas "eras" provocadas por investimentos pesados de montadoras. É certo que o modelo R8 é um carro excepcional. Como foram os Peugeots de alguns anos atrás e os Porsche. Mas a verdade é que corre sozinho. Le Mans, nos últimos anos, é a síntese do esporte a motor. Ganha quem tiver mais dinheiro para torrar.

Barrichello
Dizem que Todt e Schumacher foram sabatinados por Ecclestone, ontem, em Nurburgring. Parece claro que o assunto foi a reunião da próxima semana, quando a FIA, também dizem, vai tirar a vitória de Zeltweg do alemão, surrupiada do companheiro brasileiro nos metros finais. Ou o encontro serviu apenas para afinar o discurso ou vem baixaria da grossa por aí. A conferir.

E-mail mariante@uol.com.br



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