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São Paulo, domingo, 22 de junho de 2003

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FUTEBOL

Hábitos, costumes e manias

TOSTÃO
COLUNISTA DA FOLHA

Somos animais racionais, sociais, às vezes inteligentes e de hábitos, costumes e manias. Temos uma grande atração pela repetição. Isso não é bom. Mas é a maneira de nos protegermos contra a incerteza, o mistério e a finitude da vida.
Toda profissão tem o seu código, costumes e regras de comportamento e uma linguagem própria, que se repete. Porém cada um tem o seu hábito, sua mania, que nem sempre é copiada. No futebol é a mesma coisa.
Numa entrevista, Geninho falou muitas vezes sobre o Jorge e o Ricardo. Ele se referia a Jorge Wagner e a Ricardinho. Vários treinadores têm esse costume. Luxemburgo só chamava o Marcelinho de Marcelo. Não sei a razão.
Cada técnico tem um jeito de se vestir. O mais interessante é o do Antônio Lopes, com a sua calça de linho branca e a camisa amarela de linho de manga comprida. O carioca Paulo César Vasconcellos disse que ele parece diretor de harmonia da Escola de Samba Canarinhos da Laranjeira.
Tite só trabalhava no Grêmio com uma calça azul-marinho e uma camisa de manga comprida azul clara. Será que ele vai se vestir com as cores do seu próximo clube? Se a moda pegar, teremos camisas de todas as cores na lateral do campo. O futebol vai ficar mais colorido.
Luxemburgo passou a usar ternos e gravatas de grifes famosas e logo apareceu um sósia, o técnico Mauro Fernandes. A maioria dos técnicos prefere a roupa de treino dos clubes. É mais confortável.
O terno não pegou, mas alguns treinadores, para parecerem mais profissionais e competentes, copiaram o comportamento de Luxemburgo, com discurso empolado e o uso de palavras e expressões dos manuais de auto-ajuda.
A prancheta do Joel também não pegou. Ninguém sabe o que ele escreve na prancheta. Dizem que é só para impressionar, para parecer científico. Não acredito. O estranho técnico holandês Louis van Gaal também adora uma prancheta. Contam que ele colocou a prancheta de cabeça para baixo num jogo decisivo e trocou de posição os zagueiros e os atacantes. Deu certo.
Parreira cita sempre em entrevistas e palestras um famoso técnico do passado (não consegui guardar o nome), para quem um grande time precisa ter equilíbrio, saber atacar e defender. Grande descoberta. Alguns técnicos só falam em equilíbrio. Parece uma palavra mágica, chave do sucesso.
Quando uma pessoa tem um comportamento excessivamente normal e previsível, é chamada pela psicologia de normopata. É tão normal que se tornou anormal. Suspeito que alguns treinadores são tão equilibrados que se tornam desequilibrados.
Quase todos os treinadores têm as suas manias. A do Nelsinho é contratar volantes. O Flamengo tem vários, todos iguais.
Há inúmeras palavras e expressões que são repetidas pelos jogadores e técnicos. Elas vão e voltam. As da moda são atitude, pegada, grupo unido, espírito de equipe, jogo da minha vida, agarrar a chance e muitas outras.
A imprensa esportiva também tem seus costumes e manias. Além de muitas expressões conhecidas, é frequente analisar uma equipe e o trabalho de um técnico somente pelo resultado; dar importância excessiva a fatos sem nenhuma importância; confundir a função de informar e de opinar com a de protagonista, estrela do futebol.
Vou parar por aqui. Não vou contar também as minhas manias. São tantas.

Ganhou sem convencer
No jogo anterior, Camarões marcou muito bem e anulou o time brasileiro. A equipe africana parecia o São Caetano jogando contra os grandes, no Brasileiro.
Contra os EUA, o Brasil jogou um pouco melhor no primeiro tempo, não somente porque entrou Alex, mas, principalmente, porque a marcação dos EUA não foi tão boa quanto a de Camarões. Alex atuou na sua posição, e Ronaldinho, mais adiantado.
Após a fácil vitória contra a Nigéria, disseram até que não havia mais lugar para os craques do pentacampeonato. Depois de perder para Camarões, os novos jogadores foram duramente criticados. Ontem, as críticas foram menores porque o time ganhou.
É preciso acabar com essas opiniões esquizofrênicas, contrárias, após cada jogo. As atuações dos jogadores são analisadas a cada partida, mas as suas qualidades precisam ser avaliadas pela média de suas atuações durante um tempo maior.
E-mail tostao.folha@uol.com.br


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