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FUTEBOL
Hábitos, costumes e manias
TOSTÃO
COLUNISTA DA FOLHA
Somos animais racionais, sociais, às vezes inteligentes e de
hábitos, costumes e manias. Temos uma grande atração pela repetição. Isso não é bom. Mas é a
maneira de nos protegermos contra a incerteza, o mistério e a finitude da vida.
Toda profissão tem o seu código, costumes e regras de comportamento e uma linguagem própria, que se repete. Porém cada
um tem o seu hábito, sua mania,
que nem sempre é copiada. No futebol é a mesma coisa.
Numa entrevista, Geninho falou muitas vezes sobre o Jorge e o
Ricardo. Ele se referia a Jorge
Wagner e a Ricardinho. Vários
treinadores têm esse costume. Luxemburgo só chamava o Marcelinho de Marcelo. Não sei a razão.
Cada técnico tem um jeito de se
vestir. O mais interessante é o do
Antônio Lopes, com a sua calça
de linho branca e a camisa amarela de linho de manga comprida.
O carioca Paulo César Vasconcellos disse que ele parece diretor de
harmonia da Escola de Samba
Canarinhos da Laranjeira.
Tite só trabalhava no Grêmio
com uma calça azul-marinho e
uma camisa de manga comprida
azul clara. Será que ele vai se vestir com as cores do seu próximo
clube? Se a moda pegar, teremos
camisas de todas as cores na lateral do campo. O futebol vai ficar
mais colorido.
Luxemburgo passou a usar ternos e gravatas de grifes famosas e
logo apareceu um sósia, o técnico
Mauro Fernandes. A maioria dos
técnicos prefere a roupa de treino
dos clubes. É mais confortável.
O terno não pegou, mas alguns
treinadores, para parecerem mais
profissionais e competentes, copiaram o comportamento de Luxemburgo, com discurso empolado e o uso de palavras e expressões dos manuais de auto-ajuda.
A prancheta do Joel também
não pegou. Ninguém sabe o que
ele escreve na prancheta. Dizem
que é só para impressionar, para
parecer científico. Não acredito. O
estranho técnico holandês Louis
van Gaal também adora uma
prancheta. Contam que ele colocou a prancheta de cabeça para
baixo num jogo decisivo e trocou
de posição os zagueiros e os atacantes. Deu certo.
Parreira cita sempre em entrevistas e palestras um famoso técnico do passado (não consegui
guardar o nome), para quem um
grande time precisa ter equilíbrio,
saber atacar e defender. Grande
descoberta. Alguns técnicos só falam em equilíbrio. Parece uma
palavra mágica, chave do sucesso.
Quando uma pessoa tem um
comportamento excessivamente
normal e previsível, é chamada
pela psicologia de normopata. É
tão normal que se tornou anormal. Suspeito que alguns treinadores são tão equilibrados que se
tornam desequilibrados.
Quase todos os treinadores têm
as suas manias. A do Nelsinho é
contratar volantes. O Flamengo
tem vários, todos iguais.
Há inúmeras palavras e expressões que são repetidas pelos jogadores e técnicos. Elas vão e voltam. As da moda são atitude, pegada, grupo unido, espírito de
equipe, jogo da minha vida, agarrar a chance e muitas outras.
A imprensa esportiva também
tem seus costumes e manias.
Além de muitas expressões conhecidas, é frequente analisar uma
equipe e o trabalho de um técnico
somente pelo resultado; dar importância excessiva a fatos sem
nenhuma importância; confundir a função de informar e de opinar com a de protagonista, estrela
do futebol.
Vou parar por aqui. Não vou
contar também as minhas manias. São tantas.
Ganhou sem convencer
No jogo anterior, Camarões
marcou muito bem e anulou o time brasileiro. A equipe africana
parecia o São Caetano jogando
contra os grandes, no Brasileiro.
Contra os EUA, o Brasil jogou
um pouco melhor no primeiro
tempo, não somente porque entrou Alex, mas, principalmente,
porque a marcação dos EUA não
foi tão boa quanto a de Camarões. Alex atuou na sua posição, e
Ronaldinho, mais adiantado.
Após a fácil vitória contra a Nigéria, disseram até que não havia
mais lugar para os craques do
pentacampeonato. Depois de perder para Camarões, os novos jogadores foram duramente criticados. Ontem, as críticas foram menores porque o time ganhou.
É preciso acabar com essas opiniões esquizofrênicas, contrárias,
após cada jogo. As atuações dos
jogadores são analisadas a cada
partida, mas as suas qualidades
precisam ser avaliadas pela média de suas atuações durante um
tempo maior.
E-mail
tostao.folha@uol.com.br
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