São Paulo, quinta-feira, 22 de junho de 2006

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Pouco produtivo nos passes, Brasil emperra ataque

Seleção toca muito a bola, mas não consegue criar chances para marcar como os outros favoritos ao título do Mundial

Equipe nacional troca 22,5 passes para finalizar a gol, número bem maior que o da Inglaterra, que dá 16 passes antes de ameaçar meta rival


DOS ENVIADOS A DORTMUND

Não que seja pouco. Mas o grosso da concorrência que conta na Copa faz mais e melhor. E a síntese de um jogo de futebol, segundo Parreira, depõe contra a seleção brasileira.
O passe do Brasil no Mundial é "estéril" quando comparado com o dos times que se destacaram até agora. Na quantidade, segundo o Datafolha, a seleção é a quinta no fundamento, com 394 trocas de bola por jogo. Só que 3 dos 4 que estão na frente têm aproveitamento de 100% dos jogos e ainda um desempenho melhor até aqui do que o dos pentacampeões.
Espanha, Alemanha e Argentina, donos dos melhores ataques, são também, ao lado de Portugal, de Luiz Felipe Scolari (para muitos a antítese de Parreira), os recordistas no número de passes. Os espanhóis, por exemplo fazem 95 a mais do que os brasileiros por jogo.
Mas o passe do Brasil está longe de ser questão de quantidade. Até o fim da segunda rodada de todos os grupos, o Brasil era o único que superava os 90% de aproveitamento no fundamento, mas isso é mais questão de "ilusão de ótica".
O passe brasileiro não é capaz de criar muitas chances nem faz com que o time fique tanto com a bola que tenha sua meta pouco ameaçada. Além disso, só pegou rivais medianos, Croácia e Austrália.
De acordo com o Datafolha, o Brasil precisa trocar 22,5 passes para chutar a gol. Quase todas as seleções de ponta "enrolam" menos para finalizar.
A Inglaterra, por exemplo, precisa de 16 trocas de bola antes de ameaçar a meta rival.
Com Ronaldinho tocando muito na bola, mas longe do gol, o time é só décimo colocado no ranking de assistências (média de 4,5 por partida, contra 7,5 da Espanha, a melhor nisso).
Os próprios jogadores reconhecem que falta objetividade.
"Estamos chutando menos e podemos arriscar um pouco mais. Dou importância ao futebol objetivo, ainda mais porque tenho essa característica. Não sou de fazer gracinhas. O que interessa é o futebol mais direto", diz Kaká, um dos poucos do time que joga em direção ao gol.
Outros atacantes receitam ainda mais troca de passes.
"Temos de manter a posse de bola para não perdermos a concentração e aproveitarmos melhor as chances que criamos", defende Adriano. "Temos de ter paciência para encontrarmos os espaços", diz Ronaldo.
A dupla de ataque, de pouca mobilidade, já foi apontada por colegas de time, como Kaká e Emerson, como a maior culpada pelos problemas da seleção.
Mas não é só no ataque que o passe brasileiro se mostra pouco produtivo. Como toca menos a bola que outros favoritos ao título da Copa do Mundo, o Brasil é muito mais ameaçado, em outra falha básica de acordo com a cartilha de Parreira.
Até agora, o Brasil tem média de 13 finalizações sofridas por jogo. Uma enormidade quando comparada com as 6,7 da Alemanha e as 5,5 da Espanha. (EDUARDO ARRUDA, PAULO COBOS, RICARDO PERRONE E SÉRGIO RANGEL)


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