São Paulo, domingo, 22 de junho de 2008

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Poderio e verba dos EUA são questionados no COI

Partilha de receitas olímpicas opõe americanos a outros dirigentes do comitê

Foco da polêmica é acordo, celebrado há 20 anos, que dá aos EUA 75% da soma das receitas conjuntas de todos os demais países do comitê


DA REPORTAGEM LOCAL

Assim como ocorre na economia global, o poderio dos EUA começa a ser questionado dentro do mundo olímpico. Uma briga dentro do COI (Comitê Olímpico Internacional) opõe norte-americanos a dirigentes de outros países na entidade por conta da distribuição das receitas dos Jogos.
O centro da discórdia é o fato de o Usoc (Comitê Olímpico dos EUA) receber do COI, atualmente, montante em torno de três quartos do valor de todas os outras associações nacionais juntas. Isso é fruto de acordo realizado há 20 anos.
Mas dirigentes europeus alegam que, assim como ocorreu no mercado globalizado, os EUA perderam em representatividade no mundo olímpico nos últimos anos.
Em 1988, ano do acordo atual, as TV norte-americanas representavam 74,4% do total arrecadado com direitos de transmissão pelos Jogos Olímpicos. Até então, a fatia das emissoras do país sobre os Jogos era crescente desde 1960, quando começaram a ser vendidos os direitos de transmissão do evento multiesportivo.
Mas isso mudou nos anos seguintes. Os EUA contribuirão com pouco mais da metade do total amealhado pelo COI com as redes do mundo para os Jogos de Pequim, que começam em 8 de agosto.
O mesmo ocorreu no marketing. Antes, a totalidade dos patrocinadores principais era norte-americana. Agora, entre os parceiros figuram empresas como a Samsung (sul-coreana) e a Atos Origin (européia).
Isso levou os dirigentes europeus a questionarem o contrato atual. Segundo seus termos, 20% das receitas de marketing e 13% das taxas das TVs dos EUA são repassados ao Usoc.
Esse montante chegará a US$ 311 milhões no quadriênio de 2005 a 2008. O valor girava em torno de US$ 235 milhões para a Olimpíada anterior.
Naquele período, todos os outros Comitês Olímpicos Nacionais ganharam US$ 319 milhões das receitas totais.
"É uma imoral quantidade de dinheiro em relação ao que os outros ganham", afirmou o holandês Hein Verbruggen, membro do COI, após reunião da entidade no início deste ano.
Já Dennis Oswald, membro da executiva do comitê, escreveu carta aos colegas dizendo que, na realidade atual, não era mais "moralmente aceitável" o dinheiro recebido pelos EUA.
A declaração do suíço demonstra como explodiu o barril de pólvora dessa discussão, que se arrastava por quatro anos.
Tanto que foi formada uma comissão do COI para negociar com os norte-americanos uma redução de sua fatia, o que só valeria a partir de 2020.
Antes dessa data, os europeus desejam que, pelo menos, o Usoc pague taxas anuais para a manutenção da Wada (a agência mundial antidoping) e do CAS (tribunal esportivo). Há uma reunião marcada para bater o martelo sobre o assunto, em Pequim, durante a realização dos Jogos Olímpicos.
Embora admitam discutir o assunto, os norte-americanos não se mostram dispostos a reduzir sua fatia no bolo. E reclamam de seus adversários os chamarem de imorais.
"Nós já dissemos que vamos dividir mais se aumentarmos a torta", afirmou o presidente do Usoc, Peter Ueberroth. "Se mantivermos a torta parada ou diminuí-la, ficaremos discutindo pequenos percentuais. Isso não fará bem a ninguém. A torta pode ser dobrada."
A Folha procurou o COI e o Usoc para dar mais detalhes sobre o assunto, mas não recebeu respostas até o fechamento desta edição. (RODRIGO MATTOS)


Com agências internacionais


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