|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Gaddafi, o filho, agora é do Perugia
PETER POPHAM
DO ""THE INDEPENDENT"
Dizem que ele queria comprar o
Liverpool, que sonhava em jogar
no Manchester. Em vista de dificuldades locais ligadas aos nomes
""Yvonne Fletcher" e ""Lockerbie",
esses sonhos não se realizaram.
No último domingo, porém,
um jovem, alto e elegante bilionário chamado Al Saadi Gaddafi estava em Roma apertando a mão
de Luciano Gaucci, e o Perugia ganhava um pedaço de história.
Gaucci é o dirigente que contratou o primeiro japonês a jogar na
Itália (Nakata), o primeiro coreano (Ahn), o primeiro chinês e o
primeiro iraniano. Possui talento
comprovado para tirar de desconhecidos qualidades que ninguém mais enxerga e, mais tarde,
vendê-los aos clubes mais ricos.
Desta vez, porém, se superou.
Para Al Saadi, a aposta é de alto
risco. Se fracassar, será exposto ao
ridículo, humilhado. Dono, diretor e jogador do Al Ittihad, já demitiu um treinador italiano que
teve a audácia de não escalá-lo.
No domingo, porém, foi humilde.
"Quero ser tratado como todos,
num clima de competição saudável." O futuro treinador foi diplomático. ""Não posso dar opinião.
Só o vi em ação uma vez. Mas já
sei que é inteligente e flexível."
Gaucci desviou-se das perguntas sobre quem pagou a quem e
quanto. ""Isso é secundário. Ele
veio para cá por causa da paixão."
Sob alguns aspectos, Al Saadi é
como outras descobertas exóticas
de Gaucci. Mas, aos 30 anos, está
um pouco além da idade de iniciar carreira na Itália. E é filho de
Muammar Gaddafi, ditador da
Líbia desde 1969, visto pelos EUA
como bicho-papão da categoria
de Saddam Hussein e Bin Laden.
Existem diferenças de opinião
quanto ao talento do meio-campista, mas ninguém discute seu
compromisso com o futebol. É
declaradamente louco pelo esporte, nutre ambições imensas para a
seleção de seu país e já fez mais do
que qualquer outra pessoa para
colocar o futebol líbio no mapa.
Até convenceu seu pai a anular a
proibição do esporte, que se tornou imensamente popular na Líbia e uma válvula de escape -há
duas temporadas, um burro
usando a camisa de Al Saadi foi
empurrado para o campo durante uma partida sob aplausos.
Seu sonho é abrigar a Copa de
2010. ""Não temos doenças, a segurança é de alto nível." Mas, se
Al Saadi quer que o mundo vá até
a Líbia, ele também é louco para
levar seu talento e dinheiro para o
mundo -por quê, ninguém sabe.
Sondava o futebol italiano há
anos. Sua iniciativa mais notável
até agora tinha sido aproveitar a
crise financeira da Fiat para comprar 7,5% da Juventus -hoje o
clube ostenta na camisa o nome
da petrolífera líbia, Tamoil.
Ao mergulhar de cabeça no Perugia, Al Saadi tenta algo muito
diferente. É a primeira vez que
aposta seu talento fora do país em
que a palavra de seu pai é lei.
Os treinos começam em julho.
Se se mostrar incapaz, o clube tem
a opção de mandá-lo embora até
setembro. Agora, no caso improvável de revelar-se, a pergunta
ainda fica no ar: para quê tudo isso? E por que papai concordou?
Uma pista para a resposta está
contida na observação que Gaucci
fez ao ""Il Messaggero" neste ano.
""Sou amigo de George Bush."
Nos últimos cinco ou seis anos o
regime de Muammar Gaddafi
vem saindo do frio -lentamente,
aos trancos e barrancos e de modo imprevisível, mas vem. A culpa
líbia pela morte da policial Yvonne Fletcher, em Londres, e pela
tragédia do avião que caiu sobre
Lockerbie foi reconhecida -parcialmente e a contragosto, mas
foi. Gaddafi vem tomando posição pró-EUA desde 11 de setembro, mas a retirada do país da lista
de ""Estados fora-da-lei" redigida
por Washington parece remota.
Assim, a alegada ""amizade estreita" de Gaucci deve ter chegado
aos ouvidos do coronel. E quem
mais indicado para informar seu
pai dela do que Al Saadi? Dá até
para imaginar a cena: ""Vá, meu filho. Vá, mas traga resultados".
Tradução de Clara Allain
Texto Anterior: Dirigente tenta dar dribles para esticar mandato Próximo Texto: Real das estrelas tenta hoje salvar temporada Índice
|