São Paulo, domingo, 22 de junho de 2008

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TOSTÃO

A fritura está quente


As declarações de Ricardo Teixeira e a ida de Ronaldinho ao Mineirão fazem parte da fritura do técnico Dunga

BRASIL E Argentina mostraram muitas de suas deficiências e poucas de suas virtudes. Confirmaram que estão piores do que as principais seleções da Europa. Piores, mais defensivas, mais previsíveis e com menos jogadores de talento. Está tudo trocado. O futebol endoidou.
Se tivesse ido ao estádio, ficaria ainda mais decepcionado com o jogo. Livrei-me também de alguns aborrecimentos.
A prática, freqüente em todo o Brasil, de convidar uma multidão de políticos e de pessoas famosas, muitas sem talento e sem nenhuma relação com o futebol, para ir aos jogos da seleção é uma demonstração, entre outras coisas, de breguice e de pobreza cultural.
No Mineirão, as grandes estrelas eram outras. O Skank deveria ter tocado mais tempo e diminuído a duração do jogo.
Pelé, garoto-propaganda da Copa de 2014, mostrou novamente sua enorme simpatia, talento e jogo de cintura para ficar bem com todos. Elogiou até Dunga.
Nesta semana, li a mais original definição do craque Pelé, dos gramados, escrita pelo professor de literatura, ensaísta, compositor e músico José Miguel Wisnik, no seu excepcional livro "Veneno e Remédio". Sintetizando, José Miguel Wisnik disse que Pelé jogava em altíssima velocidade, como se estivesse vendo a partida em câmera lenta, com mais tempo para pensar, enquanto os outros assistiam à partida em altíssima velocidade e jogavam em câmera lenta.
Uma outra atração no Mineirão foi o técnico José Mourinho. Ele foi mais endeusado do que merecia pelas televisões. Parecia até que José Mourinho reinventou o futebol. Ele é apenas um excelente técnico, como outros. Prefiro o Felipão.
Outra estrela no Mineirão foi Ronaldinho. Quando o vi, não acreditei. Pensei que fosse um sósia. Falaram tanto nos últimos meses de seus graves problemas físicos e emocionais e de seu longo sumiço que imaginei vê-lo internado em um hospital psiquiátrico ou ortopédico, ou que tivesse chutado o balde e se tornado um monge tibetano ou amigo do Bin Laden.
Nesse tempo, a comissão técnica da seleção e parte da imprensa trataram Ronaldinho como um jogador qualquer, em final de carreira, no nível de tantos que jogaram contra a Argentina. Só falavam na falta de Kaká. Ronaldinho virou agora solução, mesmo sem jogar há vários meses.
Como ninguém da comissão técnica nem da imprensa foi a Barcelona para saber exatamente o que acontecia com o Ronaldinho (daria ótimas reportagens), ele, surpreendentemente, apareceu no Mineirão para mostrar que está vivo, dizer que está curado e que quer jogar na Olimpíada.
No outro dia, tudo ficou mais claro. A ausência de Kaká, e talvez a de Robinho, na Olimpíada e as declarações de Ricardo Teixeira ao "Jornal Nacional" convocando Ronaldinho para ir a Pequim mostram que a fritura de Dunga começou antes do jogo contra a Argentina, já que o técnico nunca quis o jogador. O chefe é quem manda.
A CBF só espera agora o pedido de demissão do técnico para não dizer que ele foi demitido. Os pretendentes ao cargo já se preparam para entrar em campo.


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